São Paulo, quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

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Coro contra EUA marca fala de vizinhos

Ao contrário de Lula, que cobrou responsabilidade dos países do bloco, Chávez, Morales e Cristina criticaram atuação do país de Bush

Cristina Kirchner reafirma necessidade da entrada da Venezuela no Mercosul; Chávez abandona ameaças a colegas sobre adesão

DO ENVIADO A MONTEVIDÉU

O presidente Lula disse ontem que a responsabilidade pelos defeitos do Mercosul é de seus integrantes, e não dos Estados Unidos. O brasileiro, porém, foi voz isolada em meio aos ataques, velados ou não, de seus colegas Hugo Chávez (Venezuela), Evo Morales (Bolívia) e Cristina Kirchner (Argentina) ao país de George W. Bush.
Argentina e Venezuela promovem uma escalada verbal contra o governo dos EUA desde que veio à tona, há uma semana, a informação de que uma investigação da Justiça americana aponta que a mala com US$ 800 mil apreendida com um empresário, em agosto, em Buenos Aires, era uma suposta doação de campanha de Chávez a Cristina.
"Não temos que ser ingênuos, amigos e amigas presidentes. Muitas vezes vamos sofrer, como estamos sofrendo agora, interferências, para dizê-lo de algum modo generoso, em termos diplomáticos, dos que parecem que somente querem países empregados e subordinados e não entendem a política de amizade que mantêm os povos da América Latina", disse Cristina.
Antes, a argentina havia reafirmado a necessidade de que seja aprovado o pedido de adesão da Venezuela ao bloco e disse esperar que isso se concretize ainda durante sua presidência pro tempore, que vai até junho, quando Lula assume.
Cristina não poupou críticas também aos adversários internos. "Há uma espécie de cegueira cultural ao que nos é próprio, um desprezo pelo que é nosso e quase uma subordinação ao exterior", disse.
Antes da argentina, Chávez e Morales já haviam feito críticas aos EUA. O primeiro foi o venezuelano, que rebateu a tese de Lula de que a culpa pelos problemas do Mercosul era "exclusivamente" dos mandatários da região. "Se bem é certo que não podemos botar a culpa por nossas falhas só em fatores externos, não podemos ser ingênuos de não tomar consciência desses fatores. Há pressões que vêm de Washington, e eu estou obrigado a dizê-lo", afirmou.
Chávez reafirmou seu interesse em integrar o Mercosul, longe das ameaças que fizera de retirar o pedido de adesão ao bloco caso ele não fosse aprovado até setembro passado.
Depois do venezuelano, foi a vez de Morales voltar sua artilharia contra os EUA. Acusou esse país de fomentar a oposição contra o seu governo. "Há intromissão estrangeira que promove alguns grupos no meu país que não aceitam as mudanças. Só os pobres podem se dedicar aos pobres e há grupos que não aceitam isso", disse.
Quando Evo pronunciou a palavra "estrangeira", Chávez acrescentou "norte-americana". O boliviano assentiu.
Em seu discurso, o presidente do Paraguai, Nicanor Duarte, disse que os países do Mercosul avançam para que "caiam os muros da mesquinharia" dentro do bloco. Para ele, o Mercosul está agora "mais atlético e menos paquidérmico".
Michelle Bachelet (Chile) pediu ao Mercosul a criação de um grupo para iniciar negociações para liberar o comércio de serviços e regular as compras dos governos. (RODRIGO RÖTZSCH)


Com agências internacionais


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