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Coro contra EUA marca fala de vizinhos
Ao contrário de Lula, que cobrou responsabilidade dos países do bloco, Chávez, Morales e Cristina criticaram atuação do país de Bush
Cristina Kirchner reafirma necessidade da entrada da Venezuela no Mercosul; Chávez abandona ameaças a colegas sobre adesão
DO ENVIADO A MONTEVIDÉU
O presidente Lula disse ontem que a responsabilidade pelos defeitos do Mercosul é de
seus integrantes, e não dos Estados Unidos. O brasileiro, porém, foi voz isolada em meio
aos ataques, velados ou não, de
seus colegas Hugo Chávez (Venezuela), Evo Morales (Bolívia)
e Cristina Kirchner (Argentina) ao país de George W. Bush.
Argentina e Venezuela promovem uma escalada verbal
contra o governo dos EUA desde que veio à tona, há uma semana, a informação de que
uma investigação da Justiça
americana aponta que a mala
com US$ 800 mil apreendida
com um empresário, em agosto, em Buenos Aires, era uma
suposta doação de campanha
de Chávez a Cristina.
"Não temos que ser ingênuos, amigos e amigas presidentes. Muitas vezes vamos sofrer, como estamos sofrendo
agora, interferências, para dizê-lo de algum modo generoso,
em termos diplomáticos, dos
que parecem que somente querem países empregados e subordinados e não entendem a
política de amizade que mantêm os povos da América Latina", disse Cristina.
Antes, a argentina havia reafirmado a necessidade de que
seja aprovado o pedido de adesão da Venezuela ao bloco e disse esperar que isso se concretize ainda durante sua presidência pro tempore, que vai até junho, quando Lula assume.
Cristina não poupou críticas
também aos adversários internos. "Há uma espécie de cegueira cultural ao que nos é
próprio, um desprezo pelo que
é nosso e quase uma subordinação ao exterior", disse.
Antes da argentina, Chávez e
Morales já haviam feito críticas
aos EUA. O primeiro foi o venezuelano, que rebateu a tese de
Lula de que a culpa pelos problemas do Mercosul era "exclusivamente" dos mandatários da
região. "Se bem é certo que não
podemos botar a culpa por nossas falhas só em fatores externos, não podemos ser ingênuos
de não tomar consciência desses fatores. Há pressões que
vêm de Washington, e eu estou
obrigado a dizê-lo", afirmou.
Chávez reafirmou seu interesse em integrar o Mercosul,
longe das ameaças que fizera de
retirar o pedido de adesão ao
bloco caso ele não fosse aprovado até setembro passado.
Depois do venezuelano, foi a
vez de Morales voltar sua artilharia contra os EUA. Acusou
esse país de fomentar a oposição contra o seu governo. "Há
intromissão estrangeira que
promove alguns grupos no meu
país que não aceitam as mudanças. Só os pobres podem se
dedicar aos pobres e há grupos
que não aceitam isso", disse.
Quando Evo pronunciou a
palavra "estrangeira", Chávez
acrescentou "norte-americana". O boliviano assentiu.
Em seu discurso, o presidente do Paraguai, Nicanor Duarte,
disse que os países do Mercosul
avançam para que "caiam os
muros da mesquinharia" dentro do bloco. Para ele, o Mercosul está agora "mais atlético e
menos paquidérmico".
Michelle Bachelet (Chile) pediu ao Mercosul a criação de
um grupo para iniciar negociações para liberar o comércio de
serviços e regular as compras
dos governos.
(RODRIGO RÖTZSCH)
Com agências internacionais
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