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CASO SANTO ANDRÉ
Ministro da Casa Civil defendeu maior controle sobre o Ministério Público; Silveira Jr. vê totalitarismo
Procuradores divulgam notas contra Dirceu
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Conamp (Associação Nacional dos Membros do Ministério
Público) e o procurador-geral de
Justiça interino de São Paulo,
Herberto Magalhães da Silveira
Júnior, divulgaram ontem notas
públicas de repúdio às declarações do ministro José Dirceu (Casa Civil), que na sexta-feira passada defendeu maior controle sobre
a atividade de procuradores e
promotores.
Em ambas as notas, as críticas
de Dirceu são classificadas como
irritação do ministro por conta de
vazamentos de informações relacionadas à investigação do assassinato do prefeito Celso Daniel
(PT), morto em janeiro de 2002.
Anteontem, a Associação Nacional dos Procuradores da República também divulgou nota com
críticas a Dirceu.
Procurado pela Folha ontem,
Dirceu, por meio de sua assessoria, disse que não se manifestaria.
Interino como procurador-geral em São Paulo, Silveira Júnior
afirmou que o trabalho de investigação promovido por promotores apenas desperta a "ira dos totalitários e dos oligarcas". Disse
que o órgão não irá se dobrar aos
"poderosos do momento".
"Não se sabem as razões por
que setores do governo federal e
de um partido político [referindo-se ao PT], que não são objeto dessa investigação, têm se manifestado virulentamente contra as apurações que visam a desvendar os
autores do homicídio [de Celso
Daniel]", disse Silveira Júnior.
Na nota da Conamp, o presidente Marfan Martins Vieira afirmou que, "se eventuais abusos
ocorrerem pontualmente (...), tais
questões hão de ser tratadas de
forma oficial, utilizando-se os mecanismos de controle já existentes
no ordenamento jurídico".
Ainda segundo Vieira, a tentativa de silenciar o Ministério Público e a imprensa remeteria o país a
"tempos de pesadelo institucional
e de raquitismo democrático que
não mais podem ser sequer cogitados, tempos estes, a propósito,
dos quais sua excelência [Dirceu]
foi uma das maiores vítimas".
Ato
Na sexta-feira, em ato de desagravo ao deputado Luiz Eduardo
Greenhalgh (PT-SP), na sede da
OAB (Ordem dos Advogados do
Brasil) em São Paulo, Dirceu afirmou que a Constituição estaria
"sendo violada diariamente por
uma série de procedimentos ilegais do Ministério Público e de alguns órgãos de imprensa".
O ato foi organizado em razão
de reportagem publicada pela Folha em 23 de dezembro, na qual
Greenhalgh é acusado pelo preso
Rodolfo Oliveira, o Bozinho, para
que assumisse a autoria do assassinato de Daniel.
O presidente da Conamp disse à
Folha ter informações "do Palácio do Planalto" de que há uma
articulação no governo para aprovar no Congresso a chamada "Lei
da Mordaça", que tipifica como
crime o vazamento de informações sigilosas pelo Ministério Público, juízes e policiais.
"Ditadura"
O presidente da Amaerj (Associação dos Magistrados do Estado
do Rio de Janeiro), Luis Felipe Salomão, é a favor da criação de um
órgão central de controle das atividades da Justiça e do Ministério
Público. "A liberdade do que pode ser dito para a imprensa tem
que ser estabelecida pelo procurador, promotor ou juiz. Caso contrário, é o mesmo que censurar a
imprensa. Só na ditadura o juiz
podia falar somente nos autos."
A posição de Dirceu foi criticada pelo advogado Ives Gandra
Martins. "O cerceamento da liberdade de imprensa e o controle
de órgãos de investigação era o
que as ditaduras também faziam.
Como sei que Dirceu sempre foi
um democrata, espero que reveja
sua declaração", afirmou.
O advogado Antonio Cláudio
Mariz de Oliveira afirmou ser favorável à criação de uma lei que
controle excessos da imprensa e
do Ministério Público, desde que
isso não afete a atividade de jornalistas e de promotores. "Não vejo
isso como mordaça ou como censura. O que não se pode é execrar
publicamente alguém antes de
uma decisão judicial", afirmou.
O vice-líder do governo, deputado Professor Luizinho (PT-SP),
disse ontem que os integrantes do
Ministério Público "estão obrigados à legalidade como qualquer
cidadão. O Ministério Público
não pode vazar informações que
estão sob sigilo, isso não existe".
Colaboraram a Sucursal de Brasília, a Sucursal do Rio e Reportagem Local
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