São Paulo, sexta-feira, 20 de fevereiro de 2004

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SOMBRA NO PLANALTO

Lula, que teme repercussão do caso Waldomiro na economia, pede ação a ministros

Acuado, Planalto procura demonstrar normalidade

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu ordem aos ministros para manter e até acelerar a agenda normal de trabalho. Além de uma resposta política para tentar mostrar que o governo não está paralisado pelo caso Waldomiro Diniz, Lula busca evitar que a economia seja contaminada. Ele foi informado de que está vingando no mercado financeiro e no exterior a percepção de que o governo federal não sabe reagir à crise.
Em reunião anteontem no Palácio do Planalto, Lula disse que o governo não pode parar e decidiu que o ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça) será o "porta-voz" do caso Waldomiro Diniz.
Para demonstrar normalidade, Lula manteve a decisão de ir ontem a Uberaba (MG), onde inaugurou obra ao lado do ministro Anderson Adauto (Transportes), que pediu demissão. Já o ministro José Dirceu (Casa Civil) participou da reunião da Câmara de Comércio Exterior e mostrou descontração. Brincou com o general Jorge Armando Félix (Segurança Institucional), dizendo que ele teria de fazer "flexões" por ter chegado atrasado à reunião.
A razão para utilizar Thomaz Bastos como "porta-voz" objetiva tirar o caráter político da crise (Waldomiro foi homem de confiança de Dirceu) e dar a ela caráter mais policial. Há, por exemplo, sugestão nos bastidores do governo para uma eventual prisão do ex-assessor.
Uma foto dele algemado poderia transmitir à opinião pública a imagem de que Lula deseja uma apuração séria. Waldomiro apareceu em vídeo gravado em 2002 pedindo propina e contribuições eleitorais a um empresário do ramo de bingo. Na época, trabalhava no governo Benedita da Silva (PT-RJ). Em 2003, virou subchefe de Assuntos Parlamentares da Casa Civil, setor transferido em janeiro para a recém-criada Secretaria de Coordenação Política e Assuntos Institucionais.
Outra providência: como revelou em jantar anteontem com políticos, Dirceu foi orientado por Lula a não abrir a boca sobre o caso Waldomiro. Lula tampouco falou do episódio. O governo aguarda a passagem do recesso prolongado do Carnaval. O Senado, onde há pedido de CPI, volta a funcionar normalmente só em março. Assim, Lula ganha tempo para medir o impacto do caso.
Lula deve ter menos reuniões sobre crise no Palácio do Planalto e fazê-las mais no discreto Palácio do Alvorada, onde mora.

Homem-forte fraco
O Planalto sentiu o golpe, dizem políticos que estiveram com Lula e Dirceu nos últimos dias. O ministro da Casa Civil, "capitão" do time, como definiu Lula, foi atingido com um "tiro no peito" -expressão ouvida pela Folha no governo. Avalia-se que Dirceu não será mais o homem-forte que era. Mas, no quadro de hoje, Lula acha que deve mantê-lo no posto.
Lula decidiu abafar a CPI do caso Waldomiro, recorrendo aos senadores José Sarney (PMDB-AP) e Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), o que aumenta a dependência em relação aos antigos adversários e atuais aliados. O governo espera que a situação se acalme com o Carnaval e se torne administrável, salvando Dirceu.
Esse é o desejo de Lula, apesar de ser claro para ele e Dirceu, que já pôs o cargo à disposição, que fatos novos podem mudar seus planos. Dirceu pode ser afastado, temporária ou definitivamente, a depender da evolução do caso.
Lula assumiu a parte de estratégia política, pois o PT não tem respondido nem respeitado o comando do ministro Aldo Rebelo (Coordenação Política). Por ser filiado ao PC do B, petistas resistem a tê-lo como comandante -papel que Dirceu, atingido pelas denúncias e sem atribuição política desde a reforma ministerial, tem dificuldade para desempenhar.


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