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SOMBRA NO PLANALTO
Lula, que teme repercussão do caso Waldomiro na economia, pede ação a ministros
Acuado, Planalto procura demonstrar normalidade
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva deu ordem aos ministros para manter e até acelerar a agenda
normal de trabalho. Além de uma
resposta política para tentar mostrar que o governo não está paralisado pelo caso Waldomiro Diniz,
Lula busca evitar que a economia
seja contaminada. Ele foi informado de que está vingando no
mercado financeiro e no exterior
a percepção de que o governo federal não sabe reagir à crise.
Em reunião anteontem no Palácio do Planalto, Lula disse que o
governo não pode parar e decidiu
que o ministro Márcio Thomaz
Bastos (Justiça) será o "porta-voz" do caso Waldomiro Diniz.
Para demonstrar normalidade,
Lula manteve a decisão de ir ontem a Uberaba (MG), onde inaugurou obra ao lado do ministro
Anderson Adauto (Transportes),
que pediu demissão. Já o ministro
José Dirceu (Casa Civil) participou da reunião da Câmara de Comércio Exterior e mostrou descontração. Brincou com o general
Jorge Armando Félix (Segurança
Institucional), dizendo que ele teria de fazer "flexões" por ter chegado atrasado à reunião.
A razão para utilizar Thomaz
Bastos como "porta-voz" objetiva
tirar o caráter político da crise
(Waldomiro foi homem de confiança de Dirceu) e dar a ela caráter mais policial. Há, por exemplo, sugestão nos bastidores do
governo para uma eventual prisão do ex-assessor.
Uma foto dele algemado poderia transmitir à opinião pública a
imagem de que Lula deseja uma
apuração séria. Waldomiro apareceu em vídeo gravado em 2002
pedindo propina e contribuições
eleitorais a um empresário do ramo de bingo. Na época, trabalhava no governo Benedita da Silva
(PT-RJ). Em 2003, virou subchefe
de Assuntos Parlamentares da
Casa Civil, setor transferido em
janeiro para a recém-criada Secretaria de Coordenação Política e
Assuntos Institucionais.
Outra providência: como revelou em jantar anteontem com políticos, Dirceu foi orientado por
Lula a não abrir a boca sobre o caso Waldomiro. Lula tampouco falou do episódio. O governo aguarda a passagem do recesso prolongado do Carnaval. O Senado, onde há pedido de CPI, volta a funcionar normalmente só em março. Assim, Lula ganha tempo para
medir o impacto do caso.
Lula deve ter menos reuniões
sobre crise no Palácio do Planalto
e fazê-las mais no discreto Palácio
do Alvorada, onde mora.
Homem-forte fraco
O Planalto sentiu o golpe, dizem
políticos que estiveram com Lula
e Dirceu nos últimos dias. O ministro da Casa Civil, "capitão" do
time, como definiu Lula, foi atingido com um "tiro no peito"
-expressão ouvida pela Folha
no governo. Avalia-se que Dirceu
não será mais o homem-forte que
era. Mas, no quadro de hoje, Lula
acha que deve mantê-lo no posto.
Lula decidiu abafar a CPI do caso Waldomiro, recorrendo aos senadores José Sarney (PMDB-AP)
e Antonio Carlos Magalhães
(PFL-BA), o que aumenta a dependência em relação aos antigos
adversários e atuais aliados. O governo espera que a situação se
acalme com o Carnaval e se torne
administrável, salvando Dirceu.
Esse é o desejo de Lula, apesar
de ser claro para ele e Dirceu, que
já pôs o cargo à disposição, que fatos novos podem mudar seus planos. Dirceu pode ser afastado,
temporária ou definitivamente, a
depender da evolução do caso.
Lula assumiu a parte de estratégia política, pois o PT não tem respondido nem respeitado o comando do ministro Aldo Rebelo
(Coordenação Política). Por ser filiado ao PC do B, petistas resistem
a tê-lo como comandante -papel que Dirceu, atingido pelas denúncias e sem atribuição política
desde a reforma ministerial, tem
dificuldade para desempenhar.
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