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CASA SEVERINA
Eleição revela divisão interna do partido, que vê na conquista da Câmara chance de aumentar cacife para 2006
PP comemora ascensão de seu baixo clero
VERA MAGALHÃES
DO PAINEL, EM BRASÍLIA
PT e PMDB duelam para ter a
maior bancada na Câmara, mas é
um partido que chegou a ser dado
como em extinção que passa a dar
as cartas na Câmara com a eleição
de Severino Cavalcanti (PE) para
a presidência. O PP comemora a
ascensão do chamado baixo clero
ao comando do partido e da Casa.
A vitória de Severino mostra a
existência de dois grupos também
no PP. De um lado, os "intelectuais", como os próprios amigos
do presidente chamam Delfim
Netto (SP), Francisco Dornelles
(RJ) e Ricardo Barros (PR), os
dois últimos da ala que apoiou o
governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).
De outro, os mais próximos de
Severino, como o líder José Janene (PR), o companheiro Pedro
Corrêa (PE) e os legítimos representantes do baixo clero Ciro Nogueira (PI) e Benedito Dias (AP),
que coordenaram sua campanha.
São os últimos que deixam claro
que querem ter a primazia na proximidade com Severino, embora
os outros também estejam em
franco processo de aproximação
desde a vitória. Delfim, por exemplo, rapidamente foi alçado à condição de principal interlocutor do
novo presidente da Câmara com
o governo.
A iniciativa partiu antes do Planalto que de Severino, que confidencia a amigos que o ex-czar da
economia sempre o "desprezou".
Mas setores do governo acham
que o pernambucano precisará
recorrer a Delfim para formar
opinião sobre temas espinhosos,
como a autonomia do Banco
Central.
Há ainda os que vêem em Severino um passaporte para reaproximar o PP de antigos aliados. Ricardo Barros, que foi líder do governo FHC, só aderiu à campanha
nos últimos dias, mas procurou a
oposição com um discurso de
reaproximação. Lembrou que Severino é oposição ao PT em Pernambuco e que as alianças para
2006 estão longe de fechadas.
Esses deputados, alguns dos
poucos representantes da elite da
Câmara num grupo de similares a
Severino, serão referências para
um presidente que confia, mesmo, no seu grupo mais próximo.
É nesse meio que sobe a estrela
do presidente do PP, Pedro Corrêa, tido como "parceiro" do comandante da Câmara. Embora o
PP tenha passado a, ao menos publicamente, desdenhar a possibilidade de ter um ministério, há
quem advogue o nome de Corrêa
para a vaga que um dia seria de
Pedro Henry (MT), o antigo líder,
em baixa na nova configuração de
forças na Casa.
Em sentido inverso, quem galga
posições no xadrez do Legislativo
é o até ontem desconhecido segundo vice-presidente da Casa, o
piauiense Ciro Nogueira. Foi dele
a idéia de lançar Severino, é de sua
lavra o slogan "Uma Câmara para
todos" e saiu do seu bolso boa
parte da verba da campanha.
"O Severino é a figura mais querida do partido. Quando o PT lançou o [Luiz Eduardo] Greenhalgh, eu disse a ele: tem de ser
você", disse o deputado à Folha.
Severino voltou de Buenos Aires nos últimos dias de 2004 para
ser convencido a disputar a presidência. Tão logo anunciou a pretensão, passou a receber apelos
para desistir. Coube ao consultor
Mário Rosa a idéia de registrar em
cartório a determinação de não
voltar atrás.
Uma série de coincidências ajudou a impulsionar a campanha.
Por exemplo: Severino insistiu em
ter o apoio de Anthony Garotinho, mas não conseguiu. "Foi o
melhor que podia ter acontecido,
porque o Garotinho tirou votos
do Virgílio", diz Nogueira.
O fato de Severino ter sido excluído de um debate de rádio
também ajudou a criar um clima
de "preconceito" que, na avaliação do novo clero, granjeou muitos votos para o "azarão".
Severino só viajou uma vez durante a campanha. Em compensação, foi o primeiro a encher os
corredores da Câmara e até outdoors no aeroporto de Brasília de
propaganda. A coordenação de
campanha diz que a parafernália
não custou mais de R$ 70 mil, que
teriam saído de contribuições dos
apoiadores.
Após a vitória, todos no PP são
Severino desde pequenos. José Janene chegou a comprar briga durante uma reunião de líderes para
defender o presidente da Casa.
Lembra que, mesmo antes da
campanha, era em sua casa que
Severino almoçava duas vezes por
semana. O líder do PP diz que
"avisou" ao governo que não tinha como evitar o apoio maciço
ao rei do baixo clero.
Tanta euforia se justifica pela
proximidade de 2006. O PP vê na
conquista da Câmara a chance de
aumentar seu cacife. E começa
aos poucos a desembarcar da
aliança com Lula. "Não queremos
um ministério para ficar 10 meses.
Preferimos ficar independentes",
avisa Janene.
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