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Índios podem atacar as embarcações
da Agência Folha, em São Félix do
Araguaia e em Santa Terezinha (MT)
Índios das aldeias às margens
dos três rios da hidrovia (Tocantins, Araguaia e das Mortes)
ameaçam atacar as barcaças de
transporte de mercadorias caso o
projeto seja implementado.
A rejeição à hidrovia é unânime
nas seis aldeias visitadas na quarta-feira passada pela reportagem
da Agência Folha no trecho de rio
de 180 km entre São Félix do Araguaia e Santa Terezinha (MT).
Lideranças das aldeias Santa
Izabel do Morro, Fontoura, São
Domingos, Itxala, Tytemã (etnia
Karajá) e Tapirapé (etnia Tapirapé) cogitam bloquear o rio e
apreender e queimar embarcações. Segundo Dilma Berixa Karajá, 34, da aldeia São Domingos,
a decisão foi tomada no mês passado em reunião entre os líderes
das aldeias do Baixo Araguaia.
"Os brancos se reúnem e decidem por eles mesmos. Se é assim,
teremos de resolver com violência, por causa dessa falta de respeito. Acho que não é errado porque estamos lutando pela nossa
razão de viver, que é o rio", disse.
Os índios já arrancaram a
maioria das placas de sinalização
instaladas pela Ahitar (Administração da Hidrovia Tocantins-Araguaia) ao longo do rio.
"Não temos medo de conflito.
Nosso povo está preparado. É do
rio que tiramos os alimentos, e o
governo quer acabar com ele",
afirmou Nivaldo Korira'i Tapirapé, 26. Na área de influência da
hidrovia estão 11 diferentes povos
(Bororo, Javaé, Karajá, Karajá do
Norte, Tapirapé e Avá-canoeiro,
no rio Araguaia; Xavente, no rio
das Mortes; Xerente, Krikati,
Kraho e Apinajé, no Tocantins),
distribuídos em 30 terras indígenas.
Eles temem que o trânsito de
embarcações espante peixes e
tartarugas, que vazamentos de
combustível e explosões de rochas provoquem mortes de animais e que o agrotóxico aplicado
em plantações de soja nas margens envenene o rio.
"Infelizmente, pode haver confrontos. Vamos procurar negociar por todos os meios, mas, se
for preciso, vamos afundar as
barcas", disse Daniel Koxini Karajá, 52, chefe da aldeia Fontoura.
O vigário-geral da Prelazia de
São Félix do Araguaia, o espanhol
Felix Valenzuela Cervera, classifica como "genocídio" a passagem
de uma hidrovia ao lado de terras
indígenas.
"É matar um povo para produzir soja que a Europa vai comprar
a preço de banana. Se para o ribeirinho o Araguaia é importante, para o índio é uma questão de
vida ou morte", declarou.
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