São Paulo, segunda-feira, 20 de março de 2000


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Índios podem atacar as embarcações

da Agência Folha, em São Félix do
Araguaia e em Santa Terezinha (MT)

Índios das aldeias às margens dos três rios da hidrovia (Tocantins, Araguaia e das Mortes) ameaçam atacar as barcaças de transporte de mercadorias caso o projeto seja implementado.
A rejeição à hidrovia é unânime nas seis aldeias visitadas na quarta-feira passada pela reportagem da Agência Folha no trecho de rio de 180 km entre São Félix do Araguaia e Santa Terezinha (MT).
Lideranças das aldeias Santa Izabel do Morro, Fontoura, São Domingos, Itxala, Tytemã (etnia Karajá) e Tapirapé (etnia Tapirapé) cogitam bloquear o rio e apreender e queimar embarcações. Segundo Dilma Berixa Karajá, 34, da aldeia São Domingos, a decisão foi tomada no mês passado em reunião entre os líderes das aldeias do Baixo Araguaia.
"Os brancos se reúnem e decidem por eles mesmos. Se é assim, teremos de resolver com violência, por causa dessa falta de respeito. Acho que não é errado porque estamos lutando pela nossa razão de viver, que é o rio", disse.
Os índios já arrancaram a maioria das placas de sinalização instaladas pela Ahitar (Administração da Hidrovia Tocantins-Araguaia) ao longo do rio.
"Não temos medo de conflito. Nosso povo está preparado. É do rio que tiramos os alimentos, e o governo quer acabar com ele", afirmou Nivaldo Korira'i Tapirapé, 26. Na área de influência da hidrovia estão 11 diferentes povos (Bororo, Javaé, Karajá, Karajá do Norte, Tapirapé e Avá-canoeiro, no rio Araguaia; Xavente, no rio das Mortes; Xerente, Krikati, Kraho e Apinajé, no Tocantins), distribuídos em 30 terras indígenas.
Eles temem que o trânsito de embarcações espante peixes e tartarugas, que vazamentos de combustível e explosões de rochas provoquem mortes de animais e que o agrotóxico aplicado em plantações de soja nas margens envenene o rio.
"Infelizmente, pode haver confrontos. Vamos procurar negociar por todos os meios, mas, se for preciso, vamos afundar as barcas", disse Daniel Koxini Karajá, 52, chefe da aldeia Fontoura.
O vigário-geral da Prelazia de São Félix do Araguaia, o espanhol Felix Valenzuela Cervera, classifica como "genocídio" a passagem de uma hidrovia ao lado de terras indígenas.
"É matar um povo para produzir soja que a Europa vai comprar a preço de banana. Se para o ribeirinho o Araguaia é importante, para o índio é uma questão de vida ou morte", declarou.



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