São Paulo, segunda-feira, 20 de março de 2000


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Passado combativo é elogiado

da Reportagem Local

Ao analisar o passado, o anteprojeto da CNBB faz ressalvas às ações dos padres Manuel da Nóbrega e José de Anchieta, os mais célebres missionários jesuítas do Brasil colonial.
Não apenas os dois sacerdotes aparecem no documento. Outros personagens e episódios históricos são citados com todas as letras. A carta segue, assim, caminho diferente do que adotou João Paulo 2º há uma semana, quando pediu perdão em Roma pelos pecados da igreja. O papa lamentou as perseguições contra os judeus e as mulheres, por exemplo, mas evitou mencionar personalidades e acontecimentos específicos.
Refletindo sobre os jesuítas, o texto da CNBB louva a postura "decidida e heróica" daqueles que se opuseram à escravização indígena. Em contrapartida, assinala que os missionários, na esperança de "transmitir a fé cristã", nem sempre respeitaram "as crenças e os valores" das populações nativas. Padre Manuel da Nóbrega defendia o aldeamento "de índios nômades ou seminômades". E "mesmo um homem santo como Anchieta" não resistiu a uma "atitude, às vezes, de imposição".
Quando trata dos negros, a carta é bem mais incisiva. Registra que a causa abolicionista não mereceu "o empenho dos cristãos" e que, "até meados do século 20, subsistiram preconceitos nas instituições católicas com relação aos descendentes de africanos".
O anteprojeto vê como "positiva" a separação jurídica entre clero e Estado, tão logo o Império caiu. Se, por um lado, o fato retirou do catolicismo o "reconhecimento de religião oficial", por outro, lhe garantiu "maior liberdade". Também recebe elogio a encíclica "Rerum Novarum", que o papa Leão 13 lançou em 1891 e que possibilitou o surgimento de uma igreja mais sensível às injustiças sociais.
A carta destaca, ainda, o papel do padre Júlio Maria e do cardeal Sebastião Leme durante as primeiras décadas da República. Ambos cobravam dos leigos católicos interferência direta nos rumos políticos do país.
Outro nome que o documento exalta é o do operário paulista Santo Dias da Silva, morto pela polícia em 1979, enquanto participava de uma greve.
(AA)



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