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São Paulo, quinta-feira, 20 de março de 2003

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ANÁLISE

PT repete política industrial de FHC

GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Com uma frase quase casual, o ministro Guido Mantega (Planejamento) revelou ontem que mudou a concepção do governo Lula para a política industrial -e, em vez da mudança projetada originalmente, o novo entendimento coincide com o adotado nos anos Fernando Henrique Cardoso.
Durante a entrevista concedida para relatar a reunião ministerial, Mantega afirmou que as medidas de política industrial previstas no planejamento estratégico do governo serão "horizontais, fundamentalmente".
Traduzindo, trata-se de providências voltadas para a indústria como um todo, sem privilegiar setores específicos. Ele mesmo exemplificou: melhorias na infra-estrutura, ampliação do crédito.
O programa de governo do PT, que dava grande importância ao tema, prometia uma política "seletiva e vertical" -ou seja, seriam definidos setores estratégicos, como o eletroeletrônico, para uma ação agressiva destinada a estimular as exportações e a substituição de importações por produção nacional.
Não é uma diferença banal. A ressurreição das políticas verticais foi, nos últimos anos e na campanha eleitoral, uma das principais bandeiras dos partidários de uma ação intervencionista do Estado.
No governo FHC, o tema opôs a equipe do ex-ministro Pedro Malan (Fazenda), defensora da política horizontal, e os chamados "desenvolvimentistas", como os ex-ministros José Serra (Planejamento e Saúde), Luiz Carlos Mendonça de Barros (Comunicações) e Bresser Pereira (Administração). A visão de Malan, como se sabe, foi vencedora.
O pensamento liberal rejeita a política vertical por considerar que cabe ao mercado definir vencedores e perdedores no jogo econômico; já a esquerda brasileira historicamente defendeu a intervenção estatal para equacionar a dependência do país em relação ao capital externo.
Durante a campanha, o compromisso de uma nova política industrial foi um dos principais pontos de convergência entre Lula e o empresariado. Não por acaso, Luiz Fernando Furlan, da Sadia, foi escolhido para o Ministério do Desenvolvimento.
Até agora, porém, o governo não deu um sinal claro do que pretende fazer. Somente na semana retrasada, por exemplo, Furlan nomeou os quatro secretários responsáveis pelas políticas industrial e de comércio exterior.


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