KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem na reunião ministerial que sente angústia no poder. "Sou o mais angustiado. Há noites em que não consigo dormir, tenho insônia, mas isso não me desanima, só me motiva mais", afirmou, segundo relato apurado pela Folha com um auxiliar do petista.
Lula, porém, não especificou o que o angustiava, mas ficou claro para os presentes que eram as promessas de campanha que não estavam se realizando. Ele usou um tom otimista e fez dois discursos. No final, disse que ele e sua equipe têm uma "oportunidade de ouro" e que caberá a seu governo até "reconstruir instituições".
O presidente abriu a reunião e passou a palavra aos ministros -quase todos falaram. Nessa parte, o assunto foi a elaboração do PPA (Plano Plurianual de 2004 a 2007). Pediu que os ministros apresentassem metas que possam ser "cumpridas concretamente".
O governo quer evitar uma tradição dos PPAs: planos muito bonitos e estratégicos, mas que não saem do papel. Lula disse que, desta vez, quer um "planejamento estratégico". A administração Lula já sofre desgaste em algumas áreas, especialmente na social. Um esperado sermão light aos ministros não foi passado. Indiretamente, o presidente deu o recado ao falar da angústia.
Dois membros da reunião afirmam que esse assunto não foi tocado, tampouco a performance do ministro da Segurança Alimentar, José Graziano, foi abordada. Apesar das críticas à gestão do Fome Zero, Lula deu sinais recentes de que não está no seu cardápio político a demissão ou fritura do ministro, seu mais antigo auxiliar no exercício contínuo nesse tipo de função.
Era possível, mas não provável, que Lula falasse com um ou outro auxiliar na confraternização que realizaram após um dia inteiro de reuniões. Lula prefere conversas diretas e individuais. Broncas públicas são raras e mais destinadas às pessoas com quem tem mais intimidade.


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