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São Paulo, quinta-feira, 20 de março de 2003

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ALIANÇA DIFÍCIL

Petistas tentam evitar que ex-governador abra investigação contra gestão de ministra Benedita no governo do Rio

Planalto age para neutralizar Garotinho

ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
OTÁVIO CABRAL
DO PAINEL, EM BRASÍLIA

O Palácio do Planalto e a cúpula do PT se mobilizaram ontem para neutralizar a ameaça do ex-governador do Rio Anthony Garotinho (PSB) de abrir inquérito para vasculhar a gestão da petista Benedita da Silva, hoje ministra da Assistência Social. Na linha do "guerra é guerra", Planalto e PT nacional ameaçaram retaliar.
Logo cedo, o líder do PSB na Câmara, Eduardo Campos (PE), foi chamado para uma conversa com o presidente do PT, José Genoino, num local inusitado: a Casa Civil da Presidência da República, onde, por exemplo, são loteados os cargos entre os aliados.
Estima-se que 30% das vagas ainda não foram preenchidas, e o PSB é candidato a várias delas, principalmente nos Estados.
Campos é neto do ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes, principal líder do PSB e adversário interno de Garotinho e de sua mulher, Rosinha Matheus. Concordou rapidamente com a reclamação do governo federal.
Ontem mesmo, Campos ligou para Garotinho pedindo "moderação". Ou seja, que ele recue das ameaças contra Benedita e evite colocar em xeque a aliança fechada em nível nacional entre o PSB e o PT para apoiar o governo Lula.
O líder deixou claro no telefonema que, se tiver que optar entre o Planalto e o Palácio das Laranjeiras, sede do governo do Rio, o partido optará pelo primeiro. Segundo ele, com a esmagadora maioria da bancada, que tem 28 deputados federais.

Trunfos
Garotinho ouviu, mas não se comprometeu em baixar o tom contra Benedita, sua principal adversária no Rio de Janeiro. Ele acha que tem trunfos na queda-de-braço com o próprio partido.
O principal desses trunfos é que o PSB só tem quatro governos estaduais: Rio, Espírito Santo, Rio Grande do Norte e Alagoas.
Pode perder o do Espírito Santo, pois o governador Paulo Hartung negocia com PMDB e até com o próprio PT uma eventual troca de partido.
E, até por isso, o PSB não pode correr o risco de ficar também sem o governo do Rio de Janeiro.
Como o PT já tem tido problemas suficientes com outros aliados, como o PDT de Leonel Brizola e o PPS de Roberto Freire, tudo o que não quer nesse momento é uma crise com o PSB.
Até por isso, José Genoino desmentiu que haja negociações para atrair Hartung. "Ninguém está falando nisso", disse o petista.
Segundo Eduardo Campos, que se empenhou pessoalmente para filiar Hartung ao PSB, o governador "não tem nenhum motivo" para trocar de legenda, mas, caso decida fazê-lo, precisa assumir pelo menos um compromisso: que só saia do PSB depois de outubro, quando ocorre a convenção nacional em que ficarão, cara-a-cara, o grupo majoritário de Arraes e o do casal Garotinho, que sonha em ser oposição ao atual governo nas eleições presidenciais de 2006.


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