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NO AR
Ferramenta política
NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA
Semanas atrás, a TV a cabo C-Span, que transmite
conferências e outros eventos
políticos (até mesmo a posse de
Lula) e que se pode assistir com
qualidade na internet, apresentou um desabafo do editor do
"New York Times".
Dramaticamente, ele pediu de
seus colegas que reajam contra
o "esforço enérgico" que vem
sendo feito para estigmatizar
como "liberal", ideológico, o legado histórico da cobertura com
isenção nos EUA:
- Nós que trabalhamos em
publicações e TVs com mentalidade isenta temos sido passivos
em denunciar as agendas dos
que usam o jornalismo como
ferramenta política, ao mesmo
tempo em que apontam o dedo
contra os que praticam jornalismo equilibrado.
Falava indiretamente da Fox
News e demais vozes da News
Corp., do ultraconservador Rupert Murdoch, mas também de
grupos lobistas menores, como o
Media Research Center.
O MRC já está em campo para
a guerra contra o Iraque, constrangendo coberturas, principalmente de televisão, que não
se ajustem à política de George
W. Bush.
Anteontem, divulgou um "relatório" contra a rede ABC e seu
âncora canadense, Peter Jennings, por cobrirem sem criticar
os protestos "radicais" dos pacifistas e por fazerem "propaganda iraquiana", sem falar do
apoio à França.
É parte do "esforço enérgico"
que vem acuando toda a mídia
americana, sobretudo depois do
11 de setembro.
Aos poucos, o debate sobre a
cobertura da guerra se espalha
pelos canais americanos, mas
anda tão estranho quanto a
própria cobertura.
A Fox News dizia ontem, por
exemplo, que não é ilegal que os
militares do país mintam aos
jornalistas, se for necessário para vencer. E que, é claro, a cobertura de seus quatro concorrentes, sobretudo a ABC, é "antiamericana".
Dias antes, uma dúzia de republicanos pediu declaradamente "censura" à cobertura na
frente de guerra.
Em outra direção, já se levanta aqui e ali a questão recorrente das últimas guerras americanas: as agências de notícias e as
TVs vão mostrar as imagens
mais cruas dos efeitos dos ataques? Os corpos?
Tem gente nos EUA, caso da
ABC, que ainda diz que esta é a
guerra com maior liberdade de
cobertura desde o Vietnã. E com
uma vantagem: a tecnologia em
vídeo vai permitir uma guerra
"ao vivo".
Já estão todos lá, junto às tropas americanas. Até a Al Jazeera está com as tropas. E todos
têm seus videofones e telefones
por satélite.
Isso, do lado americano. Do
outro lado, sobraram uns poucos, para constar.
Para quem acredita que Fox
News e MRC são coisas de outro
mundo, vale registrar que o Brasil já tem seus MRCs, com propósitos abertamente iguais
-ou seja, constranger a mentalidade isenta.
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