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QUESTÃO INDÍGENA
ONGs atacam prática da era FHC mantida por presidente
Indigenistas ameaçam ir à Justiça contra governo Lula
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
A decisão do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva de continuar
submetendo ao Conselho de Defesa Nacional os processos de homologação de terras indígenas foi
duramente atacada ontem por 15
organizações-não-governamentais indígenas e indigenistas, após
um seminário em Brasília.
Por lei, o decreto de homologação, última fase do processo que
garantirá a terra aos índios, pode
ser assinado pelo presidente sem
a apreciação do conselho, órgão
consultivo para "assuntos relacionados com a soberania nacional e
a defesa do Estado democrático",
formado por ministros, parlamentares e comandantes da Marinha, Exército e Aeronáutica.
A consulta, rara nos anos 90, só
foi retomada em meados do ano
passado, no governo Fernando
Henrique Cardoso. Nos primeiros meses do governo Lula, tornou-se regra. O primeiro destino
dos processos, ao saírem da Casa
Civil, tem sido o gabinete do general Jorge Félix, chefe do Gabinete
de Segurança Institucional e secretário-geral do conselho.
Na "Carta em Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas", divulgada ontem, as ONGs indígenas e
indigenistas ameaçam ir à Justiça
contra atos do governo Lula que
representem "providências estranhas ou omissões".
"[Tais atos] Podem vir a caracterizar crime de responsabilidade
e ato de improbidade, sem prejuízo da responsabilidade civil da
União", diz o documento.
A carta, resultado de um seminário realizado no Ministério Público Federal, é assinada pela
Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia
Brasileira), que reúne 75 organizações e 165 povos indígenas
(com cerca de 200 mil índios), pelo Cimi (Conselho Indigenista
Missionário), que tem 411 missionários em 112 pontos do país, pela
Associação Brasileira de Antropologia e outras 12 entidades.
Segundo a carta, os órgãos públicos têm oportunidade de manifestação no decorrer do processo e "não se pode fazê-lo retroceder a etapas há muito superadas,
sem que isso se configure grave
desvio da legalidade".
Oito processos que aguardavam
apenas a assinatura de Lula agora
encontram-se "sob análise" dos
conselheiros. São relacionados a
cerca de 13,6 mil índios, em 2,55
milhões de hectares em três Estados (Roraima, Amazonas e Pará).
De acordo com parecer do setor
jurídico da Casa Civil, ao qual a
Folha teve acesso, um dos motivos levados em conta pelo órgão
para protelar a homologação é a
"pública e notória ocorrência de
inúmeras manifestações no Estado (...) contrárias às demarcações
de terras indígenas". Outros seriam "a grande extensão das áreas
e presença de não-índios".
"É um tremendo retrocesso. É
obrigação do governo homologar", disse o presidente da Coiab,
Jecinaldo Saterê Mauê.
"Queremos crer que seja só uma
manifestação voluntarista desinformada do governo", disse Márcio Santilli, ex-presidente da Funai e diretor da ONG Isa (Instituto
Socioambiental).
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