|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CELSO PINTO
Cenário melhora, mas a meta já foi
A meta oficial para a inflação deste ano continua
sendo de 8,5%, mas no próprio
Banco Central admite-se que é
virtualmente impossível atingi-la. Já se escuta lá o argumento
de que o importante é que as expectativas caminhem para a
meta de 5,5% para 2004. O Ipea,
órgão do governo ligado à Secretaria do Planejamento, trabalha com uma projeção de inflação de 12,5% neste ano.
Se a inflação está fora da rota,
por que o BC decidiu ontem não
elevar os juros? Nas crises de
meio de ano dos dois últimos
anos, a desculpa para não subir
os juros foi que, dado o prazo
curto, cumprir a meta exigiria
uma enorme e injustificada recessão. Como estamos no dia 19
de março, não dá para usar o
mesmo argumento.
A meta ficou quase impossível
porque a inflação acumulada
em dois meses deixou espaço para uma inflação mensal média
de apenas 0,5% nos dez meses
restantes. Como a de março já
está comprometida, perto de
1%, e as de julho e agosto também, pelo aumento dos preços
administrados, a inflação teria
que ser baixíssima nos outros sete meses para ficar em 8,5%.
O mais provável é que o governo saiba que a inflação vai superar 8,5%, mas ache que o custo de chegar lá seja alto demais e
não queira rever, mais uma vez,
a meta oficial. Relevante mesmo
não é saber se a inflação será de
8,5%, 10% ou os 12,4% projetados pelo mercado. É ter certeza
de que ela não será alta o bastante para recriar mecanismos
de indexação e, mais importante, que a tendência nos últimos
meses do ano seja de queda firme.
É impossível, hoje, saber se esses dois riscos estão afastados
-razão para alguns bancos defenderem alta dos juros. Ao indicar viés de alta, ontem, o BC se
deu o direito de elevar o juro,
nas próximas semanas, conforme a evolução do IPCA e da
guerra. Mas é fato que havia
também boas notícias a considerar no Copom.
A inflação, na margem, está
caindo. O nível de atividade e de
emprego não mostra qualquer
sinal de aquecimento. O real se
valorizou, e o risco Brasil caiu. A
projeção do mercado para a inflação deste ano recuou, na última semana, de 12,58% para
12,38%. É uma queda pífia, mas
é a primeira que ocorre em mais
de um ano, o que pode indicar
que as expectativas estão, no
mínimo, se estabilizando.
Uma boa notícia menos notada é uma maior convergência
nas projeções. No segundo semestre do ano passado, as projeções dispararam (de menos de
5% para quase 11% em quatro
meses) e sofreram enorme dispersão. Desde então, o desvio-padrão caiu pela metade e é hoje comparável a meados de
2002.
A dispersão reflete insegurança em relação ao futuro e acaba
exigindo juros ainda maiores
para obter resultados. A redução no desvio-padrão, aliás,
aconteceu com todas as projeções do mercado, do PIB à dívida interna. Indício de que os sinais de política econômica estão
mais coerentes.
Outra boa notícia exige qualificação. O BC passou a divulgar
a projeção da inflação para 12
meses seguintes, ponderando,
proporcionalmente, o que o
mercado espera para este ano e
para 2004. Por este critério, o pico, de 13,3%, foi em dezembro,
caindo para 12% em fevereiro e
11,1% na sexta-feira. Alguns
economistas alegam que a projeção do mercado para 2004,
imutável em 8% desde o início
do ano, é feita com menos cuidado pelo mercado e, portanto,
deve ser levada menos à sério.
De todo modo, olhando 12 meses adiante, como a inflação
projetada cai e o juro básico tem
subido, há um aumento do juro
real projetado, de 10,3% no início de janeiro para 13,7% em
março. Como a média do juro
real projetado em 12 meses foi
de 12% desde 1999, por este critério o BC pode alegar que o juro já está bem apertado e em alta.
Com tantas dúvidas sobre juro e inflação, de onde vem o entusiasmo recente do mercado
internacional com o Brasil? Do
inegável aumento na capacidade do país de honrar sua dívida,
seja pela extraordinária melhora nas contas externas, seja pelo
aumento do superávit fiscal (reduzindo o risco de um calote da
dívida interna, que poderia contaminar a dívida externa). O
risco de não receber ficou pequeno, enquanto os juros pagos pelo
Brasil continuam grandes. No
fundo, é isso o que mais interessa ao investidor externo.
E-mail: CelPinto@uol.com.br
Texto Anterior: Ruralistas querem discutir reforma agrária com o governo, sem o MST Próximo Texto: Panorâmica - Distrito Federal: Brindeiro diz que denúncias de gerente contra Roriz são "gravíssimas" Índice
|