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D. Mauro ataca
o Fome Zero e a
política econômica
FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM OLINDA
O bispo de Duque de Caxias
(RJ), dom Mauro Morelli, disse
ontem, em Olinda (região metropolitana de Recife), que a política
econômica do governo interfere
no combate à fome no país.
"Está interferindo porque, na
concepção do governo, a prioridade é a estabilidade econômica, é
cumprir os acordos. [...] Só que,
cada vez mais, vai ficando evidente que o país não agüenta ficar engessado por muito tempo." A declaração foi dada em entrevista na
2ª Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional.
Segundo o religioso, que também preside o Consea (Conselho
Nacional de Segurança Alimentar) de Minas Gerais, a sociedade
brasileira precisa "entrar num
processo de diálogo sobre esse tal
de engessamento".
"Tudo bem manter a economia
estável, a moeda estável. Ninguém está pretendendo o contrário", disse. "Mas nós temos que
descobrir o caminho de uma negociação internacional para que
isso [o engessamento] não continue por muito tempo."
Dom Mauro acredita que a manutenção por longo prazo da
atual política econômica agravaria os problemas sociais. Para o
bispo, nenhum governo obtém
grande avanço sem um movimento político. "O grande equívoco de um governo é achar que
recebeu o mandato e se afastar do
povo", disse, sem citar nomes. "O
governante pode ser justo e santo,
mas, sem a participação ativa da
cidadania, dificilmente escapará
de duas coisas terríveis: a burocracia e a corrupção."
Um dos idealizadores do Consea, o bispo participa como palestrante na conferência. O evento,
que termina hoje, vai definir propostas de uma política de segurança alimentar e nutricional a serem apresentadas ao presidente
Luiz Inácio Lula da Silva.
Entre as propostas que deverão
ser aceitas está a do presidente da
Associação Brasileira de Reforma
Agrária, Plínio de Arruda Sampaio, que defende um plano de safra para a agricultura familiar para suprir a demanda de alimentos
prevista com a expansão dos programas de distribuição de renda.
Fome Zero
A não-permanência de representantes do primeiro escalão do
governo nos quatro dias de duração da conferência levou dom
Mauro a reclamar de um suposto
desinteresse oficial pelo encontro.
"Seria bom que os governos,
nos vários níveis, prestassem
atenção à conferência e que fizessem os seus planos de segurança
alimentar", afirmou. O governo
federal, declarou Morelli, "não
tem um plano, mas precisa ter".
Para o bispo, o governo deveria
fazer autocrítica e avaliar se "chegou aqui propondo alguma coisa". Dom Mauro criticou ainda a
criação, no ano passado, do Ministério Extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome. A pasta acabou absorvida, na
reforma ministerial de janeiro,
pelo Ministério do Desenvolvimento Social, um dos organizadores da conferência.
"Criar um ministério para cuidar da fome é embarcar, no mínimo, num equívoco desastroso",
afirmou Dom Mauro.
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