São Paulo, sexta, 20 de março de 1998

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PFL enfrenta FHC para não perder em 99

KENNEDY ALENCAR
Editor do Painel

RAYMUNDO COSTA
do Painel, em Brasília

Ao liderar a reação contra a ida do senador José Serra (PSDB-SP) para o Ministério da Saúde, o PFL fez o primeiro lance de uma estratégia desenhada por sua cúpula para mostrar a Fernando Henrique Cardoso que não aceita perder espaço no seu eventual segundo mandato presidencial.
O senador Antonio Carlos Magalhães, liderança mais importante do PFL, já tem candidato a ministro da Saúde para 99: o governador da Bahia, Paulo Souto. ACM, em conversas no plenário do Senado, já "nomeou" Souto para o ministério. Também critica Albuquerque reservadamente. Ou seja: quer que ele fique, mas fraco para sair no ano que vem.
Obedecendo a um roteiro traçado por ACM para fazer do filho e deputado federal Luís Eduardo Magalhães governador da Bahia neste ano e candidato a presidente em 2002, Souto seria acomodado na pasta da Saúde.
O próprio Luís Eduardo considera que o político que obtiver resultados na Saúde terá boas chances como candidato a presidente em 2002. Daí, o partido tentar fechar a porta para Serra e colocar lá um executivo completamente alinhado com as diretrizes de ACM.
O movimento do PFL contra Serra também busca demonstrar ao PMDB que o partido está disposto a comprar brigas pesadas para não perder espaço.
Além do PSDB, o PFL era o único partido que participava do núcleo da aliança que elegeu Fernando Henrique em 94. Com o crescimento do PMDB junto ao presidente, após a vitória dos governistas do partido na convenção do último dia 8, as lideranças pefelistas chegaram a duas conclusões:
1) O principal inimigo no Congresso é o PMDB. Cálculos das lideranças governistas mostram que o PSDB não deverá ameaçar em 99 a hegemonia dos peemedebistas e pefelistas, que controlam, respectivamente, as presidências da Câmara e do Senado.
Estima-se que tucanos façam uma bancada de 110 deputados federais em outubro. Se atingirem 115, será uma surpresa.
Já o PMDB, que terá em 98 um candidato a presidente favorito e que possui oito governadores de Estado, pode bater na casa dos 130 parlamentares -número que o PFL estima que poderá alcançar.
Até aí, estariam empatados, mas a ameaça de tucanos e de peemedebistas de se aliarem na próxima legislatura assusta os pefelistas, que se aproximaram do PPB a fim de mostrar a Fernando Henrique que não querem perder espaço na sua base de apoio e que podem até tomar um rumo diferente caso haja uma surpresa na campanha da reeleição.
Com fama de profissionais da política, a reunião dos caciques PFL em Brasília na semana passada foi lida no Planalto como a maior passada de recibo pública para aproximação FHC-PMDB. O presidente tem dito aos peemedebistas que o futuro do partido é uma aliança com os tucanos.
2) Na ótica pefelista, dificilmente o PMDB terá um nome com chance de disputar o Planalto em 2002 -os atuais caciques têm apenas densidade regional. Mas o PSDB possui três nomes que, se tiverem um trampolim político, seriam adversários fortes em 2002: Serra, Tasso Jereissati e Mário Covas.
O PFL teme que Serra tenha bom desempenho em uma pasta da área social, como a da Saúde.
Tasso Jereissati, governador do Ceará que deve ser candidato à reeleição, hoje é o tucano que conta com a simpatia de FHC para 2002. Se a emenda da reeleição não tivesse sido aprovada, Tasso seria o candidato do presidente em 98.
Covas, se for reeleito governador de São Paulo, seria a figura de maior densidade para concorrer, apresentando-se como a verdadeira cara social-democrata que supostamente foi abandonada por FHC. Dos tucanos, é o que tem a mais forte marca anti-PFL.



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