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JANIO DE FREITAS
Arrocho de notícias
Tal como se estivesse nos
tempos em que um militar ou
um tira ligava para as redações e comunicava a proibição
a uma notícia, o leitor-espectador dificilmente soube da
greve de professores nas mais
importantes universidades federais pelo país afora, para
um protesto inicial de dois
dias contra o arrocho dos salários indignos.
Daquele para este tempo, a
diferença formal é que os telefonemas não foram de militar
nem de tira. Daí resultando a
diferença essencial de que o
boicote à notícia não foi imposto pela ameaça de punição: foi feito só pela subserviência.
E que prejuízo ao país, ou à
sociedade, ou ao governo mesmo, afinal que prejuízo causaria a notícia? Ou seria causado por sua correta dimensão
jornalística? Nenhum. A sonegação da notícia teve só a finalidade de servir ao governo,
como se ainda faltassem demonstrações de que isso não
tem limites, e, no governo, a
mesma motivação que tinha o
regime militar: a suposição
debilóide e vã, produto da má
consciência, de que o desconhecimento alheio inverte o
caráter dos seus malfeitos.
Professores-doutores ganhando como sargentos da
PM. Muitos, nem isso -ganhando como cabos, mesmo.
E, se protestam ao fim de três
anos e picos sem ao menos a
atualização dos seus salários
só para acompanhar a inflação, o jornalismo da grande
democracia brasileira não
lhes reconhece sequer o direito
de ser notícia.
Tradução
As verbas dadas pelo governo a deputados, na votação
da reforma da Previdência,
não se limitaram aos já descobertos R$ 600 milhões da
Caixa Econômica Federal:
também verbas dos orçamentos da Saúde e da Educação
entraram nas transações feitas na casa de Sérgio Motta,
terça-feira à noite. O que não
se sabe é se nessa ambientação cavernosa os presentes
eram mesmo 40.
Sempre que um deputado
votou por outro, a origem do
gesto era um interesse material. Os votos dados quarta-feira pelo petebista José
Borba como se fosse o pefelista Valdemar Meger, em três
votações da Previdência,
eram uma ajuda para o ausente não perder sua parte
nas centenas de milhões que o
governo do honrado Fernando Henrique estava distribuindo, em troca da votação
desejada.
Verbas orçamentárias atrasadas, dizem o presidente da
Caixa, Sérgio Cutolo, e os líderes dos partidos governistas. Exceto um, Inocêncio de
Oliveira, que não caiu na asnice de invocar trâmites legais complicados, causando o
atraso, diante da súbita e fácil liberação de duas tacadas
de R$ 300 milhões cada. Seu
comentário:
"O governo já podia ter liberado essas verbas há mais
tempo, em vez de só liberar
na véspera da votação da reforma da Previdência."
Tradução: as verbas foram
retidas como chantagem. Prática já tão usual, por parte do
governo honesto de Fernando
Henrique Cardoso, quanto a
compra de parlamentares por
métodos convencionais no comércio.
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