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POLÍTICA NO ESCURO
Cientista político vê Itamar como maior beneficiário da crise e avalia que desgaste atinge Serra
Era FHC ruma para final "melancólico"
PATRICIA ZORZAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais, o
cientista político Fábio Wanderley Reis afirma que a atual crise
energética ""é o que poderia acontecer de pior" com o governo Fernando Henrique Cardoso.
Prevendo um final ""melancólico" para o segundo mandato de
FHC, aposta ainda que eventuais
apagões inviabilizarão uma candidatura tucana ao Planalto.
""Se Serra é o mais viável, o
PSDB está em dificuldades sérias.
Porque claramente não há como
dissociá-lo de maneira convincente do governo", declarou.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista.
Folha - Quem se beneficia das
atuais dificuldades do governo?
Fábio Wanderley Reis - Acho que
o Itamar [Franco, governador de
Minas Gerais" se beneficia de uma
maneira especial porque ele tem
se exposto muito explicitamente
[contra" uma certa linha do governo FHC. Foi contra a privatização do setor elétrico e isso pode
refluir em benefício dele.
Folha - E a impressão recorrente
de que a oposição torce pelo "quanto pior melhor'?
Reis - Acho que agora, quando
os efeitos da crise e dos eventuais
apagões ainda não se fizeram sentir, provavelmente isso é correto.
Mas daqui a seis meses, se houver
períodos longos com apagões,
transtorno para a vida de todos,
tarifas mais altas, vai haver um
desgaste grande do governo e pode haver capitalização por parte
desse pessoal que está denunciando com mais veemência.
Folha - Fala-se no governador de
São Paulo, Geraldo Alckmin, como
uma alternativa tucana à Presidência nesse caso. Distante de FHC, ele
ainda teria a aura ética herdada do
governador Mário Covas.
Reis - Isso é pertinente, mas há o
problema importante de que a figura do Alckmin não é nacional.
É preciso vender o peixe Geraldo
Alckmin. E isso é possível.
Hoje acho que o ministro José
Serra [Saúde" é o nome mais viável dentro do PSDB, mas ele sai
muito respingado dessa crise toda. Por isso, se ele é o mais viável,
o PSDB está em dificuldades sérias. Porque claramente não há
como dissociá-lo de maneira convincente do governo. Afinal, ele é
parte do governo. O que vier pela
frente vai atingir o Serra.
Folha - O presidente não costuma
responder às críticas de adversários. Apesar disso, fez questão de
dizer, na semana passada, que Lula
era leviano e que não se credenciava à Presidência. Isso demonstra
perda de controle?
Reis - Simplesmente o presidente está sendo atingido em um
ponto sensível. A reação ao Lula
teve claramente a ver com a atuação do governo com relação à CPI
[da corrupção", em que havia a
acusação forte, baseada em indícios que são convincentes aos
olhos da população, de que o governo se empenhou em impedir a
apuração da corrupção. Tocaram
em um ponto fraco dele e ele reagiu, manifestado-se para neutralizar a leitura negativa passada pelos órgãos de imprensa.
Folha - É possível neutralizar a
imagem negativa?
Reis - Tenho dúvidas. Independentemente dos aspectos estritamente legais, de até que ponto a liberação de verbas pode ser questionada, precisamos saber se isso
é visto pelo eleitorado como convincente. Tenho a impressão de
que a imagem que passa é negativa. É importante ter em conta
também que as pesquisas mostravam que a maioria da população
queria a apuração. De repente o
governo inviabiliza a CPI.
Folha - E a crise energética surge
para piorar o atual quadro.
Reis - É o que poderia acontecer
de pior. Isso se vier a assumir a cara que aparentemente vai ter de
assumir, que é a cara dos cortes
[de energia", dos apagões frequentes. Aí o desgaste para o governo vai ser fatal. Seguramente,
se isso acontece dessa forma, o
governo estaria caminhando para
um final melancólico. E, com toda
a probabilidade, isso inviabilizará
seu sucessor.
Folha - FHC pode reverter isso?
Reis - O próprio presidente costuma dizer que Deus ajuda mais a
uns do que a outros. Diz isso referindo-se a si mesmo. Sem dúvida
ele tem sido muito ajudado por
Deus, inclusive no fato de ele virar
presidente em um momento em
que tudo indicava que ele não teria muita viabilidade nem sequer
para voltar ao Senado. Isso pode
ser lido com ajuda divina. Mas me
parece muito difícil [agora". Não
há como nem sequer Deus ajudar... Nem as chuvas de são Pedro... O que quero dizer é que é
meio tarde. Não vejo como o governo poderia cancelar o efeito
negativo da crise energética, sobretudo culminando com o desgaste que já tem havido. E a eleição já está aí.
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