São Paulo, domingo, 20 de maio de 2007

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Lula já perdeu quase meio ano, afirma Kenneth Maxwell

Referência na historiografia sobre o período colonial brasileiro, autor de "A Devassa da Devassa" passa a escrever na página A2

Historiador britânico dirige hoje o Programa de Estudos Brasileiros na Universidade Harvard e já lecionou em Yale, Princeton e Columbia

DA REPORTAGEM LOCAL

O historiador britânico Kenneth Maxwell, 66, diretor do Programa de Estudos Brasileiros na Universidade Harvard, nos Estados Unidos, afirma que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva "está demorando muito tempo para montar o governo" de seu segundo mandato, a ponto de não ser possível ainda "saber o que querem fazer nos próximos três anos e meio".
"Perdeu-se quase meio ano, já estamos em maio. Há falta de ação em vários níveis e assuntos importantes para o Brasil. Todas essas coisas estão demorando muito", diz, apontando como consenso entre especialistas a necessidade de uma reforma tributária e de ações na área de segurança pública. Para Maxwell, é de toda forma um traço distintivo da política brasileira certa morosidade no arranjo de coalizões e na proposta de programas e leis que afetem o dia-a-dia dos cidadãos.
O historiador passa a escrever semanalmente, a partir da próxima quinta-feira, sobre esse e outros assuntos na página A2 da Folha.
Com graduação pela Universidade de Cambridge, no Reino Unido, e doutorado em Princeton, nos EUA, Maxwell é uma referência na historiografia sobre o período colonial brasileiro. Ele também tem estudos sobre Portugal, desde o império ultramarino até a redemocratização pós-Salazar.
No livro "A Devassa da Devassa" (Paz e Terra, 1977), fez um dos primeiros estudos apoiado em ampla documentação em fontes primárias sobre a elite econômica de Minas no século 18 e suas relações e conflitos com a metrópole portuguesa. Sua obra mais recente lançada no Brasil, "O Império Derrotado" (Companhia das Letras, 2006), trata da Revolução dos Cravos, em Portugal.
O historiador foi diretor do Programa de América Latina do Council on Foreign Relations, um dos mais importantes centros independentes de estudo norte-americanos, entre 1989 e 2004. Ele também deu aulas nas universidades Yale, Princeton e Columbia.
Em maio de 2004, renunciou ao seu cargo no Council em protesto a uma interferência do ex-secretário de Estado americano Henry Kissinger, que teria impedido a publicação de uma carta sua na revista "Foreign Affairs", ligada ao CFR. A "Foreign Affairs" havia publicado uma resenha de Maxwell em novembro de 2003 sobre o livro "O Arquivo Pinochet", de Peter Kornbluh, que trata do golpe que derrubou o presidente chileno Salvador Allende, em 1973, e da participação americana no episódio -à época, Kissinger era o secretário de Estado.
Na edição seguinte, a revista publicou uma carta de William Rogers, que trabalhou sob o comando de Kissinger como secretário assistente para a América Latina no período do golpe e que então era vice-presidente de sua empresa de consultoria -a Kissinger Associates-, em que afirmava não haver provas concretas da participação americana no episódio.
Seguiu-se uma réplica de Maxwell, uma tréplica de Rogers, e o brasilianista, por decisão do editor da revista, não pôde publicar um texto final de resposta. "Isso tem a ver com a atmosfera em geral dos EUA, que passou a ser um lugar bem menos aberto para o debate público", disse ele à época, acrescentando ter sido cuidadoso em sua resenha. "O que está provado é que os EUA tiveram participação nas condições que levaram ao golpe. Fui bastante cauteloso. Essa é a ironia. O golpe foi feito por chilenos, e disse isso bem claramente no artigo", disse então.
Sobre a política brasileira recente, Maxwell vê como conquistas do primeiro mandato de Lula a diminuição da vulnerabilidade da economia do país e da desigualdade sócio-econômica, ainda que, no segundo caso, em pequena escala.


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