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Governo diz que nova CPMF será atribuição do Congresso
Planalto afirma que sem receita para verbas extras da saúde vai vetar a emenda 29
Presidente Lula determina que a negociação sobre o tema deverá ser conduzida pelo ministro José Múcio, e não por Guido Mantega
LETÍCIA SANDER
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Por determinação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
o governo jogou para o Congresso a responsabilidade de
apontar uma fonte para financiar projetos da área da saúde e,
se houver acordo, recriar um
imposto nos moldes da extinta
CPMF. Caso contrário, vetará o
aumento de verbas da saúde
sem previsão de receita.
O tema tomou a maior parte
da reunião de Lula com seus
principais subordinados, na
manhã de ontem. Depois de
duas horas de debates, coube ao
ministro José Múcio (Relações
Institucionais) o anúncio de
que não partirá do Planalto, pelo menos oficialmente, a idéia
de recriar a CPMF.
"Nós não vamos interferir. O
governo vai aguardar que a Casa [o Congresso] dê uma solução. Não queremos reviver a situação que vivemos em dezembro [quando a CPMF foi extinta, depois de uma derrota do
governo no Senado]", disse.
Na semana passada, ministros e líderes reuniram-se reservadamente e discutiram a
possibilidade de o governo
apresentar a proposta da recriação da CPMF, mas com
uma alíquota menor, de 0,08%.
Ficou decidido que a idéia seria apresentada ao presidente,
que não quis patrociná-la. Lula
concorda com a proposta, mas
avalia não ter sentido bancá-la
como se fosse do governo devido à derrota do ano passado.
Durante a reunião, Lula foi
questionado se o Planalto deveria anunciar que vetaria a proposta de aumento das verbas
para a saúde caso não seja aprovada a receita específica. "Não
precisamos criar um clima de
animosidade, tenho certeza de
que o Congresso vai fazer tudo
de forma sustentável", respondeu. Acrescentou, porém, que o
veto será necessário se não for
aprovada a receita para bancar
as verbas extras da saúde.
O presidente determinou
ainda que as negociações sobre
o tema deverão ser conduzidas
pelo ministro José Múcio, com
o ministro Guido Mantega (Fazenda) fora da "linha de frente"
das conversas com a Câmara.
Segundo Múcio, o governo
não tem verba para arcar com
os compromissos previstos na
chamada emenda 29, já aprovada no Senado e na pauta de votação da Câmara. O projeto
prevê mais dinheiro para a saúde até 2010. Somente neste
ano, se aprovado, o orçamento
da saúde saltará de R$ 48,5 bilhões para R$ 58,4 bilhões.
A estratégia definida ontem
no Palácio do Planalto, de aprovar a idéia sem participar diretamente da cooptação de votos,
ficou explícita nas declarações
de Múcio. "O governo verdadeiramente, oficialmente, não
vai propor. Em sendo aprovada
[a recriação do imposto], a vitória é do Parlamento. Em não
sendo, a conseqüência também
é do Parlamento", disse.
Na Câmara, o PT diz que pode apresentar uma proposta
para a criação de um novo imposto. "Já solicitei estudos para
a apresentação de um projeto
que crie uma nova contribuição
sem a necessidade de uma PEC.
Se não tiver jeito, no entanto,
estou disposto a "ser o pai" [de
uma PEC], pois apenas o aumento de tributação em cima
do cigarro não seria suficiente
[para arcar com as despesas da
emenda 29]", afirmou o líder
do PT na Casa, Maurício Rands
(PE). O líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves
(RN), disse que só apoiará a
criação de um novo tributo
com a prova do governo de que
o fundo seria destinado exclusivamente para a saúde.
Colaborou MARIA CLARA CABRAL ,
da Sucursal de Brasília
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