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Suspeito de fraudar o BRB era procurador de deputado
Nilson Wanderlei usou cartão corporativo para sacar pelo menos R$ 500 mil
Saques eram feitos no Banco do Brasil; Nilson representa construtora do ex-ministro Eunício Oliveira em empresa vinculada a dono da Gol
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Procurador de empresa do
deputado federal Eunício Oliveira (PMDB-CE), ex-ministro
das Comunicações de Lula, Nilson Lacerda Wanderlei é apontado pelo Ministério Público do
Distrito Federal como um dos
principais sacadores do dinheiro que teria sido desviado do
BRB (Banco Regional de Brasília) por meio de contratos fictícios com a ONG Caminhar.
Os saques eram feitos por
meio de cartões corporativos
emitidos pelo Banco do Brasil
em nome da Caminhar, mas
sem registro do nome do efetivo usuário autorizado a sacar.
Wanderlei teria sacado pelo
menos R$ 500 mil só entre janeiro e fevereiro deste ano, segundo denunciou o gerente de
agência do BB Frederico Rocha
Neto. O balanço oficial, porém,
ainda está longe de ficar pronto. Não chega a meia dúzia o
número de sacadores já identificados numa fraude que pode
passar, só com o saque indevido
por meio de cartões corporativos, a R$ 50 milhões.
Parte dos contratos firmados
pelo BRB que teriam sido fraudados (e que estão sob investigação dos promotores do DF na
chamada Operação Aquarela) é
intermediada pela Asbace (Associação Brasileira de Bancos
Estaduais e Regionais), à qual o
banco estatal é associado.
Funcionário licenciado do
BB, Wanderlei representa a
construtora Thema, da qual
Eunício é sócio, na empresa Suprema -uma sociedade criada
em 2005 com o fim de erguer
um hotel em Brasília. No negócio, um empreendimento avaliado em R$ 30 milhões, a Thema é sócia do grupo Antares,
que tem como investidor o empresário Nenê Constantino.
Fora do país, Eunício confirmou que Wanderlei representa
sua empresa somente neste negócio. Disse que desde 1998,
quando ingressou na política,
deixou a gestão dos negócios e
que nunca recebeu "nenhum
tostão" do dinheiro sacado. Homem de confiança na Thema,
ele tem autorização para assinar cheques da Suprema.
A Caminhar foi contratada
para fazer pesquisas de mercado com o objetivo de avaliar a
qualidade dos serviços do BRB.
Para os investigadores, por
meio de fraudes, os cartões seriam utilizados para sacar valores pagos à Caminhar, com dinheiro do BRB, em benefício de
pessoas escolhidas -como
Wanderlei-, mas ainda não
identificadas integralmente.
Wanderlei foi o ponto de partida da Aquarela: ele sacava dinheiro com vários cartões da
Caminhar em quatro agências
do BB em Brasília. Uma delas,
no Setor Áreas Afastadas Norte, fica a 200 metros do imóvel
que abriga a sede de duas empresas das quais Eunício é sócio. Wanderlei acabou por chamar a atenção do gerente de
agência do BB Frederico Ferreira da Rocha Neto, que denunciou o caso à Procuradoria.
Personagem central da investigação, o administrador
Juarez Cançado, que por 27
anos foi secretário-geral da Asbace, revelou em depoimento
aos promotores que a Caminhar também havia sido contratada para implementar um
"projeto de marketing de incentivo" para a empresa ATP,
subsidiária integral da associação e presidida pelo executivo.
Segundo Cançado, os cartões
foram usados como "cartões de
premiação", para pagar menos
IR, e "distribuídos de acordo
com o desempenho de cada diretoria" da ATP. Na condição
de presidente da empresa, Cançado diz ter recebido, por meio
dos cartões, R$ 2 milhões em
2006. Outros R$ 3,5 milhões
teriam sido pagos a Tarcísio
Franklin Moura, ex-presidente
do BRB e dirigente da ATP.
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