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Senadores ocupam cargos em gabinetes com parentes
Familiares estão em postos que dispensam concurso público e controle de freqüência
Levantamento nos boletins de edital do Senado revela que pelo menos 35 parentes foram contratados durante o período de 2003 a 2007
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
O Senado contratou, de 2003
a 2007, ao menos 35 parentes
de senadores, segundo levantamento feito pela Folha nos boletins de pessoal editados no
período. Mulheres, filhos, sobrinhos e primos de 19 senadores foram acomodados em cargos de livre provimento, que
não necessitam de concurso.
Houve pelo menos um caso
de nepotismo cruzado: o senador José Maranhão (PMDB-PB) contratou um sobrinho do
colega Garibaldi Alves (PMDB-RN) que, em troca, admitiu
uma sobrinha de Maranhão.
Ouvido pela reportagem, Garibaldi disse estar arrependido
do acordo. "Eu lhe confesso
que eu acho que o certo mesmo
teria sido contratar no meu gabinete, confesso que foi uma
besteira tratar essa coisa como
nós tratamos", disse o senador,
que relatou a CPI dos Bingos.
O senador Almeida Lima
(PMDB-SE) contratou dois sobrinhos e uma prima, mas não
considera isso nepotismo. Segundo ele, nepotismo seria ter
todas as vagas do gabinete
preenchidas por parentes. Ele
defende a adoção de uma "cota" para os familiares.
"Não voto que proíba marido, mulher, filho, que proíba
nada, não tem esse negócio de
primeiro grau, segundo e terceiro, nada. Estabelece uma cota. Por exemplo, prefeito de
uma cidade. A administração
tem 300 cargos em comissão.
Se você não puder ter ali três,
quatro, cinco, seis pessoas que
são da sua relação de parentesco, que mundo cão é esse?"
Almeida Lima criticou os colegas que contratam parentes
de outros colegas. "Quando eu
tenho parente, é no meu gabinete mesmo. (...) Você não vai
encontrar ninguém meu nomeado em gabinete de ninguém e não vai encontrar ninguém, de senador nenhum, nomeado no meu gabinete. Isso é
para hipócrita, e eu não sou hipócrita. No dia que eu quiser
nomear minha esposa no meu
gabinete, vou nomear, porque a
Constituição me permite."
O senador Mão Santa
(PMDB-PI) contratou primeiro a mulher, Adalgisa, e depois
uma filha, que já foi desligada
do gabinete. Ele disse estranhar as perguntas sobre as contratações. "Tu é contra a família? Eu não sou. Tu já ouviu falar em Jesus, Maria e José?
Deus não pegou o Filho e desgarrou. Botou numa família."
Líder do governo Lula no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR) contratou três filhos, em
períodos alternados, até o ano
de 2004. Segundo sua assessoria, foi uma espécie de "estágio" para os jovens e agora nenhum trabalha mais lá.
O senador Heráclito Fortes
(DEM-PI), além de ter registrado a passagem, no Senado,
de uma irmã e uma sobrinha,
também contratou a irmã do
executivo Carlos Rodenburg,
braço direito do banqueiro Daniel Dantas. Fortes foi membro
titular da CPI dos Correios,
que investigou o banqueiro.
Sobre sua sobrinha, Fortes
declarou: "Ela faz um serviço
político de natureza pessoal".
O senador Augusto Botelho
(PT-RR) contratou um irmão.
"Ele trabalha, não é esse negócio de fantasma, não", disse.
Divisão
Os boletins que nomeiam e
exoneram servidores do Senado não são divulgados pela internet- para consultá-los, é
preciso uma senha da rede interna do Senado ou a visita pessoal à biblioteca do Senado.
Cada senador tem direito a
cinco cargos de assessores técnicos, seis de secretários parlamentares e um de motorista.
Alguns cargos, contudo, podem
ser fracionados até seis vezes
-o senador Almeida Lima, por
exemplo, reconheceu manter
33 servidores em seu gabinete.
Os valores oscilariam, com o
fracionamento, de R$ 900 a
R$ 4,6 mil mensais.
O gasto líquido mensal do Senado com folha de pagamento é
de R$ 59,8 milhões mensais. Ao
todo, segundo a assessoria do
Senado, há 3.461 servidores
efetivos e 2.785 comissionados.
O diretor-geral do Senado,
Agaciel Maia, reconheceu que
essa multidão de comissionados está liberada do controle de
freqüência, por conta de um ato
da Mesa Diretora de 1997, na
época da gestão de Antonio
Carlos Magalhães (DEM-BA),
morto neste ano.
A ata da reunião afirma: "A
Comissão Diretora [do Senado]
decide que, para a ocupação dos
cargos de secretários parlamentares e assessor, o senador
coloca para trabalhar onde for
o melhor para o exercício do
seu mandato".
"Não sabemos [a freqüência],
porque o senador e o pessoal
botam onde querem. Não tem
controle de freqüência de cargos comissionados no Senado",
disse Agaciel Maia.
Os senadores José Nery
(PSOL-PA) e Jefferson Peres
(PDT-AM), que disseram não
contratar parentes, condenaram o nepotismo. "Acho absolutamente incorreto que gestores contratem parentes para
exercer cargos de confiança. É
uma questão que envolve princípios éticos", disse Nery.
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