São Paulo, domingo, 20 de outubro de 2002

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A empresários, Lula reforça cumprimento de contratos

XICO SÁ
FÁBIO VICTOR
DA REPORTAGEM LOCAL

O candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, reafirmou ontem de manhã, em encontro com empresários, sindicalistas e representantes de entidades civis, que a sua eventual gestão respeitará os contratos e vai promover mudança com segurança e responsabilidade -bordão que tem sido usado contra o petista pela propaganda de José Serra (PSDB), seu adversário.
O encontro comandado por Lula, que reuniu 90 participantes, foi um ensaio, segundo dirigentes do partido, do que será, se ele for eleito, o seu Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, grupo que reunirá, segundo planos do PT, de grandes banqueiros a representantes dos movimentos sociais, como sindicatos e MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
"Sabemos que a atual crise nos mercados financeiros pode ser superada sem quebra de contratos e sem surpresas como as já sofridas pela população com o confisco e a sangria de suas poupanças", disse Lula, que leu o discurso "União pelo Brasil", uma espécie de versão para o segundo turno da "Carta ao Povo Brasileiro", documento divulgado em junho, que teve o objetivo de "acalmar o mercado" ao prometer que o PT não romperia os contratos já firmados pelo governo brasileiro.
Embora Lula tenha advertido várias vezes que ainda não estava eleito, o texto do petista, segundo observaram empresários, tinha o espírito de "discurso de posse".
A uma semana da eleição e com boa parte do PIB brasileiro na platéia do auditório de um hotel paulistano, o partido queria mostrar, segundo apurou a Folha com dirigentes petistas, que a eleição já está encerrada, sem chances de uma virada de Serra.
De improviso, antes do discurso, Lula chamou a atenção para a divisão de responsabilidade em um eventual governo seu: "É um fardo muito pesado para um partido carregar sozinho".
No documento, reforçou o conceito. "Trabalhamos por uma inédita reunião de forças sociais capaz de produzir os melhores remédios para a crise. A idéia chave do meu governo será: se todos ganham, é o Brasil que ganha".
Lula, frisou, porém, que o conselho não será um fórum deliberativo ("já existe o Parlamento"), mas de discussão de propostas.
O petista provocou Serra ao dizer que nunca viu tanta gente disposta a dar soluções para o Brasil. "Só o meu adversário não quer dar uma contribuição, mas ninguém quer ser unanimidade".
Apesar do clima de vitória, Lula afirmou que não há a possibilidade de anunciar nomes de sua equipe agora. "Pedem-me os nomes dos meus ministros e do presidente do Banco Central. Desculpem-me, mas não posso, nem vou, anunciá-los antes dos resultados das urnas. Seria um enorme desrespeito ao eleitor."
Sobre a composição da equipe, disse que deverá mesclar quadros do PT com técnicos e políticos de fora do partido. "Saberemos buscar os nomes no PT, mas também em todas as forças políticas que querem um Brasil decente."
Os participantes do encontro defenderam a idéia de que tantos interesses envolvidos levarão tempo para serem conciliados, unificando o discurso de que, num governo Lula, as mudanças não poderão ser imediatas.
"É preciso o entendimento de todos de que não dá para fazer milagre no dia seguinte. As demandas da sociedade são muito grandes, mas não podem [ser resolvidas" do dia para a noite", declarou o presidente da Firjan (Federação das Indústrias do Estado do RJ), Eduardo Gouvêa Vieira, que após o encontro se reuniu por dez minutos a sós com Lula.



Apoios eleitoreiros
Após participar de reunião que anunciou o apoio do PV a Lula, realizada no mesmo local do encontro principal de ontem, o presidente nacional do PT, José Dirceu, condenou a estratégia de candidatos que, apesar de adversários dos petistas, tentam colar sua candidatura à de Lula.
"Li que o [Joaquim" Roriz [candidato do PMDB ao governo do DF" está começando a fazer uma campanha Lula-Roriz, o que não combina. Esses apoios não são de verdade, são eleitoreiros. Na verdade, há uma debandada geral da candidatura Serra em todo o país", disse Dirceu, que também citou a candidata do PSDB ao governo do MS, Marisa Serrano.
O dirigente petista defendeu a postura dos que criticaram a atriz Regina Duarte por ela declarar que tem medo de um governo Lula. "Não existe nenhum patrulhamento ideológico. O que existe é divergência e debate político. Quem fala o que quer ouve o que não quer", afirmou.


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