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Texto é considerado "leviano" e "infeliz"
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A retratação do Exército em relação à sua manifestação inicial
chegou no final de um dia em que
críticas contra a instituição surgiram de todos os lados. Ministros,
deputados, senadores e entidades
falaram em recaída autoritária e
classificaram a nota de domingo
como "infeliz", "lamentável", "leviana", "um escárnio", entre outras manifestações.
Dois ministros falaram de forma mais direta. Tarso Genro
(Educação) disse que a nota de
domingo "não é produtiva" e que
seu texto "contradiz a atual relação de respeito democrático que
existe entre as Forças Armadas e a
sociedade civil". "Lamentável.
Acredito que o Brasil teve períodos de gigantescos sofrimentos
naquela oportunidade toda", disse Waldir Pires (CGU).
Exército e o Ministério da Defesa sofreram pressão durante o dia
para se retratarem -o que ocorreu no final da tarde. "O governo
Lula não pode tolerar essa nota,
que é violadora dos direitos humanos, defensora do golpe de
1964 e que usa chavões como "movimento comunista internacional". Tem que haver uma retratação ou não dá mais para o [José]
Viegas [Defesa] ser ministro",
afirmou o deputado federal Luiz
Eduardo Greenhalgh (PT-SP), integrante do movimento de defesa
dos direitos humanos. "Com a segunda nota, o caso fica encerrado", disse.
O presidente da Câmara dos
Deputados, João Paulo Cunha
(PT-SP), disse que a manifestação
de domingo representa um tempo que não existe mais. "A nota
foi muito infeliz e reporta a um
tempo que não existe mais. Na
minha impressão, não tem correspondência no comando do
Exército", afirmou.
O PPS divulgou nota em que fala em "escárnio". "Falar em movimento subversivo no quadro de
um regime que se instaurou pela
força das armas, rasgando a
Constituição ao derrubar um presidente da República eleito legitimamente pelo povo brasileiro, é,
antes de desrespeito ao bom senso, um escárnio", diz o texto, assinado pelo presidente da legenda,
deputado Roberto Freire (PE).
Na Câmara, a única voz que se
levantou em defesa do Exército
foi a do deputado Ricardo Izar
(PTB-SP): "Não dá para entender
por que o jornal Correio Braziliense faz uma reportagem 29
anos depois da Anistia, depois
que tudo acabou. (...) Acho que o
Exército não poderia ficar parado
depois de uma reportagem dessa.
Tinha de fazer uma nota, sim, e foi
feita essa nota. Agora, como foi
feita, isso é outra coisa", disse
Além dos políticos, entidades
com a Fenaj (Federação Nacional
dos Jornalistas) e a OAB (Ordem
dos Advogados do Brasil) se manifestaram: "A OAB repudia, veementemente, nota (...) [que] faz a
apologia ao regime de exceção
que vigorou no país patrocinando, impunemente, gravíssimas
violações aos direitos humanos."
Para o presidente da instituição,
Roberto Busato, a afirmação inicial do Exército de que não há documentos comprovando mortes
durante o regime militar (1964-1985) é falha. "Existem outros
meios de provar. O que é de notório conhecimento, não precisa ter
documentos. O povo sabe bem o
que aconteceu naquela época."
A OAB decidiu lançar uma
campanha em defesa da República e da democracia, com ato inicial no dia 15 de novembro, no
Rio de Janeiro.
A Fenaj cobrou investigação sobre a morte ou desaparecimento
de 16 jornalistas durante o regime
militar e manifestou repúdio à
nota de domingo: "É no mínimo
leviana a posição do Exército ao
afirmar que não há documentos
históricos comprovando as torturas, mortes e desaparecimentos."
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