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São Paulo, sábado, 20 de dezembro de 2003

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CASO SANTO ANDRÉ

À Justiça, eles disseram desconhecer Dionizio Aquino Severo, suposto contratado por Gomes da Silva

Acusados negam ter matado Celso Daniel

EDUARDO SCOLESE
DA AGÊNCIA FOLHA

Acusados pelo assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT), José Édison da Silva e Rodolfo Rodrigo dos Santos Oliveira, o Bozinho, negaram ontem terem participado do crime e disseram desconhecer Dionizio Aquino Severo, que, segundo a Promotoria, teria sido contratado pelo empresário Sérgio Gomes da Silva para matar Daniel.
Depoimentos de testemunhas ao Ministério Público, no entanto, contradizem as versões apresentadas por ambos ontem.
Bozinho teria sido visto no apartamento de Severo entre os dias 18 e 20 de janeiro do ano passado, intervalo entre o sequestro e a morte do prefeito.
Outra informação que consta no processo é que José Édison presenciou o assassinato de Severo, em abril do ano passado, dentro do Centro de Detenção Provisória do Belém (na capital paulista), segundo a Secretaria da Administração Penitenciária.
Severo foi morto por outros detentos, dois dias depois de dizer que tinha informações sobre a morte do prefeito e que conhecia Gomes da Silva.
O terceiro indício do vínculo deles com o crime, segundo a Promotoria, são as escutas telefônicas feitas pela Polícia Federal. Nelas constam conversas de Bozinho com outros dois acusados pelo crime -Elcyd Oliveira Brito, o John, e Itamar Messias dos Santos. Itamar e Bozinho foram presos pela polícia em Aparecida (SP), quando retornavam de Itabuna, na Bahia.

Interrogatório
Em interrogatório sigiloso ao juiz Luiz Fernando Migliori Prestes, da 1ª Vara da Comarca de Itapecerica da Serra (Grande São Paulo), os dois denunciados disseram, segundo a Agência Folha apurou, que também nunca tiveram contato com Gomes da Silva.
José Édison e Bozinho, que estão presos, já haviam negado suas participações em depoimentos à Justiça e ao Ministério Público. No ano passado, ao serem presos, confessaram o crime, mas, segundo eles, sob tortura policial.
Ontem, eles chegaram juntos ao fórum, por volta das 13h30, escoltados por cinco policiais militares fortemente armados.
Autores da denúncia -acolhida pela Justiça há dez dias- que aponta Gomes da Silva como um dos mandantes da morte do prefeito, os promotores criminais de Santo André puderam acompanhar os interrogatórios, que duraram, cada um, cerca de uma hora. Para o promotor José Reinaldo Carneiro, as declarações foram "cheias de detalhes".
Os promotores também puderam, ao lado dos advogados de defesa, fazer sugestões de perguntas ao juiz Prestes. Segunda-feira, no mesmo fórum, será a vez de Gomes da Silva ser ouvido.
O clima na sala do juiz foi tenso, principalmente quando os acusados falaram sobre o processo de tortura que teriam sofrido de policiais civis nos dias posteriores as suas prisões, no início de 2002.
Eles disserem que confessaram à polícia após ficarem nus, com os pés e as mãos amarradas e sob doses de choques elétricos.
"Eles só fizeram isso [confessaram] pois passaram por tortura", disse a advogada de Bozinho, Melissa Hee Terra do Amaral. Segundo ela, os dois acusados que depuseram ontem não podem reconhecer os autores da suposta tortura, pois, à época, foram interrogados utilizando capuzes.
A Polícia Civil nega que os depoimentos, nos quais os acusados reconhecem participação no assassinato e dão detalhes do crime, tenham sido colhidos sob tortura.


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