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PT deve dizer "não" a PMDB, afirma Singer
Cientista político defende que partido do presidente Lula oriente suas alianças pelo programa, não pelo pragmatismo
Ex-porta-voz da Presidência diz poder haver convergência entre adeptos do "lulismo" -base social que elegeu o petista em 2006- e o PT
ANA FLOR
DA REPORTAGEM LOCAL
Num momento em que a
simples menção ao PMDB no
documento petista sobre políticas de alianças provocou intenso debate no congresso do
partido que terminou ontem
-e que resolveu não citar a sigla como principal aliada na
campanha-, o cientista político André Singer vai além: defende que o PT tenha coragem
de dizer "não" ao PMDB.
Singer, que foi secretário de
Imprensa e porta-voz da Presidência no primeiro mandato de
Lula, afirma que o "baixo teor
programático do PMDB é danoso para o sistema partidário
brasileiro" e que o PT ganharia
mais se desse preferência a
uma aliança com o PSB.
FOLHA - O PT ainda é um partido de
massas e de trabalhadores?
ANDRÉ SINGER - Continua sendo,
mas já com as mudanças que
eram previsíveis, de acordo
com a trajetória dos grandes
partidos socialistas das democracias ocidentais.
O PT teve uma trajetória de
sucesso eleitoral relativamente
rápida. Isso faz com que o peso
no partido dos que têm mandato comece a crescer. Essa trajetória faz com que o grau de participação, a chamada militância, vá diminuindo ao longo do
tempo. Não é mais a militância
da primeira década.
FOLHA - O que fez a influência de
Lula crescer tanto no partido?
SINGER - O principal fator é o
que eu tenho chamado de lulismo. É um fenômeno novo. Não
é o resultado, ao meu ver, de um
realinhamento eleitoral. A base
social que elegeu Lula em 2006
é diferente da que o elegeu em
2002. Essa nova base social são
os eleitores de baixíssima renda, foram o resultado de políticas de governo do primeiro
mandato. Esse primeiro mandato significou uma mudança
tão importante na estrutura
eleitoral do país que deu ao presidente uma base que é relativamente autônoma do partido.
FOLHA - É uma base diferente daquela que sustenta o PT?
SINGER - O PT tem uma base
eleitoral ampla, mas é uma base
historicamente de classe média. O lulismo trouxe essa novidade de estar ancorado nessa
base de baixo. Isso faz com que
a adesão seja mais a uma figura
que tem grande visibilidade do
que a uma instituição, a um
partido. Eu acho que é possível
que haja uma convergência entre essa base social e o PT.
FOLHA - Se essa adesão ao projeto
se confirmar, garantiria, então, a
eleição da escolhida do presidente?
SINGER - É a minha percepção.
É mais uma adesão de projeto
do que carismática.
FOLHA - Quais os efeitos, para o PT,
de uma aliança com o PMDB?
SINGER - O PMDB tem se caracterizado por ser um partido de
baixo teor programático, o que
é danoso para o sistema partidário brasileiro. Faz com que a
política fique parecendo algo
que diz respeito aos interesses
dos políticos.
FOLHA - Então é ruim para o PT?
SINGER - A opção preferencial
pelo PMDB fortalece esse aspecto negativo. Ela é compreensível do ponto de vista
pragmático. Na minha opinião,
o PT deveria arcar com um certo risco de procurar primeiro
os partidos que estão mais próximos a ele no campo de esquerda e de centro-esquerda.
No caso, o PSB, que tem como
pré-candidato Ciro Gomes. O
PSB ainda é um partido ideologicamente mais próximo do
PT. Eu também poderia me referir ao PDT, ao PC do B. O PT
deveria retomar uma prática de
que suas alianças fossem orientadas pelo programa.
FOLHA - O PT decidiu não correr o
risco por ter uma candidata eleitoralmente fraca?
SINGER - Eu acho que o problema é de outra natureza. Acho
que o pragmatismo é uma força
extraordinária em partidos
eleitorais. Todo partido tende a
ser fortemente pragmático.
FOLHA - Mas se o candidato fosse
alguém mais conhecido do eleitor,
seria diferente?
SINGER - Eu não sei. Uma vez
estabelecidos os critérios pragmáticos, como o tempo na TV e
essa relativa capilaridade eleitoral [do PMDB], sempre será
um elemento fortemente levado em consideração. O que está
em jogo é pragmatismo versus
opção programática.
FOLHA - O fato de Lula ter escolhido a candidata enfraquece o PT?
SINGER - Essa é uma condição
que está relacionada com a
grande influência de uma liderança carismática, que tem os
votos. Sem dúvida, ela significa
que o partido é fortemente influenciado por essa liderança.
FOLHA - O lulismo pode engolir o
PT?
SINGER - A questão se vai haver
essa convergência ou não vai
depender de em que medida esses eleitores que a meu ver aderiram ao lulismo irão pouco a
pouco votar no PT. Nas eleições
de 2006 os estudos mostram
que isso não aconteceu. A base
social do PT continua sendo a
base social tradicional, mais
forte no Sudeste e no Sul do que
no interior do Norte e Nordeste. Dá para ver essa diferença
entre lulismo e petismo.
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