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CASO CC5
Documentos mostram que direção do Banestado e funcionários do Banco Central tinham conhecimento de esquema
BC sabia que contas tinham nome de laranjas
JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM LONDRINA
A direção do Banestado e funcionários do Banco Central em
Curitiba (PR) sabiam que contas
CC5 (de não-residentes), usadas
para enviar dinheiro para o exterior, estavam em nome de laranjas, de acordo com documentos e
transcrições de depoimentos obtidos pela Agência Folha.
O Banestado (Banco do Estado
do Paraná) foi privatizado em outubro de 2000. Antes disso, segundo força-tarefa formada por procuradores da República e policiais
federais, foram abertas no banco
diversas contas CC5 em nome de
laranjas (pessoas usadas, muitas
vezes sem saber, como agentes de
transações irregulares ou fraudulentas, deixando oculta a identidade do verdadeiro autor).
Um dos documentos obtidos
pelos procuradores Carlos Fernando dos Santos Lima e Vladimir Barros Aras, da força-tarefa,
mostra como o assunto laranjas
foi tratado pela diretoria do banco. É um parecer de maio de 1997
assinado pelo então assessor jurídico da presidência do Banestado,
Fausto Pereira de Lacerda Filho.
O primeiro parágrafo diz: "A
propósito da consulta vinculada à
conveniência ou não de o banco
manter as contas correntes, abertas em nome de laranjas, para viabilizar a movimentação cambial
de doleiros, em que pese o desconforto moral que a prática possa acarretar, (...) há que considerar que, do ponto de vista legal, tal
conduta se apresenta absolutamente legítima".
Detalhes
Em documento interno do Banestado datado de 18/02/1998, assinado pelo então responsável pelo câmbio em Foz do Iguaçu (PR),
Benedito Barbosa Neto, e dirigido
a um auditor do banco, há detalhes de como o banco operava
com as contas de laranjas.
Barbosa Neto escreve, no documento, que a Tupy Câmbios e a
Youssef Câmbios operavam com
contas de laranjas por um período
de 20 dias no máximo, sendo então substituídas por outras contas
de laranjas.
O objetivo, segundo a Agência
Folha apurou, era não chamar a
atenção do Banco Central para
grandes movimentações.
Banco Central
Em depoimentos à Justiça Federal, o doleiro Alberto Youssef, dono da Youssef Câmbios, afirma
que dois funcionários do Banco
Central em Curitiba -os responsáveis pelas operações de câmbio
no Paraná George Pantelíades, o
"Grego", e Rafael Schimidt Neto,
o "Alemão",- sabiam das contas
de laranjas.
Essa informação foi confirmada
em depoimento por Gabriel Nunes Pires Neto, ex-diretor de câmbio e operações internacionais do
Banestado.
Segundo a força-tarefa, depoimentos e documentos indicam
que ex-funcionários do Banestado recebiam comissão dos doleiros que operavam as contas de laranjas para manter o esquema.
Os doleiros que pagavam essas
comissões eram Youssef, de Londrina (PR), e José Luiz Mesa e
Carlos Palmerola, da Tupy Câmbios, de Campinas (SP).
As contas de laranjas eram
mantidas, principalmente, nas
agências do Banestado em Foz do
Iguaçu e Londrina.
Em depoimento à Justiça Federal, Youssef afirmou que pagava
até US$ 120 mil por mês, especialmente entre os anos de 1996 e
1998, para diretores, gerentes e
operadores de câmbio do Banestado.
O ex-diretor do banco Gabriel
Nunes Pires Neto, também em
juízo, confirmou o recebimento
das comissões pela diretoria do
banco. Ele próprio era um dos beneficiados no esquema.
Prisão de ex-diretor
Com base sobretudo nesses depoimentos, o juiz Sérgio Fernando Moro, da 2ª Vara Federal Criminal de Curitiba, determinou na
última quinta-feira a prisão preventiva do ex-diretor e ex-vice-presidente do Banestado Aldo de
Almeida Júnior.
Acusado de remeter R$ 1,9 bilhão para contas do Banestado em
Nova York e para paraísos fiscais,
Almeida Júnior foi preso sob a
acusação de ter destruído provas.
Ele já havia sido preso por 23 dias
e libertado por decisão do TRF
(Tribunal Regional Federal) de
Porto Alegre.
Almeida Júnior ocupou os cargos de direção no Banestado entre
janeiro de 1995 e outubro de 1997,
quando teria montado o esquema
com contas de laranjas para os
doleiros.
Ele foi substituído por Gabriel
Nunes Pires Neto na diretoria de
câmbio do banco, que, segundo a
força-tarefa, continuou com o esquema.
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