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INVESTIGAÇÃO
Após receber movimentações bancárias do ex-prefeito na Suíça, autoridades brasileiras investem sobre paraíso fiscal
Jersey é pressionada a liberar contas de Maluf
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Estimulados pela decisão da
Suíça de remeter ao Brasil as movimentações bancárias do ex-prefeito Paulo Maluf (PP), autoridades brasileiras preparam uma
ofensiva para pressionar Jersey a
seguir o mesmo caminho.
Segundo informações da Suíça,
valores mantidos por Maluf em
Genebra foram transferidos, em
1997, para uma conta no Citibank
da ilha de Jersey, paraíso fiscal do
canal da Mancha. Agora, procuradores e promotores querem
completar a rota do dinheiro.
Desde que a Folha publicou, em
junho de 2001, que autoridades de
Jersey haviam bloqueado pelo
menos US$ 200 milhões pertencentes ao ex-prefeito, Maluf nega
peremptoriamente possuir valores fora do Brasil. Na semana passada, divulgou nota reafirmando
não ser titular de contas na Suíça.
Segundo o procurador Pedro
Barbosa e o promotor Silvio Marques, nos quase dois anos e meio
de espera pelos documentos, Jersey se mostrou muito mais reticente do que a Suíça na hora de
colaborar com as investigações.
Por isso, o Brasil irá enviar, via Secretaria Nacional de Justiça, um
novo ofício a Jersey pedindo
"presteza" na remessa de dados.
"A base do pedido de ajuda internacional é a mesma. De modo
que, se a Suíça encaminhou os papéis bancários, Jersey não terá
mais motivos para dificultar o envio dos documentos para o Brasil", afirmou Barbosa.
Uma das últimas manifestações
de Jersey é de novembro de 2002,
quando enviou um ofício ao Brasil com o título "Paulo Maluf". Informava o seguinte: "Não é possível nem apropriado que os fundos
fiquem imobilizados por tempo
indefinido. A Procuradoria Geral
determinou que a polícia do Estado de Jersey seja aconselhada a
permitir a movimentação de tais
fundos". Hoje o governo brasileiro não tem certeza se o bloqueio
ainda está mantido.
Penal
Por meio dos documentos bancários remetidos pela Suíça, a
Procuradoria criminal irá definir
os eventuais crimes imputados ao
ex-prefeito. Originalmente, Maluf
é investigado por suposta evasão
de divisas e lavagem de dinheiro.
Para o Ministério Público, no período em que foi prefeito de São
Paulo, de 1993 a 1996, Maluf remeteu para o exterior verbas de
obras públicas.
A eventual propositura de ação
criminal contra ele, no entanto,
irá depender das datas das últimas movimentações financeiras e
dos termos impostos pelo governo suíço -que tem o poder de
restringir o uso dos papéis.
Para a lavagem de dinheiro, é
preciso existir movimentação financeira após abril de 98 -data
em que a lei entrou em vigor.
A lei brasileira prevê prazo prescricional de 12 anos para os crimes imputados a Maluf (evasão e
sonegação). Como ele tem mais
de 70 (tem 72), o prazo de prescrição cai pela metade. Com isso, ele
só poderá ser acusado criminalmente se ficar comprovado que
movimentou dinheiro no exterior
há menos de seis anos.
Essas informações serão conhecidas após a abertura, tradução e
análise dos documentos da Suíça.
Os papéis, remetidos ao Brasil na
última sexta-feira, serão encaminhados ao Ministério das Relações Exteriores e, depois, à Secretaria Nacional de Justiça.
"Sem o exame da documentação, é absolutamente precipitado
afirmar que Maluf não pode ser
processado ou fazer qualquer juízo de prescrição. Só os documentos poderão dizer isso. Como não
fiz essa análise ainda, não posso
falar", disse Barbosa.
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