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Senador diz ser popular ao
rebater críticas de populismo
ELIANE CANTANHÊDE
Diretora da Sucursal de Brasília
Para o senador Iris Rezende,
"existe um Goiás antes do PMDB e
um Goiás depois do PMDB". Leia-se: antes e depois do próprio Iris
Rezende. O PMDB em Goiás é e está Iris Rezende desde sua fundação. E a influência do partido e do
seu líder não se limita a Goiás. Extrapola fronteiras e atinge a todo o
Centro-Oeste. Ou atingia.
Iris Rezende é o símbolo do poder e da política populista da região, especialmente depois da redemocratização de 1984/85. Mas
vem sendo empurrado para o ostracismo por denúncias de corrupção e pelo vento renovador que sopra em Goiás, Mato Grosso e Mato
Grosso do Sul.
"Sou um homem machucado",
disse Iris Rezende em entrevista à
Folha, depois de descoberto o escândalo da Caixego (Caixa Econômica de Goiás), envolvendo verbas
de sua campanha eleitoral e levando à prisão um dos quatro irmãos,
Otoniel Machado.
Machucado pelas denúncias e
também pela surpreendente derrota nas eleições do ano passado.
As duas coisas se entrelaçam. Ex-governador duas vezes, ele disputou um terceiro mandato e perdeu.
Começou a campanha como favorito. Foi vencido no segundo turno
pelo muito mais jovem Marconi
Perillo, 36, do PSDB.
Dizia-se, durante o regime militar, que Goiás, escondido no centro do Brasil, mas vizinho à capital
da República, abrigava três tipos
de políticos: os que cassaram, os
que foram cassados e os que tanto
cassaram quanto foram cassados.
Iris Rezende ficou no lado heróico: o dos cassados. Nasceu num vilarejo chamado Cristianópolis e
cresceu "na roça", filho de agricultor e mãe dona-de-casa. Ambos
eram evangélicos, como ele é até
hoje. Só aos 16 anos mudou para a
capital, Goiânia.
Apesar disso, conseguiu ser líder
estudantil no ginásio e científico
(atuais primeiro e segundo graus).
Na primeira eleição foi o vereador
mais votado da capital. Era do PTB
original, tinha 25 anos e estudava
direito na Universidade Federal de
Goiás, onde ser formou.
Quatro anos depois, foi o deputado estadual mais votado, já pelo
PSD. Mais quatro, em 1966, era
eleito prefeito de Goiânia, inaugurando um estilo próprio e consolidando sua marca registrada: os
mutirões populares, onde se misturava a pessoas comuns, com pás,
foices, cimento e suor para as fotos, muitas fotos.
"Ninguém sabia o que era mutirão nem a palavra mutirão. Mas eu
apenas introduzi na cidade o que
aprendi na roça. Então, era mutirão para construir casa, para limpar a rua, para tudo", conta hoje.
Deu certo. A fama do populista
Iris Rezende varou fronteiras e
chegou à capital da República, governada por generais. E ele foi cassado em 1969, perdendo seus direitos políticos por dez anos. Nesse
tempo, exerceu a advocacia e acumulou três fazendas de gado.
Nem por isso desistiu da política.
Nas primeiras eleições diretas para
governador, em 1982, foi eleito
com folga em Goiás, mais uma vez
derrotando algumas das oligarquias mais sólidas da República,
como a dos Ludovico e a dos Caiado. Era um fenômeno.
Seu mal disfarçado sonho naquela época já era o de entrar na
política nacional e disputar, um
dia, a Presidência da República. O
pulo nacional foi com a campanha
das "diretas já", em 1984, e a eleição de Tancredo Neves no colégio
eleitoral, em 1985.
A história registra que tanto o
primeiro comício das diretas
quanto o primeiro comício de
Tancredo foram no reduto de Iris:
Goiânia. Ambos um sucesso.
Ele era 1 dos dez governadores de
oposição eleitos em 82 (nove do
PMDB, inclusive Iris, e um do
PDT, Leonel Brizola, do Rio). Era
um dos mais carismáticos, e o que
dava mais segurança para o êxito
dos comícios de oposição.
Foi assim que Iris saiu de Goiânia para Brasília como ministro da
Agricultura (área decisiva para
Goiás) no governo que seria de
Tancredo e acabou sendo de José
Sarney. Acumulou, depois, a Reforma Agrária.
"Além de ser um dos poucos governadores do PMDB, ele era
atuante, modernizante, tinha fama
de excelente administrador", diz
Sarney, que foi da Arena e do PDS,
só passou para o PMDB para ser
vice de Tancredo e consumiu os
cinco anos de seu governo em turras com os peemedebistas.
Iris voltou ao governo de Goiás,
disputou em seguida o Senado e
integrou o primeiro mandato de
Fernando Henrique Cardoso a
partir de maio de 1997. Como ministro da Justiça, cometeu a gafe de
dizer que "o crime às vezes é inevitável".
Mas teve pelo menos uma vantagem: chefiou a Polícia Federal,
mesma instituição responsável,
agora, por um relatório sobre a
Caixego em que não há uma única
referência ao seu irmão Otoniel.
Suas duas tentativas de fincar pé
no Planalto não deram certo. Em
1989, disputou a indicação do
PMDB para concorrer à Presidência. Perdeu para Ulysses Guimarães. Em 1994, colocou a mulher,
também chamada Iris, como vice
na chapa presidencial de Orestes
Quércia. Ficaram em 5º lugar.
Sarney - como os políticos em
geral - não gosta do termo "populista". Para ele, Iris Rezende é
"popular". Mas o próprio Iris diz
de seu estilo não é populista nem
popular: "Não é nada disso. Eu faço administrações participativas".
Segundo o Aurélio, populismo é
"política fundada no aliciamento
das classes sociais de menor poder
aquisitivo". Popular é "homem do
povo" ou "simpático ao povo".
Durante décadas deu certo, mas
começa a dar errado. Em Mato
Grosso, o ainda jovem Dante de
Oliveira derrotou oligarquias consolidadas nas eleição de 1994 e acaba de ser reeleito. Em Mato Grosso
do Sul, o novo governador é Zeca
do PT. Em Goiás, Marconi Perillo
ameaça desbancar o longo reinado
de Iris Rezende.
Discretamente, e a contragosto,
Iris reconhece que poderia ter salvo seu grupo da derrota se mantivesse o processo natural e deixasse
o aliado Maguito Vilela tentar a
reeleição.
Bem mais jovem (50 anos), Maguito estava entre os governadores
mais bem avaliados do país na última leva. Talvez por isso, ameaçasse a hegemonia de Iris Rezende.
Maguito disputou o Senado e ganhou. Iris insistiu no governo e
perdeu.
"O Maguito é que não quis disputar", diz Iris Rezende. Não há
um só goiano capaz de acreditar.
Para Iris Rezende, "política é um
dom". Um dom que ele soube
exercitar muito bem, e que ainda
pretende exercitar durante um
bom tempo, apesar dos percalços e
das suspeitas lançadas sobre sua
família e sobre sua campanha.
A volta por cima, entretanto, está
diretamente vinculada ao sucesso
ou não do atual governador Marconi Perillo.
"Já vi gente novinha assumir a
Presidência da República e sair enxotada do Planalto com o povo
gritando na rua", diz Iris. A referência é ao ex-presidente Fernando Collor. O aviso, a Perillo.
O sumiço de R$ 5 milhões e a troca de acusações em torno da Caixego são apenas o início de uma
guerra que vai longe. E Iris Rezende está bem no meio dela.
"O prestígio e o conceito que se
adquirem em 40 anos não se acabam em 40 dias ou por causa de
uma derrota", avisa ele.
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