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PERSONALIDADE
Motta enviou texto escrito à mão por fax ao sítio do presidente, em Ibiúna, dez dias antes de morrer
FHC revela última carta recebida do "irmão'
da Sucursal de Brasília
O presidente Fernando Henrique Cardoso revelou ontem o teor
de um fax que recebeu de Sérgio
Motta dez dias antes de o ministro
morrer. "Não se apequene. Cumpra seu destino histórico, coordene as transformações do país", escreveu Motta na carta (veja quadro ao lado).
FHC disse, em pronunciamento,
que foi a "última manifestação
consciente" do ministro, a quem
definiu como "mais que um amigo, um irmão". O pronunciamento, feito no Palácio do Planalto,
durou cerca de 7 minutos (leia íntegra abaixo).
Em memória de Motta, o presidente decretou luto oficial no país
por três dias -até amanhã. Serão
suspensas as realizações de cerimônias oficiais e as bandeiras serão hasteadas a meio pau em todos
os prédios públicos.
Ao ler o fax, escrito à mão por
Motta, num tom próximo do de
despedida, FHC não conteve a
emoção. Com a voz pausada e os
olhos cheios de lágrimas, lembrou
que o viu, na sexta-feira passada,
em visita ao hospital, "praticamente sem forças".
O fax foi enviado para o sítio do
presidente em Ibiúna (SP), minutos antes de Motta ser transferido
para a UTI (Unidade de Terapia
Intensiva) do Hospital Israelita Albert Einstein.
Os familiares do ministro informaram FHC da morte no domingo, por volta das 24h, no Palácio
da Alvorada. Pouco antes, ele havia chegado de uma viagem de três
dias ao Chile.
No fax, Motta anexou uma cópia
do editorial do "Jornal de Brasília", do dia 9, no qual há elogios
ao processo de privatização da
banda B da telefonia celular.
"São sinais como esses que quero que seu governo tenha, pois estarão na sua continuidade de vida", escreveu.
Motta creditou ao apoio de FHC
o avanço na privatização do setor
de telecomunicações. "Nada disso (é verdade!) seria possível na
minha área sem seu apoio. Tudo o
que propus está revolucionando o
setor", escreveu.
Virtude
"Aqui se vê o Sérgio de corpo e
alma. Ele atribuindo a outrem, no
caso a mim, virtude que foi dele,
de transformar o setor das telecomunicações", disse o presidente.
Em outro trecho, Motta afirmou
que as "políticas de transformação" do país não podem ser afetadas ou alteradas em decorrência
de processos conjunturais.
Ele concluiu com uma recomendação ao presidente. "Você nunca
titubeou. Aja assim sempre em todas as áreas e conte comigo."
Motta escreveu ainda ter ficado
orgulhoso ao saber que o primeiro-ministro inglês Tony Blair tinha convidado FHC a se integrar
ao que chamou de "terceira via"
-alternativa ao liberalismo e à intervenção do Estado na economia.
Inspiração
Segundo FHC, a memória de
Sérgio Motta servirá de inspiração
para os que acreditam "que é possível mudar as coisas, mudar para
melhor".
"Ele (Sérgio Motta) se dedicou
com muito entusiasmo às tarefas
que lhe foram atribuídas para mudar e melhorar o Brasil. Isso vem
de longe", disse o presidente.
Na sequência, FHC afirmou que
Motta servirá de referência para os
tucanos, mas também fará falta
para os demais partidos, inclusive
os de oposição.
"O Sérgio sempre foi um homem sério e comprometido",
afirmou. "A vida é assim."
Para FHC, Motta era um militante que tinha profundas convicções e que lutava por objetivos e
ideais. Segundo ele, "seu estilo
afirmativo" eventualmente afetava as pessoas.
Porém, destacou, Motta "nunca
guardou rancor e sempre foi capaz
de refazer amizades".
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