|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PERSONALIDADE
Bernardino Tranchesi Jr., cardiologista de Motta, afirma que fibrose era muito pior do que um câncer
Tucano sabia da gravidade, diz médico
LUIS HENRIQUE AMARAL
da Reportagem Local
O cardiologista Bernardino
Tranchesi Jr., médico particular
de Sérgio Motta, afirmou ontem
que a doença que causou a morte
do ministro foi uma fibrose no
pulmão associada a infecções e inflamações no órgão. "Era muito
pior que um câncer", afirmou.
"Todo mundo acha que quando
a coisa é ruim é porque é câncer.
Mas a doença dele é muito pior.
Era uma doença de causa desconhecida, de uma agressividade
muito grande, de um progressão
muito rápida", afirmou o médico.
Segundo Tranchesi, a fibrose
(formação de cicatrizes) no interstício pulmonar, a região que fica
entre os alvéolos, "não tinha mais
volta". A fibrose, associada a infecções e inflamações no pulmão,
foi a causa da morte de Motta.
Em uma pessoa normal, o oxigênio inspirado chega aos alvéolos,
onde é trocado por gás carbônico.
Motta tinha parte do pulmão com
cicatrizes enrijecidas, que impediam a troca de gases, diminuindo
o nível de oxigênio no organismo.
Tranchesi Jr. disse que a infecção
do pulmão não chegou a atingir
outros órgãos. "A insuficiência
respiratória é que foi progredindo
e se tornou inviável a função respiratório dele", afirmou.
A formação dessa fibrose pode
ter origem hereditária. O pai de
Motta morreu de enfisema pulmonar. "O que se acredita hoje é que
ele tinha uma pré-disposição para
ter essa fibrose. Ela tem uma causa
muitas vezes hereditária."
A fibrose intersticial atingiu o
ministro há cerca de 10 anos. Entre
1991 e 95 ela se estabilizou. Mas,
nos últimos anos, vinha favorecendo o surgimento de surtos de
inflamação e infecção.
Ao ser internado no Hospital Israelita Albert Einstein, o ministro
Motta já sabia que seu estado era
muito grave. Antes de ser sedado,
ele fez um último pedido para os
médicos. "Ele pediu para que nós
lutássemos por ele, porque ele
queria viver", disse Tranchesi Jr.
Motta foi internado no último
dia 7. No dia 10, seu quadro se
agravou e ele foi transferido para a
UTI do hospital, onde teve de ser
sedado para não sentir a colocação
de um tubo que levava oxigênio
para seu pulmão. Ao contrário de
boatos que correram no hospital,
depois da primeira sedação, Motta
não deu sinais de que teria recobrado a consciência.
Segundo Tranchesi Jr., depois da
internação de Motta, no final de
março, no National Jewish Hospital, na cidade de Denver (EUA),
foi diagnosticado que seu estado
era muito grave.
"Foi uma coisa progressiva.
Desde a internação dele notamos
que a situação tinha ficado muito
grave. Mas ele tinha muita vontade
de viver e de lutar contra a doença.
Isso foi uma característica. Ele
sempre lutou para ficar vivo e era
muito corajoso", disse.
Trabalho
Nos primeiros dias de internação em São Paulo, Motta não parou de despachar com seus assessores. Questionado sobre isso, o
médico Tranchesi Jr. foi lacônico:
"Ele trabalhou porque achava que
tinha algumas coisas para completar antes de ir.... De haver uma
piora no quadro dele".
Para o médico, o estado de saúde
de Motta não foi agravado pela insistência do ministro em continuar trabalhando. "Não foi pela
atividade ou pelo trabalho que ele
piorou", disse. "Os médicos
nunca pediram para ele parar de
trabalhar. E não iria mudar a história dessa doença", afirmou.
Tranchesi Jr. disse ainda que as
informações de que a infecção de
Motta teria ocorrido pela falta de
limpeza no sistema de ar-condicionado é "uma suposição ainda
não confirmada".
O médico revelou que partes do
tecido do pulmão de Motta foram
enviados ontem para os EUA para
serem examinados. "Vamos tentar confirmar o que aconteceu. Inclusive o problema do ar-condicionado", disse.
Segundo Tranchesi Jr., a possibilidade de transplante de pulmão
foi afastada porque Motta não tinha condições de saúde para suportá-lo. "O que pudemos tentar
foi uma terapêutica alternativa,
composta por drogas novas, principalmente antiinflamatórios
prescritos em Denver", disse.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|