São Paulo, terça, 21 de abril de 1998

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PERSONALIDADE
Bernardino Tranchesi Jr., cardiologista de Motta, afirma que fibrose era muito pior do que um câncer
Tucano sabia da gravidade, diz médico

LUIS HENRIQUE AMARAL
da Reportagem Local

O cardiologista Bernardino Tranchesi Jr., médico particular de Sérgio Motta, afirmou ontem que a doença que causou a morte do ministro foi uma fibrose no pulmão associada a infecções e inflamações no órgão. "Era muito pior que um câncer", afirmou.
"Todo mundo acha que quando a coisa é ruim é porque é câncer. Mas a doença dele é muito pior. Era uma doença de causa desconhecida, de uma agressividade muito grande, de um progressão muito rápida", afirmou o médico.
Segundo Tranchesi, a fibrose (formação de cicatrizes) no interstício pulmonar, a região que fica entre os alvéolos, "não tinha mais volta". A fibrose, associada a infecções e inflamações no pulmão, foi a causa da morte de Motta.
Em uma pessoa normal, o oxigênio inspirado chega aos alvéolos, onde é trocado por gás carbônico. Motta tinha parte do pulmão com cicatrizes enrijecidas, que impediam a troca de gases, diminuindo o nível de oxigênio no organismo.
Tranchesi Jr. disse que a infecção do pulmão não chegou a atingir outros órgãos. "A insuficiência respiratória é que foi progredindo e se tornou inviável a função respiratório dele", afirmou.
A formação dessa fibrose pode ter origem hereditária. O pai de Motta morreu de enfisema pulmonar. "O que se acredita hoje é que ele tinha uma pré-disposição para ter essa fibrose. Ela tem uma causa muitas vezes hereditária."
A fibrose intersticial atingiu o ministro há cerca de 10 anos. Entre 1991 e 95 ela se estabilizou. Mas, nos últimos anos, vinha favorecendo o surgimento de surtos de inflamação e infecção.
Ao ser internado no Hospital Israelita Albert Einstein, o ministro Motta já sabia que seu estado era muito grave. Antes de ser sedado, ele fez um último pedido para os médicos. "Ele pediu para que nós lutássemos por ele, porque ele queria viver", disse Tranchesi Jr.
Motta foi internado no último dia 7. No dia 10, seu quadro se agravou e ele foi transferido para a UTI do hospital, onde teve de ser sedado para não sentir a colocação de um tubo que levava oxigênio para seu pulmão. Ao contrário de boatos que correram no hospital, depois da primeira sedação, Motta não deu sinais de que teria recobrado a consciência.
Segundo Tranchesi Jr., depois da internação de Motta, no final de março, no National Jewish Hospital, na cidade de Denver (EUA), foi diagnosticado que seu estado era muito grave.
"Foi uma coisa progressiva. Desde a internação dele notamos que a situação tinha ficado muito grave. Mas ele tinha muita vontade de viver e de lutar contra a doença. Isso foi uma característica. Ele sempre lutou para ficar vivo e era muito corajoso", disse.

Trabalho
Nos primeiros dias de internação em São Paulo, Motta não parou de despachar com seus assessores. Questionado sobre isso, o médico Tranchesi Jr. foi lacônico: "Ele trabalhou porque achava que tinha algumas coisas para completar antes de ir.... De haver uma piora no quadro dele".
Para o médico, o estado de saúde de Motta não foi agravado pela insistência do ministro em continuar trabalhando. "Não foi pela atividade ou pelo trabalho que ele piorou", disse. "Os médicos nunca pediram para ele parar de trabalhar. E não iria mudar a história dessa doença", afirmou.
Tranchesi Jr. disse ainda que as informações de que a infecção de Motta teria ocorrido pela falta de limpeza no sistema de ar-condicionado é "uma suposição ainda não confirmada".
O médico revelou que partes do tecido do pulmão de Motta foram enviados ontem para os EUA para serem examinados. "Vamos tentar confirmar o que aconteceu. Inclusive o problema do ar-condicionado", disse.
Segundo Tranchesi Jr., a possibilidade de transplante de pulmão foi afastada porque Motta não tinha condições de saúde para suportá-lo. "O que pudemos tentar foi uma terapêutica alternativa, composta por drogas novas, principalmente antiinflamatórios prescritos em Denver", disse.



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