São Paulo, terça, 21 de abril de 1998

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Mesmo desaconselhado, paciente voltou ao Brasil para trabalhar

ALESSANDRA BLANCO
de Nova York

O ministro Sérgio Motta sabia que uma nova crise pulmonar poderia levá-lo à morte, mas decidiu deixar os EUA, há cerca de um mês, e voltar ao Brasil porque acreditava que tinha "muito trabalho a fazer". A informação foi dada ontem pelo pneumologista Marvin Schwarz, que acompanhou os exames de Motta em Denver, Colorado (EUA), em março.
Schwarz disse ontem que o estado de Motta era considerado grave, necessitando de um transplante de pulmão. Metade do órgão já havia desenvolvido fibrose por causa da doença.
"Discutimos longamente se ele deveria ficar em Denver para esperar o transplante, mas isso poderia levar meses, e ele quis voltar ao Brasil para continuar seu trabalho", disse.
Segundo o pneumologista, no entanto, apenas o fato de permanecer em Denver, seguindo o tratamento, não teria salvo a vida do ministro. "Ele estava recebendo em São Paulo o mesmo tratamento que teria aqui. A única coisa é que estaria apenas esperando pelo transplante. Eu temia que uma nova crise ocorresse, temia sua viagem de volta ao Brasil no avião. Sabíamos que outra crise poderia ser fatal, apenas não esperávamos que isso fosse ocorrer tão cedo. Não acho que houve qualquer erro de avaliação ou mesmo de tratamento, era um processo muito agudo", disse Schwarz à Folha, por telefone, de Denver.
A espera por um transplante de pulmão pode levar até um ano. Isso porque é preciso encontrar um doador com o mesmo tamanho de pulmão e o mesmo tipo sanguíneo do paciente, que também deve estar em boas condições cardíacas.
O hospital da Universidade do Colorado e o National Jewish Hospital, em Denver, onde Motta fez exames, são considerados os melhores no país nesse tipo de cirurgia. Após o transplante, a expectativa de vida é de cinco anos.
Em Denver, Motta e seus médicos negaram que o transplante estivesse sendo cogitado. Segundo Bernardino Tranchesi Jr., o ministro estaria em um primeiro estágio da doença, que poderia ser tratado com medicamentos, e o transplante era a última opção.
A equipe de médicos de Denver apenas trocou a medicação que o ministro vinha tomando e exigiu que ele usasse oxigênio ligado ao nariz, além de evitar lugares muito cheios e viagens, para não sofrer mudanças de altitude.
Schwarz voltou a dizer ontem que não teve nenhum outro contato com os médicos brasileiros do ministro ou com sua família desde que deixaram Denver e foi informado sobre sua morte pela imprensa.



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