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Mesmo desaconselhado, paciente
voltou ao Brasil para trabalhar
ALESSANDRA BLANCO
de Nova York
O ministro Sérgio Motta sabia
que uma nova crise pulmonar poderia levá-lo à morte, mas decidiu
deixar os EUA, há cerca de um
mês, e voltar ao Brasil porque
acreditava que tinha "muito trabalho a fazer". A informação foi
dada ontem pelo pneumologista
Marvin Schwarz, que acompanhou os exames de Motta em Denver, Colorado (EUA), em março.
Schwarz disse ontem que o estado de Motta era considerado grave, necessitando de um transplante de pulmão. Metade do órgão já
havia desenvolvido fibrose por
causa da doença.
"Discutimos longamente se ele
deveria ficar em Denver para esperar o transplante, mas isso poderia
levar meses, e ele quis voltar ao
Brasil para continuar seu trabalho", disse.
Segundo o pneumologista, no
entanto, apenas o fato de permanecer em Denver, seguindo o tratamento, não teria salvo a vida do
ministro. "Ele estava recebendo
em São Paulo o mesmo tratamento que teria aqui. A única coisa é
que estaria apenas esperando pelo
transplante. Eu temia que uma nova crise ocorresse, temia sua viagem de volta ao Brasil no avião.
Sabíamos que outra crise poderia
ser fatal, apenas não esperávamos
que isso fosse ocorrer tão cedo.
Não acho que houve qualquer erro
de avaliação ou mesmo de tratamento, era um processo muito
agudo", disse Schwarz à Folha,
por telefone, de Denver.
A espera por um transplante de
pulmão pode levar até um ano. Isso porque é preciso encontrar um
doador com o mesmo tamanho de
pulmão e o mesmo tipo sanguíneo
do paciente, que também deve estar em boas condições cardíacas.
O hospital da Universidade do
Colorado e o National Jewish Hospital, em Denver, onde Motta fez
exames, são considerados os melhores no país nesse tipo de cirurgia. Após o transplante, a expectativa de vida é de cinco anos.
Em Denver, Motta e seus médicos negaram que o transplante estivesse sendo cogitado. Segundo
Bernardino Tranchesi Jr., o ministro estaria em um primeiro estágio
da doença, que poderia ser tratado
com medicamentos, e o transplante era a última opção.
A equipe de médicos de Denver
apenas trocou a medicação que o
ministro vinha tomando e exigiu
que ele usasse oxigênio ligado ao
nariz, além de evitar lugares muito
cheios e viagens, para não sofrer
mudanças de altitude.
Schwarz voltou a dizer ontem
que não teve nenhum outro contato com os médicos brasileiros do
ministro ou com sua família desde
que deixaram Denver e foi informado sobre sua morte pela imprensa.
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