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São Paulo, quarta-feira, 21 de maio de 2003

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"Paciência e fé têm limites", diz líder do MST

JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM LONDRINA

"Paciência e fé têm limites." Com essa frase, João Paulo Rodrigues, 23, uma das principais lideranças do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), sinalizou o fim da lua-de-mel do movimento com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Rodrigues disse que ouviu a frase -que ele afirma estar repetindo em todas as reuniões de que participa- duas semanas atrás de um acampado na Paraíba. Ela mostra que "os mais de cem mil acampados pelo país já estão perdendo a paciência". Segundo ele, o MST irá aprofundar, a partir de junho, o enfrentamento com o latifúndio em todo o país e o "presidente Lula vai ter que decidir a que veio".
Questionado se, na prática, a intensificação das ações seria o fim da trégua do MST com Lula, Rodrigues foi taxativo: "Fim da trégua não, porque o movimento nunca deu trégua a nenhum governo. Mas, depois de cinco meses, Lula já devia estar com a máquina arrumada e mostrar que tipo de reforma agrária quer para o país".
Logo após as eleições presidenciais, havia consenso entre as principais lideranças nacionais do MST de que Lula iria precisar de um tempo de governo para "arrumar a casa". Após a posse, com a nomeação de Miguel Rossetto (político da esquerda petista que tem a confiança dos sem-terra) para o Ministério de Desenvolvimento Agrário, os líderes do MST tinham esperança de que Lula iria fazer a reforma agrária desejada pelo movimento. Depois de cinco meses, a lua-de-mel parece ter acabado.
Para Rodrigues, o MST não está contra Lula, mas preocupado com a falta de um sinal concreto de que o governo Lula vai "realmente" enfrentar a desigualdade social e a falta de justiça agrária no país.
O líder do MST calcula que existem 140 mil acampados em todo o país, de diversos movimentos sociais, sendo que 85.000 deles seriam do MST. "Essa massa quer de Lula uma decisão e um avanço concreto, não paliativos sobre a reforma agrária. Queremos metas para os quatro anos de governo, para este ano, e queremos um efetivo Plano Nacional de Reforma Agrária", afirmou.
Rodrigues criticou também as metas anunciadas para o Plano Safra do governo Lula, que destina R$ 44 bilhões para custeio de safra dos médios e grandes proprietários rurais e R$ 5 bilhões para os pequenos e micro produtores. "Tem que mudar essa balança, os pequenos não podem ficar sempre à mercê de migalhas na hora de o governo direcionar as verbas."
Segundo João Paulo Rodrigues, o MST não está preocupado apenas com a falta de definição do governo Lula com relação à questão agrária. Ele criticou a indecisão governamental com relação a uma posição sobre o plantio de transgênicos no país.
"O governo precisa dar uma resposta rápida e prática sobre os transgênicos. Não iremos permitir dubiedade sobre o assunto", declarou Rodrigues.


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