|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
GOVERNO SOB PRESSÃO
PMDB reivindica um ministério político, cargos e investimentos nos Estados e um pacto de não-agressão com o PT em 17 Estados
Palocci teme que CPI contamine economia
CATIA SEABRA
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
O ministro da Fazenda, Antonio
Palocci Filho, engrossou a articulação do governo para debelar a
crise na base governista e o risco
de instalação da CPI dos Correios.
Recorrendo ao argumento de que
uma crise política pode abalar a
economia, Palocci esteve na casa
do presidente do Senado, Renan
Calheiros (PMDB-AL), na noite
de quinta-feira. De lá, foi jantar
com o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva na Granja do Torto.
Na conversa, Palocci manifestou preocupação com a fragilidade da base aliada. Renan foi o porta-voz dessa apreensão ontem, ao
falar da disposição do brasileiro,
inclusive o empresariado, de ajudar o governo. "O empresariado
quer remover gargalos para que o
país continue a crescer e teme que
a crise política arruíne o ambiente
econômico", afirmou Renan.
Com 85 deputados (29 deles signatários do pedido de CPI) e 22
senadores, o PMDB é alvo da
ofensiva do governo. Ontem, Renan e o ex-presidente José Sarney
(PMDB-AP) tomaram café com
Lula. Na véspera, Renan almoçou
com o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT).
A todos, o PMDB impôs as três
condições capazes de aplacar a insatisfação de seus parlamentares,
a começar por uma reforma ministerial "sistêmica", incluindo os
cargos nos Estados. Nas conversas, o PMDB se queixa de ocupar
dois ministérios técnicos (Previdência e Comunicações) e exige
um ministério político, lembrando que essa foi a promessa do governo em 2004 para contemplar
um partido "municipalista".
Os peemedebistas alegam que
se sentem alijados da base por terem ingressado no governo um
ano depois de sua montagem. O
partido reclama do aparelhamento do Estado pelo PT. Defensor de
maior participação do PMDB no
governo, Mercadante concorda:
"O PT tem que deixar o presidente à vontade para compor seu governo. Para alguns petistas, aliança é que nem dentista. Ninguém
gosta, mas tem que ir".
Responsável pela condução da
CPI, Renan tem alegado que a rebelião da base foge a suas atribuições e que não pode comprometer sua isenção. "Sou presidente
do Senado. Não sou líder do governo. Tenho compromisso com
a governabilidade até as últimas
conseqüências. Mas meu limite é
a Constituição, o regimento", diz.
Além de uma participação no
governo compatível ao tamanho
do PMDB, o partido defende a
construção de um pacto de não-agressão nos 17 Estados em que
seus candidatos são favoritos ao
governo. Nos Estados já governados pelo PMDB, o pedido é de
apoio institucional. Os peemedebistas argumentam que, quanto
mais debilitados em seus Estados,
governadores como Roberto Requião (PR) e Germano Rigotto
(RS) desistirão da reeleição e irão
para o confronto com Lula. Hoje
o partido começa a perder confiança nas promessas do governo.
Além disso, o PMDB tem defendido maior volume de investimentos nos Estados: "Disse ao
Lula e ao Palocci que uma mudança fundamental do Orçamento é tirar o gasto social do contingenciamento. Deixar de cumprir
as metas da reforma agrária para
satisfazer às de superávit, já em
maio, parece pouco explicável".
Tendo que administrar a crise
no Senado, Mercadante tem defendido, com veemência, melhor
tratamento ao partido. Segundo
ele, "há um problema de relacionamento com o PMDB" e "falta
atenção ao partido". Na quinta-feira, Mercadante teria protagonizado uma ríspida conversa com
Lula e com o ministro José Dirceu
na defesa da reforma ministerial.
Questionado sobre o tom da discussão, Mercadante não quis confirmar se fora uma dura conversa.
"Pergunte ao presidente."
Mercadante cobrou do governo
a rearticulação da base. Em resposta, Lula acusou o senador de
ter fomentado a crise ao trabalhar
contra a reeleição de João Paulo
Cunha (PT-SP). Lula reclamou
ainda da atuação de Mercadante
na votação que derrubou a escolha de Alexandre de Moraes para
o Conselho Nacional de Justiça,
no mesmo dia em que, num café
da manhã, o presidente prometeu
uma relação institucional com a
oposição. O presidente, segundo
participante, pediu que Mercadante esquecesse São Paulo.
Boletim
Em boletim distribuído anteontem a seus clientes, a empresa de
consultoria Tendências avalia que
a perspectiva de continuidade da
agenda econômica contribui decisivamente para manter os mercados imunes às turbulências políticas vividas pelo governo.
Dito de outra forma, os investidores entendem que, a partir da
aplicação do receituário ortodoxo
pelo PT, a disputa pelo poder deixou de significar ameaça visível
aos pilares da economia.
Colaborou GUSTAVO PATU, da Sucursal
de Brasília
Texto Anterior: Suplicy defende direito a assinar o pedido de CPI Próximo Texto: Governo sob pressão: PSDB e PFL já disputam a relatoria da CPI Índice
|