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TCU aponta irregularidade em obra da Gautama no AP
Licitação para obra no aeroporto tem indícios de direcionamento, diz auditoria
Responsáveis pelo contrato negam irregularidades; concorrência foi vencida em novembro de 2004, com valor de R$ 113 milhões
THIAGO REIS
DA AGÊNCIA FOLHA
Fruto de emenda do senador
José Sarney (PMDB), a obra de
ampliação do aeroporto internacional de Macapá (AP), cuja
licitação foi ganha pela Gautama, de Zuleido Veras, apresenta irregularidades graves. É o
que aponta o TCU (Tribunal de
Contas da União).
As obras e serviços de engenharia de construção do novo
terminal de passageiros, do sistema viário e da ampliação do
pátio de aeronaves não constam das investigadas na Operação Navalha, da Polícia Federal.
Um relatório feito pelo ministro Benjamin Zymler, do
TCU, no ano passado, entretanto, apontou sobrepreço,
subcontratação, restrição indevida de participantes, indícios
de conluio e direcionamento
entre licitantes pré-qualificadas na concorrência.
O consórcio Gautama-Beter
venceu a concorrência e o contrato foi celebrado em 25 de novembro de 2004, no valor de
R$ 112,8 milhões. O fim das
obras estava marcado para dezembro do ano passado.
Os problemas são apontados
no contrato com a Infraero, que
não teve de paralisar a obra em
decorrência da auditoria. Os diretores que trabalhavam na estatal na época do contrato negaram as irregularidades.
De acordo com o relatório, o
processo "já nasceu viciado por
basear-se em um orçamento-base com sobrepreço". "As restrições impostas ao certame licitatório, impedindo a livre
concorrência entre as empresas, são tantas que inviabilizam
qualquer tentativa de disputa
de preços entre as licitantes."
Das 36 empresas que retiraram o edital de pré-qualificação, só 14 participaram da fase.
Depois, foram selecionados
apenas sete consórcios para
participar da segunda fase.
Após celebrado o contrato
com o consórcio Gautama-Beter, segundo o relatório, foi verificado que, de 150 itens, havia
preços de referência só para 54
(37,5% do valor total). Foi
constatado ainda "expressivo
sobrepreço médio de 74%" em
relação a preços de referência.
O desvio apontado pelo TCU
nas obras é estimado em
R$ 50,9 milhões.
Apesar de não ter sido alvo da
Operação Navalha, o Amapá
abriga os políticos que, nas últimas eleições, receberam mais
dinheiro da Gautama.
De seis candidatos que receberam doações da empresa,
três são do Estado. O comitê do
governador reeleito Waldez
Góes (PDT) foi o que mais recebeu: R$ 200 mil.
Ao senador Papaléo Paes
(PSDB) -que também concorreu ao governo- foram destinados R$ 100 mil. O ex-deputado federal Armando Alves Júnior (PL) obteve R$ 30 mil.
Papaléo diz não conhecer o
dono da Gautama. Procurada
pela reportagem, a assessoria
de Waldez não ligou de volta. A
reportagem não conseguiu
contato com Alves Júnior.
O grupo político de Sarney,
autor da emenda para a obra,
entregou ao Ministério Público
Federal, em 2006, documento
que aponta superfaturamento
de R$ 63 milhões no contrato
da Gautama para construção de
pontes no Maranhão. A obra do
Amapá não foi mencionada.
A reportagem não conseguiu
falar com Sarney ontem nem
com um de seus assessores.
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