São Paulo, segunda-feira, 21 de maio de 2007

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Apoio de empreiteiro viria por caixa dois

Dono da construtora Gautama costumava contribuir com campanhas de candidatos de diferentes partidos políticos

A interlocutores, Zuleido Soares Veras, preso pela PF, dizia ser "suprapartidário"; doações visariam atrair privilégios em licitações

LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

SERGIO TORRES
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR

Em troca de privilégios em licitações para obras públicas e de emendas parlamentares, o empresário Zuleido Soares Veras, preso pela Polícia Federal na semana passada, tinha por hábito financiar campanhas políticas de candidatos de diferentes partidos em eleições para governos estaduais, prefeituras, Câmara dos Deputados e assembléias legislativas.
A condição que apresentava era a de que o grosso da contribuição não poderia constar da planilha oficial encaminhada pelos partidos à Justiça Eleitoral, segundo a Folha apurou. Ele dizia se sentir incomodado com a classificação de oportunista lançada por concorrentes, que criticavam em público o fato de sua empresa, a Gautama Empreendimentos, contribuir com PT, PSDB, PMDB e DEM (ex-PFL), entre outros partidos.
Aos políticos que reclamavam do apoio financeiro a adversários, Veras argumentava sempre da mesma forma: "Sou suprapartidário", conforme relataram dois políticos e dois empresários que já trataram com o empreiteiro de financiamentos eleitorais e de contratos com o governo federal, governos estaduais e prefeituras.
Também fazia parte do modelo de atuação de Veras favores e gentilezas prestados aos políticos com quem mantinha contato ou com quem planejava iniciar entendimentos para conseguir emendas e contratos no futuro.
Nesse caso estaria o governador Jaques Wagner (PT), da Bahia, eleito no ano passado. Embora não tenha oficialmente contribuído para a campanha vitoriosa do petista, Veras fez questão de oferecer a ele passeios em "Clara", sua lancha de luxo fundeada na baía de Todos os Santos, apreendida pela PF (Polícia Federal) na semana passada.
Pelo menos em uma ocasião o convite do empreiteiro foi aceito. Em 25 de novembro do ano passado, Wagner, já eleito, fez um passeio na lancha, na companhia da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Segundo sua assessoria, o passeio não foi gratuito. A lancha teria sido alugada por R$ 5.000.

Desavença
Até 1994, Zuleido Veras, 55 -preso pela PF sob a acusação de liderar uma organização criminosa que corrompia políticos e agentes públicos-, era um dos sócios da construtora OAS, onde trabalhava havia alguns anos. Sempre discreto, deixou a empresa após desavenças com os demais integrantes da sociedade. No ano seguinte, fundou a Gautama.
Com o sócio Latif Jabur Abud, também egresso da Gautama, Veras aproveitou o contato com políticos e empresários para ampliar a área de atuação de sua empresa, desenvolvendo projetos de infra-estrutura para prefeituras de cidades na Bahia, Alagoas e Maranhão.
Há dois anos, Abud rompeu com Veras e deixou a Gautama. Criou sua própria empreiteira, a LJA. Na época, a Prefeitura de Camaçari (região metropolitana de Salvador) publicou um edital de licitação para realizar obras de infra-estrutura no morro da Manteiga, na periferia do município.
Como não aceitou o resultado do processo, vencido pela Gautama, Abud ingressou com uma ação na Justiça e conseguiu liminar impedindo o início dos trabalhos.
De acordo com o contrato, a Gautama receberia R$ 1,9 milhão para executar as obras -a verba já tinha sido liberada pelo governo federal.
Na quinta-feira, o prefeito de Camaçari, Luiz Carlos Caetano (PT), assim como Veras, foi preso pela PF. Na Bahia, Caetano é apontado por adversários como um dos principais articuladores da campanha do governador Jaques Wagner. Teria sido o responsável pelas finanças da candidatura petista, embora não conste no TRE (Tribunal Regional Eleitoral) como tesoureiro da campanha.
A Folha tentou ouvir a advogada de Veras, Sônia Ráo, que estaria em Brasília. Até a conclusão desta edição ela não havia respondido aos recados deixados em sua caixa postal.


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