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Apoio de empreiteiro viria por caixa dois
Dono da construtora Gautama costumava contribuir com campanhas de candidatos de diferentes partidos políticos
A interlocutores, Zuleido Soares Veras, preso pela PF, dizia ser "suprapartidário";
doações visariam atrair privilégios em licitações
LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR
SERGIO TORRES
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR
Em troca de privilégios em licitações para obras públicas e
de emendas parlamentares, o
empresário Zuleido Soares Veras, preso pela Polícia Federal
na semana passada, tinha por
hábito financiar campanhas
políticas de candidatos de diferentes partidos em eleições para governos estaduais, prefeituras, Câmara dos Deputados e
assembléias legislativas.
A condição que apresentava
era a de que o grosso da contribuição não poderia constar da
planilha oficial encaminhada
pelos partidos à Justiça Eleitoral, segundo a Folha apurou.
Ele dizia se sentir incomodado
com a classificação de oportunista lançada por concorrentes, que criticavam em público
o fato de sua empresa, a Gautama Empreendimentos, contribuir com PT, PSDB, PMDB e
DEM (ex-PFL), entre outros
partidos.
Aos políticos que reclamavam do apoio financeiro a adversários, Veras argumentava
sempre da mesma forma: "Sou
suprapartidário", conforme relataram dois políticos e dois
empresários que já trataram
com o empreiteiro de financiamentos eleitorais e de contratos com o governo federal, governos estaduais e prefeituras.
Também fazia parte do modelo de atuação de Veras favores e gentilezas prestados aos
políticos com quem mantinha
contato ou com quem planejava iniciar entendimentos para
conseguir emendas e contratos
no futuro.
Nesse caso estaria o governador Jaques Wagner (PT), da
Bahia, eleito no ano passado.
Embora não tenha oficialmente contribuído para a campanha vitoriosa do petista, Veras
fez questão de oferecer a ele
passeios em "Clara", sua lancha
de luxo fundeada na baía de
Todos os Santos, apreendida
pela PF (Polícia Federal) na semana passada.
Pelo menos em uma ocasião
o convite do empreiteiro foi
aceito. Em 25 de novembro do
ano passado, Wagner, já eleito,
fez um passeio na lancha, na
companhia da ministra da Casa
Civil, Dilma Rousseff. Segundo
sua assessoria, o passeio não foi
gratuito. A lancha teria sido
alugada por R$ 5.000.
Desavença
Até 1994, Zuleido Veras, 55
-preso pela PF sob a acusação
de liderar uma organização criminosa que corrompia políticos e agentes públicos-, era
um dos sócios da construtora
OAS, onde trabalhava havia alguns anos. Sempre discreto,
deixou a empresa após desavenças com os demais integrantes da sociedade. No ano
seguinte, fundou a Gautama.
Com o sócio Latif Jabur
Abud, também egresso da Gautama, Veras aproveitou o contato com políticos e empresários para ampliar a área de
atuação de sua empresa, desenvolvendo projetos de infra-estrutura para prefeituras de cidades na Bahia, Alagoas e Maranhão.
Há dois anos, Abud rompeu
com Veras e deixou a Gautama.
Criou sua própria empreiteira,
a LJA. Na época, a Prefeitura de
Camaçari (região metropolitana de Salvador) publicou um
edital de licitação para realizar
obras de infra-estrutura no
morro da Manteiga, na periferia do município.
Como não aceitou o resultado do processo, vencido pela
Gautama, Abud ingressou com
uma ação na Justiça e conseguiu liminar impedindo o início dos trabalhos.
De acordo com o contrato, a
Gautama receberia R$ 1,9 milhão para executar as obras -a
verba já tinha sido liberada pelo
governo federal.
Na quinta-feira, o prefeito de
Camaçari, Luiz Carlos Caetano
(PT), assim como Veras, foi
preso pela PF. Na Bahia, Caetano é apontado por adversários
como um dos principais articuladores da campanha do governador Jaques Wagner. Teria sido o responsável pelas finanças
da candidatura petista, embora
não conste no TRE (Tribunal
Regional Eleitoral) como tesoureiro da campanha.
A Folha tentou ouvir a advogada de Veras, Sônia Ráo, que
estaria em Brasília. Até a conclusão desta edição ela não havia respondido aos recados deixados em sua caixa postal.
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