|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
À BEIRA-RIO
Grupo liderado por Zeca do PT mantém propriedade em área da União em Porto Murtinho, em Mato Grosso do Sul
Petistas têm pesqueiro irregular no Pantanal
HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO MURTINHO (MS)
Um grupo de petistas liderados
pelo governador de Mato Grosso
do Sul, José Orcírio dos Santos, o
Zeca do PT, mantém há quatro
anos uma propriedade irregular
de 3,57 hectares (35.700 metros
quadrados) em uma área pública
às margens do rio Paraguai.
As terras pertencem à União e
ficam em Porto Murtinho (MS),
cidade natal do governador, localizada a 468 km de Campo Grande, no Pantanal. Os ocupantes da
área dizem que entraram com
processo de regularização da posse no Incra (Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária).
A propriedade, um pesqueiro,
foi chamada de Condomínio Estrela Vermelha, em referência ao
símbolo do PT. É formada por
uma casa principal de alvenaria e
outras três de madeira. Há ainda
no local uma pista de pouso de
500 metros de comprimento.
Na sexta-feira retrasada, Zeca
estava no pesqueiro, onde três
lanchas estavam ancoradas. Uma
delas, pertencente ao petista, foi
batizada de Estrela Vermelha e é
avaliada em R$ 55 mil.
Para que barcos atraquem no
local, houve desmatamento de
uma área de preservação permanente às margens do rio.
No caso do rio Paraguai, a lei
7.803/89 ordena que seja preservada a mata na largura mínima de
100 metros, segundo o chefe de
Fiscalização do Ibama, Erivaldo
Corrêa da Silva. O petistas dizem
que não houve danos ambientais.
Além de Zeca do PT, segundo o
próprio governador, fazem parte
da sociedade os petistas Jorge Samek, diretor-geral da Itaipu Binacional, os deputados federais Sigmaringa Seixas (PT-DF) e Vander
Loubet (PT-MS) e Luís Sanches,
assessor do governador.
Completam o grupo de proprietários o procurador de Justiça
Heitor Miranda dos Santos, irmão de Zeca, e o empresário Jorge
Ferreira, dono da rede de restaurante Feitiço Mineiro, no Distrito
Federal, e Paulo Benites, empresário em Ponta Porã (MS). Samek
e Benites negam que sejam sócios.
O irmão do governador disse
que a área está sendo regularizada
no Incra em Jardim (cidade vizinha a Porto Murtinho) em nome
de Sanches. "Ele [Sanches] é o síndico do pesqueiro, e temos que registrar em nome de uma pessoa
só", afirmou (leia texto ao lado).
Na declaração de renda de 2002
(ano-base de 2001), entregue à
Justiça Eleitoral, o governador de
Mato Grosso do Sul afirmou que a
propriedade custou R$ 40.000 e
que possui 1/8 da área.
Os sócios do Estrela Vermelha
compraram em 2000 a área do
empresário Manoel Gomes, 60, o
Manelão, que mora em Americana, no interior de São Paulo.
Em julho de 1992, Manelão e o
comerciante Newton Moreira adquiriram a terra do agricultor
Martin Duré por 5,8 milhões de
cruzeiros (moeda da época). Em
1994, Moreira vendeu por R$
5.000 a sua parte para Manelão.
Duré, 68, disse que vivia havia
40 anos na área onde hoje é o pesqueiro. Virou guarda noturno em
Porto Murtinho. Ganha atualmente R$ 325 por mês.
""Até seria irregularidade [a negociação das terras], pois estão tirando todas as pessoas [nativos]
de lá. Mas os moradores querem
sair de lá por causa da falta de estrutura básica", disse Manelão.
O tabelião do cartório de registro de imóveis de Porto Murtinho,
José Thomás de Jesus, 82, disse
que o Estrela Vermelha está dentro de 2.799 hectares que ainda
pertencem à União.
O procurador regional do Incra
Antônio Augusto Ribeiro de Barros afirmou que em uma negociação como a feita por Manelão só
pode ter ocorrido a venda das
benfeitorias. "A terra é da União.
Não pode ser vendida", explicou.
Barros disse que a legislação
permite ao grupo do Estrela Vermelha regularizar a área.
O interesse pelas terras, segundo Manelão, começou em uma visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 1997.
""Estiveram lá o Lula, os Sigmaringa Seixas, tanto o pai quanto o
filho, o Luiz Eduardo Greenhalgh
[deputado federal do PT], o Zeca,
o Heitor, a Miryan [cunhada do
governador]. Eles passaram uma
semana no local, pescando. Eram
16 pessoas. O Lula pescou três jaús
[peixe]", declarou Manelão.
Colaborou MAURÍCIO SIMIONATO, das
Regionais
Texto Anterior: Disputa: MT pede restituição de R$ 470 mi a Goiás Próximo Texto: Outro lado: Área será regularizada, diz sócio Índice
|