São Paulo, quinta-feira, 21 de junho de 2007

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JANIO DE FREITAS

Biônicos e amorfos

Alguém acreditaria que só à opinião pública houvessem chegado indícios para definir-se por investigações?

OS SENADORES biônicos, criação com que a ditadura direcionava o Senado, foram restaurados por imitadores cuja conduta, em cada palavra e cada ato, lhes foi determinada no caso Renan Calheiros e obedecida sem sequer o pudor das aparências -mas outra vez esses subpolíticos foram vencidos pelo clamor das vozes comuns.
A sinuosa manobra que adiou para as 17h a sessão do Conselho de Ética do Senado, antes fixada para 13h30 ontem, foi uma demonstração clara da perturbação em que caíram os senadores em geral, colhidos pela indignação externa em sua atitude biônica ou em suas dubiedades para evitar as investigações inconvenientes a Renan Calheiros.
O dia político havia começado com a designação histriônica de Wellington Salgado para relator, um suplente de senador como companheiro do suplente de senador Sibá Machado na condução dos trabalhos. Mas nem o surpreendente Wellington Salgado, que foi dos primeiros a se declarar pela inocentação de Calheiros, nem ele se apresentou para a abertura da sessão no horário previsto desde segunda-feira. Apesar disso, Sibá Machado, que preferia presidi-la no horário por ele estabelecido, abriu-a mesmo segundo a praxe.
Foi logo submetido, porém, ao pedido do senador Renato Casagrande para adiar a sessão até as 17h. Sibá Machado, embaraçado, desliga o microfone, quer conversar com dois assessores do conselho, quando um deles lhe passa o celular. Longo telefonema, microfones todos desligados. Sibá Machado volta a ser ouvido para dizer, ainda mais embaraçado, que a sessão está adiada. Contra o que decidira o presidente do conselho: ele. O telefone decidia.
O intervalo seria para as lideranças reunirem suas bancadas em busca das respectivas definições, sobre aceitação ou recusa do processo de improbidade pedido pelo PSOL contra Renan Calheiros. Alguém poderia acreditar que só à opinião pública houvessem chegado indícios suficientes para definir-se pela realização de investigações? Não eram bem informações que faltavam aos senadores do PSDB, cujas figuras notórias não foram vistas nas inquirições anteriores do conselho; nem à bancada do PMDB, como provavam as prontas definições de Jarbas Vasconcelos e Pedro Simon; nem aos petistas, cuja líder Ideli Salvatti fez o mais veemente e precursor discurso pela inocentação de Renan Calheiros, sem investigação alguma, e "absolvição por unanimidade dos senadores".
O intervalo foi necessário, na realidade, para cada bancada verificar as posições das demais, em razão destas definir a própria posição e, por fim, traçar o discurso para continuar no muro, mas com uma perna para o lado majoritário. A força dessa dubiedade foi homenageada pelo senador Arthur Virgílio, que atribuiu a Sibá Machado o que Sibá Machado não disse e lançou a tese do adiamento, mais uma vez, de qualquer decisão. Com a perspectiva de "esclarecimentos pessoais" de Renan Calheiros ao conselho. Como se Renan Calheiros nada houvesse dito até agora e tenha, mesmo, muito de convincente a dizer.
Registro necessário: o senador Sibá Machado conduziu a difícil sessão de ontem com seriedade, firmeza e competência. Não recebeu a presidência do Conselho para isso.


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