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JANIO DE FREITAS
Biônicos e amorfos
Alguém acreditaria que só à opinião pública houvessem chegado indícios para definir-se por investigações?
OS SENADORES biônicos, criação com que a ditadura direcionava o Senado, foram restaurados por imitadores cuja conduta, em cada palavra e cada ato, lhes
foi determinada no caso Renan Calheiros e obedecida sem sequer o
pudor das aparências -mas outra
vez esses subpolíticos foram vencidos pelo clamor das vozes comuns.
A sinuosa manobra que adiou para as 17h a sessão do Conselho de
Ética do Senado, antes fixada para
13h30 ontem, foi uma demonstração clara da perturbação em que caíram os senadores em geral, colhidos
pela indignação externa em sua atitude biônica ou em suas dubiedades
para evitar as investigações inconvenientes a Renan Calheiros.
O dia político havia começado
com a designação histriônica de
Wellington Salgado para relator, um
suplente de senador como companheiro do suplente de senador Sibá
Machado na condução dos trabalhos. Mas nem o surpreendente
Wellington Salgado, que foi dos primeiros a se declarar pela inocentação de Calheiros, nem ele se apresentou para a abertura da sessão no
horário previsto desde segunda-feira. Apesar disso, Sibá Machado, que
preferia presidi-la no horário por ele
estabelecido, abriu-a mesmo segundo a praxe.
Foi logo submetido, porém, ao pedido do senador Renato Casagrande
para adiar a sessão até as 17h. Sibá
Machado, embaraçado, desliga o microfone, quer conversar com dois
assessores do conselho, quando um
deles lhe passa o celular. Longo telefonema, microfones todos desligados. Sibá Machado volta a ser ouvido
para dizer, ainda mais embaraçado,
que a sessão está adiada. Contra o
que decidira o presidente do conselho: ele. O telefone decidia.
O intervalo seria para as lideranças reunirem suas bancadas em busca das respectivas definições, sobre
aceitação ou recusa do processo de
improbidade pedido pelo PSOL
contra Renan Calheiros. Alguém poderia acreditar que só à opinião pública houvessem chegado indícios
suficientes para definir-se pela realização de investigações? Não eram
bem informações que faltavam aos
senadores do PSDB, cujas figuras
notórias não foram vistas nas inquirições anteriores do conselho; nem à
bancada do PMDB, como provavam
as prontas definições de Jarbas Vasconcelos e Pedro Simon; nem aos
petistas, cuja líder Ideli Salvatti fez o
mais veemente e precursor discurso
pela inocentação de Renan Calheiros, sem investigação alguma, e "absolvição por unanimidade dos senadores".
O intervalo foi necessário, na realidade, para cada bancada verificar
as posições das demais, em razão
destas definir a própria posição e,
por fim, traçar o discurso para continuar no muro, mas com uma perna
para o lado majoritário. A força dessa dubiedade foi homenageada pelo
senador Arthur Virgílio, que atribuiu a Sibá Machado o que Sibá Machado não disse e lançou a tese do
adiamento, mais uma vez, de qualquer decisão. Com a perspectiva de
"esclarecimentos pessoais" de Renan Calheiros ao conselho. Como se
Renan Calheiros nada houvesse dito
até agora e tenha, mesmo, muito de
convincente a dizer.
Registro necessário: o senador Sibá Machado conduziu a difícil sessão de ontem com seriedade, firmeza e competência. Não recebeu a
presidência do Conselho para isso.
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