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PF diz que Renan não provou venda de gado
Segundo perícia, faltam documentos consistentes para explicar venda de 1.060 cabeças de gado, negócio que teria rendido R$ 1 milhão
Em laudo, peritos dizem ver indícios de fraude em 88 notas fiscais do senador;
dados de compra e venda dos bois não "batem"
RANIER BRAGON
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), não
conseguiu comprovar na documentação enviada ao Conselho
de Ética a venda de 1.060 cabeças de gado que afirma ter feito
desde 2003. As supostas negociações teriam lhe rendido cerca de R$ 1 milhão e representam mais da metade do ganho
que ele afirma ter obtido desde
2003, que é de R$ 1,9 milhão. A
conclusão se dá a partir de dados da perícia que a Polícia Federal fez nos papéis.
Enquanto notas fiscais apresentadas pelo senador sustentam ter ocorrido a venda de
2.213 cabeças de gado, as GTAs
(Guia de Trânsito Animal, documento exigido para o transporte de animais vivos) só atestariam 1.702 bovinos vendidos.
Ainda assim, para 549 desses
(com GTA), o vendedor não é
Renan. Parte das guias estão
em nome da mãe dele, Ivanilda
Calheiros (venda de 508 cabeças), do irmão Remi (20 cabeças), e de Regina Magalhães (21
cabeças) - não identificada.
Ou seja, as GTAs que têm Renan como o vendedor comprovariam a venda de apenas 1.153
cabeças, diferença de 1.060 em
relação às notas fiscais. A assessoria de Renan disse que ele
não comentaria a perícia.
"As quantidades de bovinos
vendidos mensalmente são divergentes daquelas informadas
nas GTAs", diz o texto.
O suposto ganho agropecuário de R$ 1,9 milhão é o principal argumento de Renan para
provar que tinha recursos para
pagar pensão alimentícia de R$
12 mil à jornalista Mônica Veloso, com quem tem uma filha.
Os peritos da PF dizem no
laudo, de 20 páginas, haver indícios de fraude nas 88 notas
fiscais. Em 10 delas, há "inconsistências formais" como ausência ou duplicidade de Selo
Fiscal de Autenticidade (usado
para controle de cobrança de
imposto), emissão sem ordem
cronológica, rasuras, ausência
de data e talonário de origem.
"Não foi possível concluir pela autenticidade das notas fiscais uma vez que (...) não foi
possível afirmar que as transações comerciais ali descritas
efetivamente ocorreram", afirmaram os peritos.
Há também divergências sobre a origem do gado. As notas
dizem que saíram das fazendas
Novo Largo I e Santa Rosa. Já
segundo as GTAs, saíram das
fazendas Forquilha, Santa Rosa, Vale da Serra e Vila D'água.
"Grande parte dos destinatários do gado vendido (...) não
coincide com aqueles informados nas notas fiscais."
Um perito da PF ouvido pela
Folha disse que os documentos não comprovam a origem
dos recursos creditados na
conta corrente de Renan e há
indícios de sonegação fiscal.
Em um dos poucos trechos
em que é favorável a Renan, a
perícia da PF diz que no "confronto dos dados das cópias dos
cheques [dos supostos compradores de gado] e dos extratos
bancários [de Renan], verificou-se compatibilidade de datas e valores." Há a ressalva:
"Contudo, os extratos não informam dados individualizadores dos cheques, tais como
número, agência e banco."
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