São Paulo, quinta-feira, 21 de julho de 2005

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Maria Christina liga Valdemar ao "mensalão" e fala em "várias malas"

RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em um depoimento marcado por revelações de detalhes íntimos, a publicitária Maria Christina Mendes Caldeira, ex-mulher do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, disse ter presenciado conversas que atestariam a existência do suposto esquema do "mensalão" e afirmou ter ouvido o ex-marido pedir diversas vezes ao ex-tesoureiro da legenda Jacinto Lamas para ir a Belo Horizonte buscar "várias malas".
Caldeira passa por um tumultuado processo de separação com Valdemar, a quem acusa de diversas irregularidades, além de caracterizá-lo como uma pessoa que movimentaria altas somas em dinheiro. Valdemar também processa a ex-mulher por tentativa de extorsão.
Segundo ela, Valdemar teria um "cofrão" lotado de dólares -"não era um cofre de porquinho"-, pagaria tudo em "cash" e teria perdido só em uma noite US$ 500 mil em um cassino de Punta del Este, no Uruguai.
De onde viria tanto dinheiro? "Do governo não, do PT não, do Delúbio, sim", afirmou, em referência ao ex-tesoureiro do PT.
A publicitária, que conviveu com Valdemar entre o início de 2003 e meados do ano passado, prestou depoimento ao Conselho de Ética da Câmara. Ela disse ter presenciado uma entrega de dinheiro de Valdemar a um deputado do PL, Remi Trinta (PL-MA).
Segundo ela, Valdemar entregou ao deputado uma mala de dólares em São Paulo. "Uma mala dessas que vocês recebem aí", disse, em referência à valise que a Câmara concede -"vazia", ressaltou o deputado Edmar Moreira (PL-MG)- aos deputados.
O presidente do PL é acusado por Roberto Jefferson (PTB-RJ) de ser um dos beneficiários do "mensalão", o suposto esquema de pagamento de mesada pelo PT a deputados do PL e do PP.
"Acho que o PT não tem nada a ver com isso [operação mensalão], mas acredito que tenha sido uma coisa montada pelo Bispo Rodrigues, Valdemar e Delúbio."
Caldeira se refere ao deputado Carlos Rodrigues (PL-RJ), também conhecido como "Bispo Rodrigues", que é igualmente acusado de integrar o esquema. Saíram das contas da empresa do publicitário Marcos Valério, apontado como o "operador" do "mensalão", R$ 150 mil para Rodrigues.
Segundo ela, Valdemar teria comentado sobre o esquema em telefonemas a Rodrigues. O presidente do PL e Delúbio se encontrariam em hotéis para tratar do esquema. Ela teria visto Delúbio apenas uma vez, em uma festa.
Além da questão do mensalão, Caldeira voltou a acusar Valdemar de "comprar" um partido nanico e a de usar recursos do PL em benefício próprio. Ela reafirmou ainda que o presidente do PL intermediou uma doação ilegal do governo de Taiwan à candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva. A informação sempre foi negada.
A publicitária dá a entender que rompeu o relacionamento com Valdemar por não concordar com "fatos esquisitos" que teria presenciado. "Quando comecei a questionar esses fatos, ele passou a ser extremamente violento." "Não sou uma mulher burra nem alienada, chega um momento em que muitos fatos esquisitos passam a ser mais do que fatos esquisitos", completou.


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