São Paulo, quinta-feira, 21 de julho de 2005

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NO PALCO

"Brasil precisa de exorcismo"

PAULO SAMPAIO
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

"Eu e o meu ex-marido fomos a Taiwan porque havia muita pressão de gente de lá que tinha investido na campanha [do presidente Luiz Inácio Lula da Silva] e queria retorno. Sei porque eu servi de intérprete do Valdemar. Ele não fala uma palavra em inglês."
"O Valdemar gastou US$ 500 mil, uma vez, jogando em um cassino em Punta del Este [Uruguai]. De onde saiu esse dinheiro?" E mais: "70% do cofrão lá de casa estava cheio de notas. 50% eram dólares, 20%, reais".
Entre uma e outra declaração no Conselho de Ética da Câmara, ontem, a socialite paulista Maria Christina Mendes Caldeira, 39, ex-mulher do deputado Valdemar Costa Neto, presidente do PL e acusado de envolvimento com o "mensalão", dizia:
"Eu não estava muito ligada no assunto [política] naquela época. Eu ouvia por acaso. Depois é que eu fui juntando os pontos. Por isso, as coisas me vêm em flashes à cabeça".
Embora estivesse claramente empenhada em denegrir a imagem do ex-marido, Maria Christina parecia mal ensaiada. Ela se contradisse em várias ocasiões: fez questão de dizer "eu não sou burra, uma hora eu percebi", para depois afirmar que "a ficha para mim demora pra cair".
Quando a socialite, que prefere ser chamada de publicitária, não sabia responder às perguntas, dizia simplesmente: "Aí são vocês que têm que investigar".
Pela sua versão, Valdemar seria loucamente apaixonado por ela, a ponto de persegui-la durante sete anos. "Só depois de um tempo percebi que me casei com um partido, não com um homem", conta. Sem medo de se jogar junto no imbróglio, afirmou: "O Valdemar mesmo dizia: "Aqui nada é por amor, tudo é por dinheiro". Inclusive eu".
Sobre o máximo de conivência a que se submeteu, Maria Christina diz ter entrado no Brasil, de volta de Punta del Este, no Uruguai, com U$ 60 mil na bolsa, a pedido de Valdemar. "Mas depois pediu o dinheiro de volta."
Maria Christina chegou a Brasília na véspera e se hospedou no hotel Naoum Plaza. Por volta das 11h de ontem, ela estava na portaria perguntando ao motorista que a servia: "Onde é o Conselho de Ética?"
Ela tinha acabado de chegar da igreja do Perpétuo Socorro, a única que, segundo ela, "tem um padre exorcista": "O Brasil precisa de um exorcismo geral. O padre Júlio é ótimo".
De paletó, blusa e calça claros, um sapato de salto cor de camelo, ela diz que iria trocar a roupa por "algo mais inverno" por causa do ar-condicionado. O que vai usar? Ela resiste, mas não muito, a dizer que pretende ir com "uma calça antiga preta e um blazer Gai Macciolo".
"Pensa que eu não sei? Você quer me pôr de perua, mas não adianta, eu não sou", ela diz, rindo muito, antes de subir para o quarto do hotel.
Vinte minutos depois, um cabeleireiro-maquiador com duas maletas, que se identifica como Júnior, pergunta por Maria Christina na portaria do hotel.
A reportagem sobe junto com Júnior. Maria Christina hesita em deixar que façam a foto estilo "o-salão-vem-ao-hotel", mas o advogado dela, Fernando Costa, acha melhor não fazer. Ela acaba entendendo o "de jeito nenhum" que Costa diz para ela com os olhos.
Posando de amiga da esquerda, eleitora de Lula, Christina diz que seu ex-marido só tinha um amigo no PT: Delúbio Soares. "Ele dizia que eu não podia ter amigas como a Beth [Gushiken] e a Márcia [mulher do João Paulo], porque não eram "gente como a gente"."
Ela só não quebrou o sigilo amoroso: "Estou amando, mas não posso dizer o nome".


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