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NO PALCO
"Brasil precisa de exorcismo"
PAULO SAMPAIO
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
"Eu e o meu ex-marido fomos a
Taiwan porque havia muita pressão de gente de lá que tinha investido na campanha [do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva] e queria
retorno. Sei porque eu servi de intérprete do Valdemar. Ele não fala
uma palavra em inglês."
"O Valdemar gastou US$ 500
mil, uma vez, jogando em um cassino em Punta del Este [Uruguai].
De onde saiu esse dinheiro?" E
mais: "70% do cofrão lá de casa
estava cheio de notas. 50% eram
dólares, 20%, reais".
Entre uma e outra declaração
no Conselho de Ética da Câmara,
ontem, a socialite paulista Maria
Christina Mendes Caldeira, 39,
ex-mulher do deputado Valdemar Costa Neto, presidente do PL
e acusado de envolvimento com o
"mensalão", dizia:
"Eu não estava muito ligada no
assunto [política] naquela época.
Eu ouvia por acaso. Depois é que
eu fui juntando os pontos. Por isso, as coisas me vêm em flashes à
cabeça".
Embora estivesse claramente
empenhada em denegrir a imagem do ex-marido, Maria Christina parecia mal ensaiada. Ela se
contradisse em várias ocasiões:
fez questão de dizer "eu não sou
burra, uma hora eu percebi", para
depois afirmar que "a ficha para
mim demora pra cair".
Quando a socialite, que prefere
ser chamada de publicitária, não
sabia responder às perguntas, dizia simplesmente: "Aí são vocês
que têm que investigar".
Pela sua versão, Valdemar seria
loucamente apaixonado por ela, a
ponto de persegui-la durante sete
anos. "Só depois de um tempo
percebi que me casei com um partido, não com um homem", conta. Sem medo de se jogar junto no
imbróglio, afirmou: "O Valdemar
mesmo dizia: "Aqui nada é por
amor, tudo é por dinheiro". Inclusive eu".
Sobre o máximo de conivência a
que se submeteu, Maria Christina
diz ter entrado no Brasil, de volta
de Punta del Este, no Uruguai,
com U$ 60 mil na bolsa, a pedido
de Valdemar. "Mas depois pediu
o dinheiro de volta."
Maria Christina chegou a Brasília na véspera e se hospedou no
hotel Naoum Plaza. Por volta das
11h de ontem, ela estava na portaria perguntando ao motorista que
a servia: "Onde é o Conselho de
Ética?"
Ela tinha acabado de chegar da
igreja do Perpétuo Socorro, a única que, segundo ela, "tem um padre exorcista": "O Brasil precisa
de um exorcismo geral. O padre
Júlio é ótimo".
De paletó, blusa e calça claros,
um sapato de salto cor de camelo,
ela diz que iria trocar a roupa por
"algo mais inverno" por causa do
ar-condicionado. O que vai usar?
Ela resiste, mas não muito, a dizer
que pretende ir com "uma calça
antiga preta e um blazer Gai Macciolo".
"Pensa que eu não sei? Você
quer me pôr de perua, mas não
adianta, eu não sou", ela diz, rindo muito, antes de subir para o
quarto do hotel.
Vinte minutos depois, um cabeleireiro-maquiador com duas
maletas, que se identifica como
Júnior, pergunta por Maria Christina na portaria do hotel.
A reportagem sobe junto com
Júnior. Maria Christina hesita em
deixar que façam a foto estilo "o-salão-vem-ao-hotel", mas o advogado dela, Fernando Costa, acha
melhor não fazer. Ela acaba entendendo o "de jeito nenhum"
que Costa diz para ela com os
olhos.
Posando de amiga da esquerda,
eleitora de Lula, Christina diz que
seu ex-marido só tinha um amigo
no PT: Delúbio Soares. "Ele dizia
que eu não podia ter amigas como
a Beth [Gushiken] e a Márcia
[mulher do João Paulo], porque
não eram "gente como a gente"."
Ela só não quebrou o sigilo
amoroso: "Estou amando, mas
não posso dizer o nome".
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