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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/HORA DAS PROVAS
Mulher do ex-presidente da Câmara sacou R$ 50 mil de conta da SMPB; deputado vê chance de cassação, fala em renúncia e diz "que não cai sozinho"
Após saque, João Paulo cogita renunciar
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ex-presidente da Câmara João
Paulo Cunha (PT-SP) cogitou ontem renunciar ao mandato ao ler
nos jornais a repercussão sobre o
saque de R$ 50 mil que sua mulher, Márcia Milanesio, fez na
conta da SMPB, empresa do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza.
Depois de se consultar com
amigos, políticos e assessores,
João Paulo recuou. Decidiu não se
manifestar por enquanto. Constituiu Alberto Zacharias Toron como advogado.
A idéia de João Paulo é não fazer
pronunciamentos até que fique
mais clara a sua situação. Ele acha
que pode ser cassado. Ficará
aguardando para tomar alguma
decisão num sítio de um amigo,
nos arredores de São Paulo.
Sobre o dinheiro que sua mulher retirou da conta da empresa
de Valério, a justificativa será uso
em campanha eleitoral. João Paulo reconhecerá que cometeu um
erro, mas dirá que os recursos não
foram para uso pessoal.
"Estou me sentindo usado",
afirmou João Paulo a pessoas com
quem se relaciona em Brasília.
Antes de decidir-se pelo auto-retiro, falou pessoalmente com o ex-ministro José Dirceu (Casa Civil).
Também esteve na casa do senador José Sarney (PMDB-AP),
quando se avistou com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
João Paulo já estava inclinado a
recuar de sua primeira decisão
-a renúncia-, mas Sarney e Renan foram decisivos para demovê-lo dessa saída extrema.
"Há uns 20 dias tinham me falado que não iria aparecer nada.
Que o saque era único e muito pequeno. Por isso eu havia mandado aquela explicação [sobre pagamento de contas de TV a cabo].
Foi um erro, pois agora veio essa
surpresa para mim", disse o ex-presidente da Câmara para congressistas ontem. Ele estava desanimado. Considera irreversível a
crise para si e para o governo.
Chegou a fazer previsões ruins
para o presidente da República
-em quem acredita que o escândalo acabará respingando em
"questão de dias".
"Marcos Valério tem ainda
muitas cartas na mão", afirmou
ontem João Paulo. Nos bastidores, o ex-presidente da Câmara
tem declarado que não demorará
para ruir a versão de que ninguém
no Palácio do Planalto, no PT e
nos partidos governistas sabia detalhes da atuação do empresário
Marcos Valério.
Erro de interpretação
A interpretação de João Paulo
sobre não saber que o nome de
sua mulher apareceria nos registros dos saques das contas de
Marcos Valério coincide com a
reação também verificada no PP.
Segundo a Folha apurou, esse
partido estava seguro de que o nome do assessor parlamentar João
Cláudio Genu não surgiria -Genu fez retiradas das contas de
mais de R$ 1 milhão.
João Paulo demonstra revolta
pela sua incômoda situação. Presidiu a Câmara, desejava disputar
o governo de São Paulo e agora se
vê com o mandato praticamente
perdido. "Não vou cair sozinho",
tem repetido.
O que irritou João Paulo nos últimos dias foi a informação -não
confirmada oficialmente- de
que integrantes da cúpula petista
teriam procurado a oposição para
um acordo. No acerto, o PT entregaria João Paulo e José Dirceu para cassação . O caso arrefeceria e o
governo voltaria ao controle do
cenário político.
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