São Paulo, quinta-feira, 21 de julho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/HORA DAS PROVAS

Mulher do ex-presidente da Câmara sacou R$ 50 mil de conta da SMPB; deputado vê chance de cassação, fala em renúncia e diz "que não cai sozinho"

Após saque, João Paulo cogita renunciar

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) cogitou ontem renunciar ao mandato ao ler nos jornais a repercussão sobre o saque de R$ 50 mil que sua mulher, Márcia Milanesio, fez na conta da SMPB, empresa do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza.
Depois de se consultar com amigos, políticos e assessores, João Paulo recuou. Decidiu não se manifestar por enquanto. Constituiu Alberto Zacharias Toron como advogado.
A idéia de João Paulo é não fazer pronunciamentos até que fique mais clara a sua situação. Ele acha que pode ser cassado. Ficará aguardando para tomar alguma decisão num sítio de um amigo, nos arredores de São Paulo.
Sobre o dinheiro que sua mulher retirou da conta da empresa de Valério, a justificativa será uso em campanha eleitoral. João Paulo reconhecerá que cometeu um erro, mas dirá que os recursos não foram para uso pessoal.
"Estou me sentindo usado", afirmou João Paulo a pessoas com quem se relaciona em Brasília. Antes de decidir-se pelo auto-retiro, falou pessoalmente com o ex-ministro José Dirceu (Casa Civil). Também esteve na casa do senador José Sarney (PMDB-AP), quando se avistou com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
João Paulo já estava inclinado a recuar de sua primeira decisão -a renúncia-, mas Sarney e Renan foram decisivos para demovê-lo dessa saída extrema.
"Há uns 20 dias tinham me falado que não iria aparecer nada. Que o saque era único e muito pequeno. Por isso eu havia mandado aquela explicação [sobre pagamento de contas de TV a cabo]. Foi um erro, pois agora veio essa surpresa para mim", disse o ex-presidente da Câmara para congressistas ontem. Ele estava desanimado. Considera irreversível a crise para si e para o governo. Chegou a fazer previsões ruins para o presidente da República -em quem acredita que o escândalo acabará respingando em "questão de dias".
"Marcos Valério tem ainda muitas cartas na mão", afirmou ontem João Paulo. Nos bastidores, o ex-presidente da Câmara tem declarado que não demorará para ruir a versão de que ninguém no Palácio do Planalto, no PT e nos partidos governistas sabia detalhes da atuação do empresário Marcos Valério.

Erro de interpretação
A interpretação de João Paulo sobre não saber que o nome de sua mulher apareceria nos registros dos saques das contas de Marcos Valério coincide com a reação também verificada no PP. Segundo a Folha apurou, esse partido estava seguro de que o nome do assessor parlamentar João Cláudio Genu não surgiria -Genu fez retiradas das contas de mais de R$ 1 milhão.
João Paulo demonstra revolta pela sua incômoda situação. Presidiu a Câmara, desejava disputar o governo de São Paulo e agora se vê com o mandato praticamente perdido. "Não vou cair sozinho", tem repetido.
O que irritou João Paulo nos últimos dias foi a informação -não confirmada oficialmente- de que integrantes da cúpula petista teriam procurado a oposição para um acordo. No acerto, o PT entregaria João Paulo e José Dirceu para cassação . O caso arrefeceria e o governo voltaria ao controle do cenário político.


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