São Paulo, quarta-feira, 21 de agosto de 2002

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TRANSIÇÃO

Para Lula, apoio do presidente no segundo turno evitaria dificuldades políticas no início do seu eventual governo

PT busca aval de FHC para atrair mercado

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Mais do que agregar votos historicamente resistentes ao PT, um eventual apoio do presidente Fernando Henrique Cardoso no segundo turno interessa ao candidato Luiz Inácio Lula da Silva pelo aval que significaria em setores do empresariado brasileiro e da comunidade internacional, especialmente a financeira.
O presidenciável petista trabalha por isso. Acha que, se ganhar transmitindo confiança ao establishment, vai evitar dificuldades políticas no início do governo e na formação de uma eventual maioria congressual.
No encontro a sós anteontem com o presidente, Lula não pediu eventual apoio no segundo turno nem FHC sugeriu que faria isso. No entanto, segundo apurou a Folha com interlocutores de ambos, o presidente sinalizou que votará no petista se seu candidato, José Serra (PSDB), não chegar lá.
"Havia um clima de 1978", disse uma das pessoas que ouviram de Lula o relato da conversa. Naquele ano, o então líder sindical Lula apoiou a candidatura de FHC ao Senado por São Paulo. "Seria uma cena histórica. FHC, o intelectual, transmitir a faixa a Lula, o operário", disse um ministro tucano.
O presidente deseja preservar a biografia. Acha fundamental não ter um sucessor com ânimo revanchista, o que teme caso o candidato da Frente Trabalhista, Ciro Gomes, seja eleito. Lula sabe que sua quarta tentativa presidencial é também a última e vê em FHC o aliado que pode fazer a diferença.

Discrição
No PT, é ponto pacífico que é desejável o suporte do presidente, ainda que ele não seja público. Se a liturgia do cargo e o temor de melindrar o eventual sucessor levar FHC a optar pela neutralidade no segundo turno, sua ação de bastidor será decisiva.
O PT discute discretamente a possibilidade de apoio de FHC a Lula no segundo turno para não melindrar Serra, que está em situação difícil, mas não irreversível segundo o diagnóstico petista.
O candidato do PSDB seria uma adesão importante perante os setores industriais de São Paulo que se sentem prejudicados pela política econômica de FHC nos últimos oito anos. Serra foi um crítico duro do ministro Pedro Malan (Fazenda) e equipe.
No encontro reservado que durou cerca de dez minutos e foi a única deferência especial feita por FHC ao receber os quatro principais candidatos, Lula elogiou a forma como o presidente decidiu conduzir a transição. "Hoje o país saiu ganhando", disse, ao comentar depois o encontro.
O petista ainda intercedeu pelo governador de Minas, Itamar Franco. Pediu que FHC olhasse com "carinho" a dívida de Minas com a União. Falou também do ISS (Imposto sobre Serviços), tributo que permite guerra fiscal entre prefeituras.

Ciro e aliados
Na análise de FHC, por mais sincero que Ciro seja ao manifestar respeito pela figura do presidente, está cercado de aliados que se sentem alijados do poder central pelo tucanato paulista. Exemplo eloquente: o PFL de Antonio Carlos Magalhães, Jorge Bornhausen e Roseana Sarney.
A cúpula petista prevê uma batalha difícil contra o candidato do PPS. A direção do partido acha que pode surtir efeito a mudança de estratégia de Ciro, optando por um perfil mais moderado e por controlar declarações que arrepiam o mercado financeiro.
Um dos auxiliares mais importantes de Lula diz que o partido se preparou nos últimos anos para um confronto com o governo e que, agora, pode ser que precise rever sua estratégia caso a disputa se dê mesmo com Ciro.


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