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TRANSIÇÃO
Para Lula, apoio do presidente no segundo turno evitaria dificuldades políticas no início do seu eventual governo
PT busca aval de FHC para atrair mercado
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Mais do que agregar votos historicamente resistentes ao PT, um
eventual apoio do presidente Fernando Henrique Cardoso no segundo turno interessa ao candidato Luiz Inácio Lula da Silva pelo
aval que significaria em setores do
empresariado brasileiro e da comunidade internacional, especialmente a financeira.
O presidenciável petista trabalha por isso. Acha que, se ganhar
transmitindo confiança ao establishment, vai evitar dificuldades
políticas no início do governo e na
formação de uma eventual maioria congressual.
No encontro a sós anteontem
com o presidente, Lula não pediu
eventual apoio no segundo turno
nem FHC sugeriu que faria isso.
No entanto, segundo apurou a
Folha com interlocutores de ambos, o presidente sinalizou que
votará no petista se seu candidato,
José Serra (PSDB), não chegar lá.
"Havia um clima de 1978", disse
uma das pessoas que ouviram de
Lula o relato da conversa. Naquele ano, o então líder sindical Lula
apoiou a candidatura de FHC ao
Senado por São Paulo. "Seria uma
cena histórica. FHC, o intelectual,
transmitir a faixa a Lula, o operário", disse um ministro tucano.
O presidente deseja preservar a
biografia. Acha fundamental não
ter um sucessor com ânimo revanchista, o que teme caso o candidato da Frente Trabalhista, Ciro
Gomes, seja eleito. Lula sabe que
sua quarta tentativa presidencial é
também a última e vê em FHC o
aliado que pode fazer a diferença.
Discrição
No PT, é ponto pacífico que é
desejável o suporte do presidente,
ainda que ele não seja público. Se
a liturgia do cargo e o temor de
melindrar o eventual sucessor levar FHC a optar pela neutralidade
no segundo turno, sua ação de
bastidor será decisiva.
O PT discute discretamente a
possibilidade de apoio de FHC a
Lula no segundo turno para não
melindrar Serra, que está em situação difícil, mas não irreversível
segundo o diagnóstico petista.
O candidato do PSDB seria uma
adesão importante perante os setores industriais de São Paulo que
se sentem prejudicados pela política econômica de FHC nos últimos oito anos. Serra foi um crítico
duro do ministro Pedro Malan
(Fazenda) e equipe.
No encontro reservado que durou cerca de dez minutos e foi a
única deferência especial feita por
FHC ao receber os quatro principais candidatos, Lula elogiou a
forma como o presidente decidiu
conduzir a transição. "Hoje o país
saiu ganhando", disse, ao comentar depois o encontro.
O petista ainda intercedeu pelo
governador de Minas, Itamar
Franco. Pediu que FHC olhasse
com "carinho" a dívida de Minas
com a União. Falou também do
ISS (Imposto sobre Serviços), tributo que permite guerra fiscal entre prefeituras.
Ciro e aliados
Na análise de FHC, por mais
sincero que Ciro seja ao manifestar respeito pela figura do presidente, está cercado de aliados que
se sentem alijados do poder central pelo tucanato paulista. Exemplo eloquente: o PFL de Antonio
Carlos Magalhães, Jorge Bornhausen e Roseana Sarney.
A cúpula petista prevê uma batalha difícil contra o candidato do
PPS. A direção do partido acha
que pode surtir efeito a mudança
de estratégia de Ciro, optando por
um perfil mais moderado e por
controlar declarações que arrepiam o mercado financeiro.
Um dos auxiliares mais importantes de Lula diz que o partido se
preparou nos últimos anos para
um confronto com o governo e
que, agora, pode ser que precise
rever sua estratégia caso a disputa
se dê mesmo com Ciro.
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