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JULGAMENTO DO MENSALÃO
Procuradoria cita 37 por improbidade no mensalão
Ministério Público do DF propõe cinco ações contra envolvidos em escândalo
Entre os acusados estão 35 personagens já citados em denúncia ao Supremo; procuradores vêem enriquecimento ilícito
ANDRÉA MICHAEL
FELIPE SELIGMAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Na antevéspera da sessão em
que o Supremo Tribunal Federal começa a julgar o mensalão
na esfera criminal, o Ministério
Público Federal do DF propôs
ontem cinco ações de improbidade administrativa nas quais
acusa 35 dos já denunciados à
corte suprema e outros dois
personagens envolvidos no escândalo de também integrar,
do ponto de vista civil, um esquema de compra de apoio político para aprovar emendas no
Congresso e de enriquecimento ilícito -teriam amealhado
R$ 55 milhões, no mínimo.
As ações, se aceitas, correrão
separadamente do caso do STF
porque não há foro privilegiado
em casos de improbidade administrativa.
Entre os acusados das irregularidades estão o ex-ministro
José Dirceu (Casa Civil), os ex-dirigentes do PT Delúbio Soares (tesoureiro) e Sílvio Pereira
(secretário-geral), o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB),
parlamentares de cinco partidos -em meio aos quais José
Genoino (PT-SP) e Valdemar
Costa Neto (PR, ex-PL)-, além
do empresário Marcos Valério.
Em março de 2006, o procurador-Geral da República, Antonio Fernando de Souza, apresentou ao STF denúncia contra
40 acusados de participar do
esquema do mensalão. As ações
de improbidade propostas pelo
Ministério Público do DF ontem deixam de fora cinco desses personagens: o deputado
João Paulo Cunha (PT-SP); o
publicitário Duda Mendonça e
sua sócia Zilmar Fernandes; o
ex-chefe do Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência
Luiz Gushiken; e o ex-diretor
de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato.
Conforme os procuradores,
eles não constam como alvo das
ações de improbidade porque o
"foco [foi] em quem pagou e
quem recebeu propina na condição de agente público".
"João Paulo Cunha não foi
incluído porque já responde a
outro processo, referente a
contrato publicitário entre a
Câmara dos Deputados e a
agência SMPB, de Marcos Valério", afirmou a procuradora
Anna Carolina Resende.
Outros dois nomes que não
haviam sido denunciados por
Antonio Fernando foram incluídos nas ações de improbidade: Lúcio Funaro e José Carlos Batista. Ambos são corretores, teriam vinculações com o
PL e seriam responsáveis, de
acordo com o Ministério Público, por operar os pagamentos
dos parlamentares da legenda.
Conforme a acusação, os envolvidos teriam recebido pelo
menos R$ 55 milhões em propina. "Esse valor pode ser ainda
maior, já que ainda não se sabe
ao certo qual a origem do dinheiro", disse a procuradora
Michele Bastos, uma das que
atuou no caso.
Enriquecimento ilícito
As ações propostas ontem
têm como base informações do
inquérito 2.245, que tramita no
STF e por meio do qual se investigou o mensalão. No entendimento dos procuradores,
além dos crimes pelos quais já
foram denunciados ao STF, os
envolvidos praticaram atos
contrários aos princípios da administração pública e teriam
enriquecido ilicitamente.
Pelo que consta das ações, o
esquema de improbidade era
formado por três núcleos diferentes. O central, integrado pelo PT e membros do Executivo,
tinha como chefes Dirceu e Delúbio Soares. Marcos Valério
está no núcleo publicitário. O
grupo financeiro era composto
por dirigentes do Banco Rural.
O dinheiro destinado a deputados do PT teria sido usado para quitação de dívidas ou financiamento de campanhas futuras. Quanto aos parlamentares
das demais siglas (PP, PL, PTB
e PMDB), o destino dos recursos seria o pagamento dos políticos para votar a favor de projetos de interesse do Executivo.
Se condenados, os 37 envolvidos poderão perder os cargos
públicos que ocupam atualmente ou a aposentadoria -como é o caso do ex-deputado José Janene. Também podem ter
seus direitos políticos suspensos por até dez anos.
Consta ainda do pedido dos
procuradores que os acusados
devolvam o valor recebido à
União, além de pagar multa no
valor de três vezes o que ganharam indevidamente.
As ações vão tramitar na Justiça Federal em Brasília, caso a
denúncia seja aceita -o que é
comum nas investigações de
improbidade.
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