São Paulo, terça-feira, 21 de agosto de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Encolhidos, mensaleiros tentam reaver espaço

Parlamentares envolvidos deixam linha de frente, mas ainda marcam presença em reuniões das legendas

RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Na quarta-feira passada, o ex-presidente do PT e hoje deputado federal José Genoino (SP) foi abordado na entrada da sessão em que se discutia a prorrogação da CPMF. Questionado sobre suas impressões acerca da volta à pauta nacional do mensalão, só repetia uma expressão: "Luiz Fernando Pacheco", "Luiz Fernando Pacheco", em referência ao nome de seu advogado em São Paulo.
A mudança de comportamento de Genoino -deputado por cinco mandatos consecutivos, de 1983 até 2003, em sua sexta incursão na Câmara-, simboliza a situação dos congressistas que foram atingidos pelo escândalo revelado em junho de 2005 por Roberto Jefferson em entrevista à Folha.
Antes expoentes da linha de frente dos partidos, hoje perderam força, mas continuam com atuação intensa nos bastidores.
A Folha conversou com vários petistas durante a última semana sobre como atuam Genoino, Paulo Rocha (PT-PA) e João Paulo Cunha (PT-SP), os três deputados do partido que constam da denúncia do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza.
Genoino, dizem, participa ativamente das inúmeras reuniões que a bancada faz para discutir projetos. "Antes, ele participava um minutinho, dava um pitaco e já saía atrás dos refletores", diz um dos colegas.
Ele esteve presente em 100% das 78 sessões de votação realizadas neste ano pela Câmara. Também é presença constante na Comissão de Constituição e Justiça, onde é membro titular.
João Paulo Cunha, primeiro petista a presidir a Câmara, de 2003 a 2005, também tem evitado a imprensa -não atendeu ao pedido de entrevista da Folha-, e é igualmente freqüente no plenário (esteve em 73 das 78 sessões) e nas reuniões do PT, onde foi um dos articuladores da reforma política, que acabou naufragando com a aprovação apenas de um projeto de fidelidade partidária.
Dos três, Paulo Rocha é o que mais se isolou, segundo colegas, que ressaltam que ele sempre teve perfil de bastidor. Não falou com a reportagem. Também é freqüente em plenário -só há duas faltas no ano.
Genoino aparece na denúncia do Ministério Público como membro do "núcleo do esquema", já que presidia o PT. Rocha e João Paulo aparecem como destinatários de recursos.
"Paulo Rocha, João Paulo e Genoino são parlamentares experientes, têm dado uma contribuição muito grande à bancada", diz o líder do PT na Câmara, Luiz Sérgio (RJ).
Fora do PT, os acusados de integrar o mensalão igualmente saíram da linha de frente, o que não representa ocaso político nem mesmo para José Borba (PMDB-PR), que não conseguiu se reeleger deputado.
Também acusado de receber recursos do valerioduto, Borba circula em gabinetes, nos ministérios, participa das reuniões da bancada. Ele articulou apoios no PMDB à eleição de Arlindo Chinaglia (PT-SP) à presidência da Câmara e à indicação de Odílio Balbinotti (PMDB-PR) ao Ministério da Agricultura, posto que não ocupou porque foi abatido por um escândalo. A Folha não conseguiu falar com Borba.


Respeito
Valdemar Costa Neto (PR-SP), antes manda-chuva de seu partido, hoje divide o poder com o ministro Alfredo Nascimento (Transportes) e com o governador Blairo Maggi (MT).
Segundo aliados, é respeitado e temido no partido, já que renunciou ao cargo de deputado "sem entregar ninguém". Ele foi acusado de se beneficiar de milhões do valerioduto. Na época, disse que distribuiu a correligionários. "Valdemar não comenta assuntos que estejam sob análise da Justiça", diz sua assessoria de imprensa.
Por fim, os três deputados do PP acusados de se beneficiar do mensalão, Pedro Corrêa (PE), José Janene (PR) e Pedro Henry (MT), igualmente perderam parte do poder que tinham -eram praticamente os donos da bancada na Câmara.
Na última reunião dos dirigentes pepistas em Brasília, eles estavam presentes, apesar de só Henry continuar deputado. A Folha não conseguiu falar com nenhum dos três.


Texto Anterior: Julgamento do mensalão: Indícios são "suficientes", reitera procurador-geral
Próximo Texto: Perfil: Relator é fiel à linha de atuação da Procuradoria
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.