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Sem-terra deixam área para acampar a 70 km
WILLIAM FRANÇA
ENVIADO ESPECIAL A BURITIS
Os cerca de 500 manifestantes
que estavam acampados desde o
último dia 12 nas proximidades
da fazenda dos filhos do presidente Fernando Henrique Cardoso,
em Buritis (MG), começaram ontem a deixar o local depois do
acordo entre o MST (Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra) e o governo.
A decisão de deixar o acampamento foi tomada por volta das
15h de ontem, quando o ministro
Raul Jungmann (Desenvolvimento Agrário) concordou em receber os líderes dos sem-terra, desde que eles se afastassem da fazenda Córrego da Ponte.
Na assembléia em que o acordo
-firmado com a participação da
CNBB (Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil)- foi comunicado aos acampados, o líder do grupo, Lucídio Ravanello, disse que
"o recuo foi um voto de confiança
na igreja e nos advogados". "O
governo já deu o calote na gente
duas vezes, mas, se mentir para a
CNBB, vai para o inferno mesmo", disse Ravanello, demonstrando descontração.
No final da tarde de ontem, os
sem-terra aguardavam a chegada
de 12 ônibus e caminhões que os
levariam até a sede do município
de Buritis, distante 70 km da fazenda Córrego da Ponte, onde ficariam acampados na quadra
aberta de um ginásio poliesportivo. A distância foi um dos pontos
que contaram para o acordo ser
concluído. O ministro da Segurança Institucional, general Alberto Cardoso, disse ontem que o
Exército e a Polícia Federal deixariam a área até hoje.
Pouco depois do meio-dia, os
sem-terra demonstravam disposição em radicalizar. A idéia era
mobilizar até 1.200 pessoas, trazendo assentados de Goiás, de
Minas, da Bahia, de São Paulo e
até do Rio Grande do Sul.
Logo cedo, às 9h40, os sem-terra
quase provocaram um incidente
grave envolvendo dois oficiais da
Justiça de Minas Gerais, que foram notificá-los da decisão do juiz
José Antônio Maciel, da Comarca
de Buritis, que deferiu pedido de
liminar de um mandado proibitório requerido pela fazenda Córrego da Ponte.
Pelo mandado, os sem-terra estavam proibidos de invadir a fazenda de FHC. Se o fizessem, as
forças policiais -no caso, Exército e Polícia Federal- "automaticamente" teriam poder de retirá-los sem a necessidade de uma
ação de reintegração de posse.
Além disso, os sem-terra teriam
de pagar multa diária de R$ 500.
Os líderes dos sem-terra se recusaram a assinar o documento e
a ouvir a leitura da decisão judicial. Os dois oficiais tiveram de caminhar até o carro sob escolta,
pois alguns manifestantes queriam acertá-los com porretes e pedras. Um grupo, mais exaltado,
sugeria que eles fossem amarrados. Outro, em torno do carro,
gritava "borca, borca" (emborca),
numa tentativa de virar o carro.
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