São Paulo, quinta-feira, 21 de setembro de 2000

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Sem-terra deixam área para acampar a 70 km

WILLIAM FRANÇA
ENVIADO ESPECIAL A BURITIS

Os cerca de 500 manifestantes que estavam acampados desde o último dia 12 nas proximidades da fazenda dos filhos do presidente Fernando Henrique Cardoso, em Buritis (MG), começaram ontem a deixar o local depois do acordo entre o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e o governo.
A decisão de deixar o acampamento foi tomada por volta das 15h de ontem, quando o ministro Raul Jungmann (Desenvolvimento Agrário) concordou em receber os líderes dos sem-terra, desde que eles se afastassem da fazenda Córrego da Ponte.
Na assembléia em que o acordo -firmado com a participação da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil)- foi comunicado aos acampados, o líder do grupo, Lucídio Ravanello, disse que "o recuo foi um voto de confiança na igreja e nos advogados". "O governo já deu o calote na gente duas vezes, mas, se mentir para a CNBB, vai para o inferno mesmo", disse Ravanello, demonstrando descontração.
No final da tarde de ontem, os sem-terra aguardavam a chegada de 12 ônibus e caminhões que os levariam até a sede do município de Buritis, distante 70 km da fazenda Córrego da Ponte, onde ficariam acampados na quadra aberta de um ginásio poliesportivo. A distância foi um dos pontos que contaram para o acordo ser concluído. O ministro da Segurança Institucional, general Alberto Cardoso, disse ontem que o Exército e a Polícia Federal deixariam a área até hoje.
Pouco depois do meio-dia, os sem-terra demonstravam disposição em radicalizar. A idéia era mobilizar até 1.200 pessoas, trazendo assentados de Goiás, de Minas, da Bahia, de São Paulo e até do Rio Grande do Sul.
Logo cedo, às 9h40, os sem-terra quase provocaram um incidente grave envolvendo dois oficiais da Justiça de Minas Gerais, que foram notificá-los da decisão do juiz José Antônio Maciel, da Comarca de Buritis, que deferiu pedido de liminar de um mandado proibitório requerido pela fazenda Córrego da Ponte.
Pelo mandado, os sem-terra estavam proibidos de invadir a fazenda de FHC. Se o fizessem, as forças policiais -no caso, Exército e Polícia Federal- "automaticamente" teriam poder de retirá-los sem a necessidade de uma ação de reintegração de posse. Além disso, os sem-terra teriam de pagar multa diária de R$ 500.
Os líderes dos sem-terra se recusaram a assinar o documento e a ouvir a leitura da decisão judicial. Os dois oficiais tiveram de caminhar até o carro sob escolta, pois alguns manifestantes queriam acertá-los com porretes e pedras. Um grupo, mais exaltado, sugeria que eles fossem amarrados. Outro, em torno do carro, gritava "borca, borca" (emborca), numa tentativa de virar o carro.


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