São Paulo, quinta-feira, 21 de setembro de 2000

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Crianças malham boneco que representa FHC

Beto Barata/Folha Imagem
Crianças integrantes do MST participam de protesto em frente à fazenda dos filhos do presidente Fernando Henrique Cardoso


DO ENVIADO ESPECIAL A BURITIS

Sete crianças, portando pedaços de pau em forma de porretes, espancaram e destruíram um espantalho que representava o presidente Fernando Henrique Cardoso durante ato realizado ao meio-dia de ontem pelos sem-terra, em frente à fazenda Córrego da Ponte, em Buritis (MG). Em seguida, jogaram os restos do boneco numa cova, com sete palmos de profundidade, cavada ao lado da porteira da fazenda.
"As crianças não aguentam mais esse governo, por isso estão fazendo essa demonstração", afirmou Gilmar de Oliveira, um dos coordenadores regionais do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), durante o protesto. Cada uma das crianças vestia a camiseta do MST e trazia no peito um cartaz com o nome de uma das entidades que apoiam o movimento -um deles, inclusive, trazia a inscrição "CNBB" (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).
A Folha apurou que o uso de crianças no ato contra a figura de FHC foi uma estratégia dos líderes para evitar novos possíveis inquéritos contra eles.
Os sem-terra passaram a manhã de ontem fazendo mistério sobre o ato. Logo cedo, por volta das 8h30, cavaram um buraco com 1,8 metro de comprimento por 0,8 metro de largura e sete palmos de profundidade, que seria utilizado depois como uma cova simbólica para o espantalho, com direito a cruz e a vela.
O boneco foi construído com madeira e recheado com palha. A cabeça foi feita com uma abóbora. O boneco tinha uma gravata amarela e uma faixa com os dizeres: "FHC e FMI vão ser enterrados aqui".
Todas as sete participantes estavam em idade escolar e, portanto, há quase duas semanas sem aula.
"E essa não é uma boa escola?", questionou Ravanello à Folha, ao ser perguntado o por quê de aproximadamente 40 das 130 crianças do acampamento estarem perdendo aulas. Depois, afirmou: "Estamos providenciando o retorno delas à escola".
Setores do governo chegaram a suspeitar que alguns dos alimentos usados pelos sem-terra teriam sido desviados da merenda escolar. Os sem-terra e o prefeito da cidade negaram veementemente a suspeita. Segundo eles, a comida é fruto de doações e da transferência feita por outros assentamentos.


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