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Polícia apura elo de morte em GO com "crime da motosserra"
Morte de testemunha de crimes que envolveram Hildebrando Pascoal é investigada
Vítima era do programa de proteção a testemunhas desde 2004; para defesa de ex-deputado, hipótese do Ministério Público é "insana"
CÍNTIA ACAYABA
MATHEUS PICHONELLI
DA AGÊNCIA FOLHA
O assassinato, no interior de
Goiás, de uma quarta testemunha dos crimes envolvendo o
ex-deputado Hildebrando Pascoal, 56, levou a Polícia Civil do
Estado a instaurar inquérito
para investigar se há relação
entre o homicídio e a ação do
grupo de extermínio que atuou
no Acre nos anos 90.
A 2.517 quilômetros de Rio
Branco, onde atuou como policial militar, Manoel Décio de
Lima, 42, foi encontrado morto
no último dia 28 numa lavoura
em Chapadão do Céu (GO). Ele
havia deixado o Acre, seis anos
atrás, por segurança. O caso é
investigado pela Polícia Civil de
Jataí, cidade vizinha.
O assassinato ocorreu 12
anos após o chamado "crime da
motosserra" -Agilson Firmino, o "Baiano", motorista de
um suspeito de ter matado o irmão de Hildebrando, foi torturado e teve o corpo serrado em
suposta ação do grupo liderado
pelo ex-deputado, em 1996.
O julgamento do caso, cujo
processo tem 1.869 páginas, deve ocorrer no final deste ano.
Ex-coronel da Polícia Militar
no Acre, Hildebrando está preso em Rio Branco desde 1999 e
já foi condenado a mais de 70
anos de prisão em pelo menos
cinco processos, entre homicídios, crime eleitoral e tráfico
internacional de drogas.
Segundo o procurador
Sammy Lopes, coordenador do
grupo de atuação especial de
prevenção e repressão às organizações criminosas do Ministério Público do Acre, a morte
em Goiás do ex-policial, que estava sob medida de proteção
isolada a testemunhas e já havia deposto em dez casos envolvendo o grupo de Hildebrando,
teve características semelhantes aos assassinatos anteriores
-Décio levou oito tiros de pistola no corpo e na cabeça.
Um policial civil, um bombeiro e um caseiro que haviam
deposto ou iriam depor à Justiça foram mortos como "queima
de arquivo", afirma Lopes.
Os dois primeiros foram
mortos antes de formalizarem
pedido para integrar o programa de proteção; o caseiro se recusou a entrar no programa.
Segundo Lopes, Décio ajudou a esclarecer casos de mortes sob encomenda ou contra
desafetos de Hildebrando.
A delegada Paula Ruza, responsável pelo inquérito, não
descarta a hipótese de "queima
de arquivo", mas afirma que
Décio, presidente do sindicato
rural local, colecionou brigas
na cidade, de 5.289 habitantes.
Décio morava com a mulher
e dois filhos em Chapadão do
Céu, para onde a família se mudou há dois anos, e entrou para
o programa de proteção à testemunha em 2004.
Ele teve ajuda para se mudar
e escolta policial quando se
deslocava para audiências na
Justiça -recebeu o benefício
por determinação do conselho
estadual do programa e optou
pela proteção isolada. Se tivesse optado pela proteção integral, ficaria incomunicável até
mesmo com familiares em seu
Estado de origem.
Advogado de Hildebrando,
Sanderson Moura afirma que a
suspeita sobre o cliente é "coisa
de mente insana".
Segundo a Folha apurou,
Décio já havia sido advertido
pela coordenação do programa
no Acre por causa do envolvimento com o sindicato.
Em novembro de 2007, 561
pessoas faziam parte do programa no país. Segundo a secretaria, entre 1998 e 2006, foram atendidas 2.265 pessoas
-74% delas foram desligadas
por não correrem mais riscos, e
16%, excluídas por rejeitarem
normas. Não há registro de
mortes entre eles no período.
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