São Paulo, segunda-feira, 21 de setembro de 2009

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Polícia liga Universal a doleiros do Banestado

Segundo a PF, empresa nas Ilhas Caymam recebeu recursos por sistema clandestino

Ao menos US$ 1,8 milhão foram para conta aberta em Nova York; dias depois, dinheiro retornava ao Brasil por operação de câmbio

RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma empresa sediada nas Ilhas Cayman e ligada à Igreja Universal do Reino de Deus, a Cableinvest, recebeu no exterior recursos de doleiros envolvidos no escândalo da Beacon Hill. Segundo a Polícia Federal, eles utilizaram um sistema clandestino de remessa de recursos (dólar-cabo) que foge ao controle do Banco Central.
A BHSC (Beacon Hill Service Corporation) encerrou suas atividades em 2003 por pressão do governo dos EUA, sob acusação de retransmissão ilegal de fundos superiores a US$ 3,2 bilhões. De acordo com a investigação americana, ao gerenciar contas abertas em nome de empresas offshore, a BHSC ocultava os donos do dinheiro e dava margem a sonegação fiscal e evasão de divisas.
Segundo registros da empresa, ao menos US$ 1,8 milhão saíram, entre 1997 e 1998, da conta "Titia" -gerida por doleiros brasileiros como uma subconta da BHSC no banco Chase Manhattan- para uma conta aberta em nome da Cableinvest Limited no Royal Bank of Scotland (Nova York).
Boa parte desses recursos voltou, dias depois, para o Brasil. A Cableinvest realizou empréstimos para a Unimetro Empreendimentos na forma de operações de câmbio para aumento de capital. O dinheiro que circulava por doleiros retornava, assim, com origem "limpa" para o Brasil.
A Cableinvest e a Unimetro são algumas das empresas apontadas pelo Ministério Público de São Paulo como peças da suposta engenharia pela qual a igreja "desvia recursos arrecadados junto aos fiéis".
Segundo os promotores que protocolaram a denúncia, "para justificar a origem do dinheiro utilizado na compra de empresas de comunicação, os denunciados [da igreja] simulam empréstimos das empresas Investholding Limited e Cableinvest Limited". A Cableinvest foi fundada por líderes da igreja, incluindo o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ). O senador se desligou da empresa em 1999, um ano após as transações terem sido detectadas.
A conta "Titia" era controlada por três doleiros brasileiros - dois foram presos em 2004 pela PF na Operação Farol da Colina: Flávio Lamas Marques e Valdir Guimarães, indiciados na CPI do Banestado.

STF
A investigação americana sobre a Beacon Hill foi iniciada a partir das descobertas da PF brasileira no escândalo do banco Banestado. Alertado pela PF brasileira, o promotor americano Robert Morgenthau desencadeou uma operação contra lavagem de dinheiro, que levou ao lacre da BHSC em 2003.
Em 2004, a PF brasileira desencadeou a Operação Farol da Colina. A investigação originou centenas de inquéritos em todo o país, nos quais mais de 2.000 pessoas e empresas ficaram sob investigação. O caso da conta "Titia" resultou na abertura de um inquérito no Rio de Janeiro, ainda hoje em andamento.
Nessa mesma época, tramitava outro inquérito na PF do Rio e que também tratava da empresa Cableinvest e de outra
relacionada à Universal, a In
vestholding. O inquérito fora aberto em 1999 para "apurar a responsabilidade penal dos diretores" das duas empresas "na prática dos crimes de evasão de divisas, manutenção de cotas no exterior sem conhecimento da autoridade federal competente e sonegação fiscal".
Como Crivella tinha foro especial, o caso foi ao STF. Em 2003, o então procurador-geral da República, Claudio Fonteles, escreveu não haver dúvidas da ligação do senador com as empresas Investholding e Cableinvest. Três anos depois, o novo procurador-geral da República, Antonio Fernando Barros e Silva de Souza, pediu o arquivamento do inquérito.
O pedido, acolhido pelo ministro Ricardo Lewandowski, não tratou das remessas entre 1997 e 1998, mas de outra denúncia, anterior às movimentações da conta "Titia".


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