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EDUCAÇÃO
Avanços na educação não aproximam pobres de ricos
População mais pobre está estudando mais, só que os mais
ricos não estão parados e, por isso, também avançam, fazendo
com que a estrutura de desigualdade da sociedade brasileira,
quando se compara a escolaridade, permaneça inalterada
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Os avanços na educação na gestão de FHC, reconhecidos até
mesmo por seus adversários, ainda não foram capazes de alterar a
estrutura de desigualdade da sociedade brasileira, quando se
compara a escolaridade média de
ricos e pobres.
Dados tabulados a pedido da
Folha pelos técnicos do IBGE Dolores Kappel e Ennio Mello mostram que a distância entre ricos e
pobres não sofreu grandes alterações no período.
Em 1995, um brasileiro com
mais de 10 anos de idade que fazia
parte dos 20% mais ricos da população tinha, em média, seis
anos a mais de estudo do que um
brasileiro que se encontrava entre
os 20% mais pobres. Em 1999
(ano mais recente em que é possível fazer esse cálculo), essa diferença ficou quase inalterada: 5,9
anos de estudo separavam os
mais ricos dos mais pobres.
Isso se explica porque em todas
as faixas de renda houve avanços
no período. A população mais pobre está estudando mais, só que os
mais ricos não estão parados e,
por isso, também avançam, fazendo com que a distância permaneça inalterada.
O perfil do estudante universitário no Brasil antes e depois de
FHC também confirma essa tese.
No caso das universidades, nem
mesmo o aumento significativo
das matrículas foi capaz de alterar
a estrutura da desigualdade.
Nível de ensino
Uma tabela elaborada por Simon Schwartzman, ex-presidente
do IBGE, mostra que, em 1992,
apenas 8,5% dos universitários vinham de famílias que pertencem
aos 50% mais pobres da população. Em 1999, esse índice caiu para 6,9%, ao mesmo tempo em que
a participação dos 10% mais ricos
no setor aumentou de 45,6% para
48%.
Esse pequeno aumento na desigualdade no ensino superior
aconteceu justamente no período
em que houve uma forte expansão desse nível de ensino. De 1992
a 1999, segundo o IBGE, o número de universitários cresceu
76,2%, passando de 1,433 milhão
para 2,525 milhões.
A favor do governo, pode-se argumentar que o ensino superior
era tão elitizado no início da década que nem toda a elite tinha acesso completo a ele.
O ministro da Educação, Paulo
Renato Souza, no cargo desde o
início do governo, admite que
ainda não foi desta vez que a máxima de que pobre não chega à
universidade foi desmentida. Ele
afirma, no entanto, que o atual
governo criou as condições, ao
expandir o ensino médio, para
que essa situação seja alterada.
Ter o ensino médio completo é
condição fundamental para entrar no ensino superior.
"É verdade que os pobres ainda
não chegaram às portas da universidade. Eles começam a chegar
agora. O problema não é que a estrutura de ensino hoje não dê lugar aos pobres. O que acontece é
que só agora eles começam a chegar ao fim do ensino médio", diz
Paulo Renato.
Quanto à desigualdade verificada pela comparação dos anos de
estudo dos mais pobres e dos
mais ricos, o ministro afirma que
ela ainda não diminuiu porque os
avanços verificados no aumento
da escolaridade das crianças mais
pobres não surtem efeito imediato na média de toda a população.
"A mudança na média nacional
de escolaridade da população é
muito mais lenta do que a mudança verificada entre as crianças.
Elas começaram a entrar no ensino fundamental nesse período recente e, ao longo da próxima década, quando já serão adultas, vão
mudar a média de escolaridade da
população brasileira", diz o ministro.
Estoque da população
Schwartzman concorda quando
o ministro diz que os avanços na
educação ainda não surtiram efeito na diminuição da desigualdade, principalmente quando se
analisa toda a população.
"Quando analisamos a escolaridade média, é preciso levar em
conta o estoque da população.
Mais de 80% dos brasileiros de todas as idades estão fora da escola.
Mesmo que você melhore muito a
educação básica, isso vai demorar
até impregnar os indicadores de
toda a população. O mesmo acontece com a questão do analfabetismo. Hoje, estamos fabricando
muito menos analfabetos do que
no passado, mas ainda há muitos
analfabetos", diz Schwartzman.
A imobilidade no que diz respeito à redução da desigualdade,
no entanto, não esconde avanços
da gestão de FHC. Foi no período
em que ele esteve no poder que
houve o maior ganho, em anos de
estudo, na escolaridade da população brasileira desde o governo
do general João Baptista Figueiredo (1979-1985), o último presidente do regime militar.
As Pnads (Pesquisas Nacionais
por Amostra de Domicílios) do
IBGE mostram que, de 1995 (o IBGE não realizou Pnad em 1994) a
1999 (ano mais recente da pesquisa em que há esse dado), a escolaridade média dos brasileiros aumentou de 4,8 anos para 5,41, o
que significa que houve um ganho médio anual de 0,15 ano no
período.
Velocidade
A velocidade desse ganho na escolaridade média da população
no período FHC foi maior do que
a verificada nos governos Collor/
Itamar (0,07 ano de estudo por
ano), Sarney (0,08 ano de estudo
por ano) e Figueiredo (0,08 ano de
estudo por ano).
Além de ter acelerado a escolarização da população, o período de
FHC na educação apresentou
também resultados significativos
na diminuição da desigualdade
quando se analisa apenas a faixa
etária de 7 a 14 anos. Nessa faixa
etária, pela Constituição, o ensino
é obrigatório.
Isso aconteceu por causa da
quase universalização do ensino
fundamental. Segundo a Pnad de
2001, 96,5% das crianças de 7 a 14
anos estudavam no Brasil no ano
passado.
Comparando os anos de 1992
com os de 1999 (ainda não é possível fazer esse cálculo com os dados de 2001), a pesquisa mostra
que diminuiu significativamente
a distância entre os mais ricos e os
mais pobres.
A taxa de escolarização das
crianças que faziam parte dos
20% mais pobres da população
aumentou oito pontos percentuais (de 75% para 93%). Na outra
ponta, a taxa entre as crianças
mais ricas aumentou dois pontos
percentuais, subindo de 97% para
99%.
Creches
Esse avanço significativo não
aconteceu nos demais níveis de
ensino, principalmente nos iniciais e finais. Entre as crianças de 0
a 6 anos, que frequentam creches
e pré-escolas, e entre os estudantes de ensino superior, a distância
entre ricos e pobres não diminuiu.
"Nos outros níveis de ensino, a
renda familiar ainda é um fator
determinante no acesso à escola,
mas houve uma grande diminuição da desigualdade na faixa etária de 7 a 14 anos", afirma a pesquisadora em educação Dolores
Kappel, do IBGE.
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