São Paulo, segunda-feira, 21 de outubro de 2002

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SEGUNDO TURNO

Andrea Matarazzo se afastou da Embaixada em Roma para "dar uma animada na campanha" de José Serra

Diplomata em campanha ganha US$ 9.000

Sérgio Lima - 24.out.01/Folha Imagem
Andrea Matarazzo, embaixador do Brasil em Roma, que integra a campanha do candidato José Serra


ANDRÉA MICHAEL
WLADIMIR GRAMACHO

EM SÃO PAULO
O embaixador do Brasil em Roma, Andrea Matarazzo, receberá pelo menos US$ 9.000 de seu salário de outubro-o equivalente a R$ 34,6 mil- apesar de estar afastado do posto desde 28 de setembro e ter hoje como sua principal atividade em São Paulo a campanha do presidenciável tucano José Serra.
A possibilidade de afastamento do posto "sem ônus" está prevista na lei 7.502, de 1986. A legislação, no entanto, não explicita em que circunstâncias e por quanto tempo o recurso pode ser utilizado. A única exigência é que o titular tenha autorização do Itamaraty.
Também não está explicado em nenhum lugar o que significa "sem ônus". A praxe é conceder ao embaixador o pedido de afastamento, pagar o salário e suspender diárias e passagens.
A Lei Eleitoral diz, em seu artigo 73, que agente público, servidor ou não, não pode prestar serviços a comitês eleitorais, salvo se estiver licenciado.
Quando decidiu se afastar do posto, o embaixador pediu que fosse sem os seus vencimentos de US$ 12 mil mensais (o equivalente a R$ 46,2 mil). Como a legislação não prevê essa possibilidade, o caso foi parar na consultoria jurídica do Itamaraty.
A resposta: o salário mesmo (75% dos US$ 12 mil, ou seja, US$ 9.000) ele tem que receber. Estuda-se, ainda, o que fazer com as verbas de representação (os US$ 3.000 restantes).

Engajado


Segundo informou a assessoria de imprensa do Itamaraty, o afastamento de Matarazzo vai de 28 de setembro a 28 de outubro. A formalização do afastamento ainda não foi publicada no boletim de serviços do Ministério das Relações Exteriores.
O embaixador, no entanto, engajou-se na campanha de Serra antes de se afastar formalmente do posto em Roma.
No início de agosto, quando o então candidato Ciro Gomes (PPS) estava em segundo nas pesquisas, Matarazzo disparou telefonemas para empresários e pediu que se mantivessem fiéis ao tucano, inclusive colaborando com recursos para campanha.
Com bom trânsito entre empresários, o embaixador pediu que esperassem um fato novo, que aconteceria no prazo de dez dias. Na verdade, queria impedir uma revoada de colaboradores para os cofres de Ciro, pelo menos até o início do horário eleitoral, dia 20 de agosto, data estabelecida pelos próprios tucanos para uma virada na campanha.
Na quinta-feira, em entrevista à Folha, Matarazzo negou estar trabalhando na campanha. Disse que está no Brasil por questões pessoais, que se encontrou com Serra uma vez e em nenhuma ocasião com Luiz Fernando Furquim, o tesoureiro do comitê tucano. "Estive com muita gente do PSDB. E, que eu saiba, o PSDB está em campanha", declarou.
No dia 3 de outubro, no entanto, o embaixador afirmou que estava no Brasil para "dar uma animada na campanha". Em julho, Matarazzo, em uma de sua passagens pelo país, participou de pelo menos dois eventos com Serra, em São Paulo, segundo informações da assessoria de imprensa do comitê tucano.

Arrecadador em 98

Em 1998, Matarazzo promoveu jantares com empresários -alguns deles com a presença do presidente Fernando Henrique Cardoso- e participou da equipe de arrecadação mobilizada para a reeleição de FHC.
Uma série de reportagens publicadas pela Folha em novembro de 2000 revelou planilhas de arrecadação utilizadas pelo coordenador da equipe, Luiz Carlos Bresser Pereira, nas quais Matarazzo teria levantado R$ 3 milhões para a campanha de FHC em 1998.
As informações reunidas no conjunto de planilhas revelam que pelo menos R$ 10,12 milhões arrecadados foram para um caixa dois, pois não estão declarados no conjunto de contribuições eleitorais de R$ 43 milhões informado pelo comitê de FHC ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
A pedido do Ministério Público Federal, que investiga o caso, oito arrecadadores de FHC passaram por uma auditoria da Receita Federal e foram chamados a prestar esclarecimentos. Matarazzo está entre eles.
Apesar do empenho, a atuação do embaixador não tem surtido os efeitos para equilibrar as finanças da campanha presidencial tucana. Na segunda-feira, a produtora Bia Aidar, até então responsável pela preparação de todos os eventos dos quais Serra participa, deixou a equipe porque não há dinheiro para cumprir seu contrato.


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