São Paulo, quinta-feira, 21 de outubro de 2004

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CONGRESSO

Nanicos podem formar bloco

Prestígio do PTB causa rebelião de governistas

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As manifestações públicas de prestígio ao PTB e a idéia de ressuscitar o projeto de reeleição das Mesas da Câmara e do Senado abriram ontem no Congresso nova rebelião de governistas contra o Palácio do Planalto.
O motim se deu em duas frentes. O PMDB se aliou à oposição na tentativa de impedir as votações na Câmara. Já os governistas PPS, PSB, PC do B e PV, além do oposicionista PDT -considerados nanicos na Casa-, se reuniram e decidiram manter entendimentos para criar um bloco de atuação na Câmara.
A rebelião do PMDB, que é a segunda maior bancada da Casa, tem o objetivo de evitar que João Paulo Cunha (PT-SP), presidente da Câmara, consiga votar as 15 medidas provisórias que trancam a pauta do plenário e, com isso, possa colocar em votação no começo de novembro a emenda que permitiria a sua reeleição e a de José Sarney (PMDB-AP), presidente do Senado. O mandato dos dois no comando do Congresso terminam em fevereiro.
Apesar de ser do PMDB, Sarney tem levado a pior na disputa interna com Renan Calheiros (AL), líder da bancada no Senado, que quer suceder Sarney e ser o próximo presidente do Congresso.
A Câmara tentou por mais de quatro horas, mas não conseguiu votar nada. Na tentativa de votar, João Paulo chegou a inviabilizar uma sessão do Congresso que aprovaria mais de R$ 2 bilhões em créditos para pagamento de pessoal do Executivo e para investimentos na área de educação.
"Pedi a ele 15 minutos de folga, mas, surpreendentemente, ele foi seco comigo. Disse a ele que os créditos eram importantes ao país, mas ele disse que a votação na Câmara também era", afirmou o senador Fernando Bezerra (PTB-RN), líder do governo no Congresso.
A sessão do Congresso não ocorreu porque não é permitido, pelo regimento, que ela funcione simultaneamente à sessão da Câmara. Bezerra pediu a João Paulo uma pausa na sessão da Câmara, às 20h, mas não obteve sucesso.

Insatisfação
O bloco que pode ser criado com a união dos "nanicos" governistas, além do PDT, formaria um grupo de 69 deputados, o que representaria a terceira maior força da Casa, atrás só do PMDB (77 deputados) e do PT (90 deputados).
"Queremos que a densidade das nossas bancadas, unidas, nos dê força para pautar, discutir. Se ficarmos pulverizados, não vamos a lugar nenhum", afirmou o deputado Júlio Delgado (MG), líder da bancada do PPS. O primeiro evento conjunto das legendas será a realização de um seminário de infra-estrutura em dezembro.
Tanto o bloco de "nanicos" que pode ser criado quanto o PMDB elegem o "tratamento privilegiado" ao PTB como um dos motivo de suas ações. O PMDB reclama que é baixo o volume de pagamento, pelo governo, das emendas que os parlamentares fazem ao orçamento, diferentemente do que estaria ocorrendo com o PTB.
O presidente dessa legenda, Roberto Jefferson, jantou na semana passada com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com o ministro José Dirceu. No encontro, Lula e Dirceu deram aval a Jefferson para que ele continue a atrair deputados, senadores e governadores para a legenda.
Os peemedebistas chegaram a redigir um documento desautorizando os ministros da legenda, que não representariam os deputados do PMDB. O texto teria a assinatura de 37 dos 77 deputados e fazia críticas principalmente a Eunício Oliveira (Comunicações).
As articulações anti-reeleição no Congresso foram feitas em um almoço na casa do senador Ney Suassuna (PMDB-PB). Entre outros, participaram do encontro o presidente do partido, Michel Temer, Calheiros, e o líder na Câmara, José Borba. (RB E FK)


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